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Coluna do Novo Jornal – 076 – O leitor da P&C – 04.02.2012

março 1, 2012

Gostei dessa. Espero que vocês também gostem.

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O leitor da P&C

Todos nós somos peças de uma enorme engrenagem. A nossa função é comparecer a locais públicos, clareiras existenciais, enormes espaços abertos de consciência coletiva onde nos exibimos para sermos cuidadosamente observados pelos instrumentos de opressão e controle social. Para não ficarmos parados numa sufocante vigília do nada que poderia afastar os espíritos mais inquietos, somos orientados a nos movermos constantemente, em filas indianas, conduzindo numeroso contingente humano num fluxo e refluxo de pessoas, seguindo verdadeiras correntes marítimas de atitudes e pensamentos aprovados pelos que nos observam do alto. Dessa forma organizada a sociedade nos transforma em indivíduos úteis aos seus propósitos. A essa eterna peregrinação cíclica e vigiada de perto pelas autoridades damos o nome de rotina.

Vez por outra, nos sentimos desnoretados pela incessante repetição e buscamos fugas eventuais que se equipara à atitude sub-reptícia dos mamíferos marinhos de vir à tona para respirar. Há ainda a possibilidade de agregarmos ao dia-a-dia, refúgios particulares que servem para nos fornecer o fôlego necessário para a árdua tarefa de todo dia fazer tudo sempre igual. Tais refúgios são como recantos secretos onde reabastecemos e passamos óleo nas articulações a fim de aguentarmos o tranco da rotina, dos espaços abertos, das correntes circulares, da memetização da vida.

Para mim, um desses refúgios é a padaria perto de casa, aonde passo todos os dias para tomar um espresso capaz de conectar os circuitos de energia e, a partir de descargas elétricas nas sinapses neuronais, canalizar toda a minha força de trabalho em direção às mais diversas realizações. A ida à padaria é uma artimanha, uma pequena fuga, trapaça inofensiva, mas providencial, no percurso diário do cumprimento dos meus deveres sociais. Aproveito para anotar na agenda os compromissos do dia e, quando o tempo permite, leio algumas páginas de algum livro, mais uma concessão que me protege do rotineiro relento.

Um dia, quando eu estava percorrendo alguns parágrafos com o olhar, o homem que servia meu café perguntou: “Você gosta de ler? Eu também. Estou sempre lendo algum livro.” Curioso e intrigado com o fato de um hábito tão enobrecedor fazer parte da rotina daquele homem simples, perguntei o que ele mais gostava de ler: “Gosto de contos e crônicas. Acho massa.” Fiquei animado com a descoberta de um inesperado cúmplice,autor confesso de crime de lesa-ignorância, um transgressor que, oculto entre pães, lanches requintados e xícaras fumegantes, após suas jornadas diárias de atender e servir toda uma infinidade de clientes que acorrem à padaria, recolhe-se a seu próprio refúgio particular, encontrando nas páginas dos livros de contos ou crônicas que lê, o esconderijo perfeito, distante dos olhos curiosos do mundo que o veem com suas retinas de um grande irmão lobotomizado.

O leitor da P&C proporcionou à leitura que aderisse ao seu cotidiano, trazendo livros pra dentro de sua vida, compondo a grande miscelânea de objetos comuns presentes em nosso dia-a-dia, porque os compreendeu como um insubstituível e inestimável fonte de lazer. Ao fazê-lo, seu fascínio foi tamanho que resolveu abrir um sebo no bairro de Mãe Luíza, onde reside, na tentativa de disseminar aos demais todo um mundo que aquelas páginas têm para revelar. Apesar da sua persistência e dedicação, frutos de abnegado entusiasmo, a empreitada mostrou-se pouco promissora e o sebo precisou fechar as portas. Não dava para cultivar orquídeas em terreno desértico. No entanto, sua desistência não é definitiva. Trata-se apenas de um passo atrás estratégico, uma pausa para descanso e, no futuro, com as baterias restabelecidas, seguir em frente com seu projeto de difundir o gosto pela leitura, o prazer de apreender palavras dispostas uma após a outra com coerência e criatividade, à comunidade de Mãe Luíza.

O leitor da P&C, que se chama Jorge, é um símbolo de que podemos sonhar com uma sociedade melhor, mais culta e bem educada. Se um homem adulto de origem humilde, vida simples busca voluntariamente a virtude contida na literatura, o que dizer daqueles que forem estimulados?

Por hora, segue lendo, sempre que o papel de trabalhador dedicado permite, ele se refugia na leitura. Basta a sociedade e os instrumentos de controle e opressão baixarem a guarda, para que ele pratique o hábito que o torna tão distinto da maioria. A leitura nos concede um pouco mais de dignidade nessa existência, por vezes turva, insípida e sem graça. Fujamos, pois. Enquanto houver leitores, haverá esperança.

Coluna do Novo Jornal – 073 – Top 5 Cinema 2011 – 14.01.2012

fevereiro 27, 2012

Passei uns dias sem atualizar o blogue, pois estava viajando. Um mini-recesso aproveitando o carnaval. Porém, hoje na retomada, um dia após o Oscar, por coincidência, a postagem se refere aos 5 melhores filmes que vi em 2011 (não necessariamente produzidos em 2011, mas vistos por mim durante o ano).

Espero que gostem das dicas.

Abralhos.

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Top 5 Cinema 2011

Em 2011, algumas gratas surpresas saltaram aos olhos deste espectador distraído e cinéfilo amador. Graças a isto, a lista de 5 melhores filmes do ano, que elaboro a cada troca de calendário, me deixou muito satisfeito, como há muito não ficava. Vamos à relação.

 

Meia noite em Paris

Woody Allen na sua melhor forma, divertindo, encantando e surpreendendo em igual medida. Vejo cada filme do cineasta nova-iorquino com grande interesse e entusiasmo renovado, mesmo porque, de “Match Point” (2005) em diante, tenho percebido um sopro de inspiração em suas histórias, como se ele estivesse sempre se atualizando, aplicando roupagens mais atuais a sua conhecida genialidade criativa. “Meia noite em Paris”, porém, superou ainda mais as sempre positivas expectativas em torno do judeu nervosinho. Ao transformar personagens icônicos da cultura mundial em interlocutores do protagonista interpretado por Owen Wilson, numa Paris boêmia e romântica dos anos 1920, o diretor joga o anzol da criatividade contida numa ótima história, fisgando direitinho o público e convertendo este nos seu filme mais bem sucedido desde dos últimos 40 anos. De quebra, o elenco está repleto de coadjuvantes de luxo, muitos ganhadores do Oscar, como Cristopher Waltz, Adrien Brodie, Marion Cotillard e Kathy Bates.

 

Senna

Uma equipe de produção inglesa resolveu fazer este documentário, contando a vida de um dos maiores ídolos do esporte mundial. O Ayrton que se revela na tela é um verdadeiro herói, não por causa das incríveis habilidades na pista, mas por suas características mais humanas. A obstinação, o carisma, personalidade forte e a simpatia, incomum ao frio e arrogante ambiente da Fórmula 1. Tudo isso mostrado sem a pieguice e patriotada que certamente marcaria uma produção nacional. O fato de a história ser contada a partir de um olhar europeu também permite a utilização de reportagens veiculadas em outros países, saindo um pouco do eixo GalvãoBueno-ReginaldoLeme, além de serem exibidas também imagens de bastidores inéditas, conferindo um tempero extra à história.

Outro ponto alto do filme é a contextualização do papel de um cidadão como Ayrton Senna no Brasil da virada dos anos 1980 para os 1990 (eras Sarney e Collor), amplificando mais ainda a idolatria de um povo em torno do homem que se fez mito, do rico que tinha todos os motivos para se envergonhar do seu país, mas preferiu trilhar o caminho mais difícil: o de não apenas de sentir orgulho, mas de irradiá-lo a todo um povo pobre e sofrido, provocando também a admiração por parte do mundo numa época muito anterior aos promissores tempos atuais.

 

X-Men – Primeira Classe

Vivemos um período de transição no mercado cinematográfico. A crise desencadeada pela democratização ao acesso de filmes ou mesmo pela pirataria, situação idêntica à que ocorreu com a falida indústria fonográfica, assola os estúdios, vitimando primeiro a capacidade inventiva dos filmes e, por consequência, a qualidade do que é levado às salas de projeção. A insegurança dos executivos e investidores tiraram o a ousadia da ordem do dia hollywodiano, levando os produtores a jogarem escancaradamente na retranca. Daí a tendência irrefreável às adaptações e refilmagens. Tudo o que fez sucesso em outra mídia (livros, quadrinhos, TV, videogames) pode virar filme, assim como todos os filmes que obtiveram êxito em tempos remotos (ou nem tanto) têm chance de serem refeitos em meio à seca imaginativa que assola os grandes estúdios.

Um dos expedientes mais utilizados é o das continuações ou filmes de origem, como o “X-men: Primeira Classe” que conta o início de uma das franquias de heróis mais bem sucedidas do cinema. Um grande acerto da produção é o respeito ao legado do que já havia sido realizado até então na grande tela para estes personagens. Ao manter a coerência com tudo o que foi contado no cinema até agora sobre os mutantes o filme ganhou pontos com os fãs e, por seguir uma tendência dos estúdios Marvel de priorizar os bons roteiros, alcançou um enorme êxito de bilheteria. O início dos X-Men, a antiguidade da amizade entre Charles Xavier e Magneto, a descoberta dos primeiros mutantes e uma trama cuidadosamente amarrada com a época em que se passa: o auge da Guerra Fria. “X-Men: Primeira Classe” foi uma das grandes surpresas do ano, lançado com desconfiança após os dois filmes anteriores na franquia ( “X-Men 3” e “X-Men Origens: Wolverine”) apenas bonzinhos. Como o filme se mostrou muito bom, o bom e velho boca-a-boca, que tem seu poder amplificado pelas redes sociais, fez o resto. O resultado foi sucesso de público e crítica e a consagração do intérprete do jovem Magneto: Michael Fassbender.

 

Capitalismo, uma história de amor

Como funciona o mercado financeiro? O que aconteceu, realmente, na crise de 2007/2008? Como agem as grandes empresas na condução dos seus negócios e, por consequência, das vidas de milhões de pessoas? Até que ponto uma grande corporação é capaz de ir para obter lucro? Todas essas perguntas serviram de ponto de partida para o norte-americano Michael Moore mostrar o lado mais insaciável do sistema capitalista.

A despeito da ironia do título, o que se vê nos relatos obtidos pelo documentarista, bem como nas histórias de vida mostradas na tela, são retratos desoladores da sociedade de consumo que construímos de forma, aparentemente, irreversível, na qual não se pensa duas vezes em destruir as vidas de pessoas, desde que se assegurem alguns décimos a mais no balanço do mês. Também está permitido lucrar com a morte de pais de família por meio de um curioso sistema de seguros de vida, ou mesmo destruir o patrimônio de milhares de cidadãos ao incentivá-los a pegar empréstimos que não vão poder pagar, com a conivência, incentivo e respaldo do Governo.

“Capitalismo, uma história de amor” promove uma reflexão acerca de um sistema predatório que pode (e deve) ser ajustado para promover o bem de um número muito maior de indivíduos, revelando ainda o tipo de atitude gananciosa, egoísta e sem escrúpulos com que o topo da pirâmide oprime sua base. Um belo filme: elucidativo e divertido ao melhor estilo Michael Moore.

 

Planeta dos macacos – A origem

Numa quarta-feira à tarde da minha infância, liguei a TV para ver o filme da sessão da tarde global. Quando os créditos iniciais anunciaram “O Planeta dos Macacos”, meus sentidos vibraram num misto de curiosidade e excitação para, em seguida,  todo um novo mundo se revelar diante de mim. A história de um grupo de astronautas que viaja para o futuro e se depara com um planeta em que os macacos dominam e os homens são seus inferiores na cadeia evolutiva encantou aquele garoto viciado em desenhos, quadrinhos e filmes legais. Depois disso, revi o filme muitas vezes ao longo dos anos, li a respeito e compreendi sua real dimensão e valor como clássico da sétima arte.

Detestei a refilmagem de Tim Burton de 2001. Por isso, e também em nome da prudência, desconfiei deste filme de origem símio. Minha resistência começou a fraquejar quando saiu o trailer. Logo, percebi que algo muito bom se anunciava. Quando conferi o filme, fiquei muito feliz com a produção, que faz justiça à original da década de 1960. A história de César e sua trajetória até se tornar líder são contadas de forma magistral.

 

5 filmes que valeram a pena ver em 2011.

5 dicas pra você.

Coluna do Novo Jornal – 072 – Top 5 Literatura 2011 – 07.01.2012

fevereiro 17, 2012

No início de 2012, como em outros anos, fiz uma retrospectiva das melhores leituras de 2011.

Boa(s) leitura(s).

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Top 5 Literatura 2011

Todo o fim de ano (pelo menos, quando lembro) faço uma lista dos 5 melhores livros que li nos 12 meses anteriores e compartilho com os amigos e leitores. Logo abaixo, seguem os 5 eleitos de 2011. Recomendo.

 

Tanto faz – Reinaldo Moraes

Há muito ouvia falar do verborrágico romance de Reinaldo Moraes, contando as peripécias europeias do seu dândi protagonista, Ricardo de Mello, o Ricardinho, que vai a Paris cursar uma pós-graduação em farra, bebedeira e sacanagem. Lançado pela primeira vez em 1981, agora foi relançado, 30 anos depois, pelo nascente selo “Má Companhia” da “Cia das Letras”. Em face dos temas abordados, fica difícil de acreditar que alguém consiga desenvolver uma história assim com o mínimo de elegância e estilo. Pois bem, é exatamente aí que reside o grande mérito desta obra, considerada um clássico da contracultura brasileira dos anos 1980. Reinaldo beira à genialidade ao conseguir provocar o mais genuíno encantamento nos leitores, mesmo com as páginas embebidas em álcool e toda sorte de entorpecentes, impregnadas de sexo, sujas de vômito e embaladas em insistente vagabundagem.

Alguns trechos do texto são antológicos, como os que Ricardinho, aspirante a escritor que tenta escrever um romance a partir do oportuno exílio voluntário na capital francesa, discorre sobre a atividade a que tenta se dedicar: “Escritor é um bicho essencialmente vaidoso. Se não, não seria escritor. Escritor prefere ser amado a ser entendido. Daí o primado do estilo sobre o conteúdo. Ou pior: do estilo como conteúdo.” Em outro momento, ele conclui: “Acho que a gente (que escreve) só conquista um estilo próprio quando começa a ser influenciado por si mesmo.”

A verdade é que o protagonista não consegue avançar muito com seu livro em razão de passar metade do tempo se drogando e a outra metade comendo (ou tentando comer) alguém. O que ele produz bastante são reflexões acerca do comportamento humano, das relações homem-mulher e das suaves artimanhas do flerte: “Sylvana é das companhias solitárias, jogo rápido. Ninguém passa muito tempo esquentando seus lençóis.” ou “Era um marmanjo manjado e manjador, feliz proprietário de uma carcaça enxuta de trintanos e de uma charmosa simpatia transoceânica. Enrubesceu feito um adolescente pilhado em flagrante e delito de ser boa pinta.” Em uma de suas antológicas tiradas, o narrador se sai com essa: “Brasileiro só aceita a solidão na privada ou no caixão.”

Confesso que, para um grifador e anotador compulsivo como eu, vencer as páginas de “Tanto faz” tornou-se uma tarefa mais lenta que o habitual, muitas eram as paradas que eu impunha à leitura para tomar nota das inúmeras frases dignas de registro. No entanto, até que o vagar prolongou esta sensação tão prazerosa. Faz-se mais do que justo que eu inicie esta listagem pelo mais assanhado de 2011, um livro que, ao contrário do que sugere o título, não vai deixar nenhum leitor indiferente a sua leitura.

 

Diário da queda – Michel Laub

Um dia, no Twitter, um amigo indicou este livro. Fiquei curioso. Havia terminado outra leitura e estava buscando o próximo. Resolvi seguir a indicação genérica e comprar o recém lançado quinto romance do gaúcho Michel Laub. Foi assim que me deparei com um dos mais inspiradores textos do ano que passou, sobretudo para um aspirante a romancista como eu. O narrador conta a história de um garoto judeu de Porto Alegre cuja vida foi profundamente marcada pela relação fria com o pai e os traumas do avô, um sobrevivente de Auschwitz, e que um dia passa por uma experiência que mudará toda a sua existência dali em diante.

A partir de uma brincadeira de mau gosto contra o único menino não-judeu do colégio hebraico onde estuda, o rapaz vê todas as suas convicções ruírem de súbito. Todos os ensinamentos passados pelo pai (obcecado pelo antissemitismo) e pelo avô tornam-se frágeis diante da inversão de papéis entre opressores e oprimidos que o fatídico episódio provoca em seu entendimento.

“Diário da queda” está em quase todas as listas de melhores do ano a que tive acesso até agora. A primorosa narrativa sobre a vida de um homem, sua família, sua trajetória e como as escolhas que este protagonista fez desde a infância o conduziram a ser o adulto que se tornou deverá arrebanhar boa parte dos prêmios literários no próximo ano. Uma das razões para que este livro nos provoque tão profunda impressão é o fato de ele abordar aspectos cotidianos, presentes na vida de qualquer um de nós, humanos de diferentes berços. Michel aborda traumas de infância, inseguranças arraigadas e como as atitudes do pai (ou mesmo as experiências do avô em Auschiwitz) formaram a complexa equação de uma personalidade. Livraço!

 

O passageiro do fim do dia – Rubens Figueiredo

Este foi mais um livro que me encantou em 2011. É mais que uma simples história narrada na terceira pessoa. É um exemplo nítido dos recursos infinitos que a imaginação concede ao escritor para que este crie uma grande história a partir de qualquer situação, por mais singela que a descrição faça parecer.

 

“O passageiro do fim do dia” fala de uma viagem de ônibus de poucas horas. O transporte parte da região central de uma grande cidade em direção ao subúrbio no qual vive a namorada do protagonista. No caminho, o protagonista, repetidamente descrito como “um distraído”, vai tendo sua história de vida contada a partir de elementos que surgem pelo caminho de uma maneira que conduz o leitor a uma análise crítica das condições de vida das classes menos favorecidas, dos suburbanos e das relações gerais entre opressores e oprimidos. Venceu os prêmios São Paulo de Literatura e o Portugal Telecom.

 

Chabadabadá – Xico Sá

Xico Sá é um sábio escriba do Crato que ganhou o mundo e se tornou cidadão de tantas paragens quantas já tiveram a honra de sua presença. Neste livro de agudas crônicas nos propõe discutir o papel do homem e da mulher numa nova configuração social que já está dando demais na vista. Os medos, as inseguranças, a coragem delas (e a incapacidade deles) de chorar em público, de dizer “eu te amo”, de comprometer-se.  Em suas inúmeras elucubrações, devaneios mil, Xico tenta realizar feitos de Hércules, impossíveis, como o de tentar decifrar os enigmas da mulher. Não chega a muitas conclusões, além do confessado fascínio e reiterada paixão, mas solta uma pérola dos gêneros: “homem é vírgula, mas mulher é ponto final.” O livro é composto de dezenas de pílulas de sapiência ofertadas por este sertanejo cosmopolita, filósofo cearense, oráculo de edificantes e alcoólicas noites, lembrando-nos que “se a vida dói, uísque caubói.”

 

Toda terça – Carola Savedra

Recebi este romance de presente da minha tia Carminha. Ou seja, um livro de procedência inquestionável, uma vez que minha tia é ótima leitora. A autora construiu com incrível habilidade e delicadeza uma história narrada por 3 pessoas distintas, envolvendo-nos em finas tramas de escrita sutil que vão nos empolgando cada vez mais à medida em que os pequenos segredos vão se revelando aos nossos olhos de leitor. Mais não conto, pois posso acabar estragando aspectos decisivos da narrativa. Contudo, completo minha lista de Top 5 Literatura com “Toda terça”, honraria que poderia ter sido dada a “Nunca vai embora” de Chico Mattoso. O páreo foi duro, a escolha difícil. Mas agora, já está feita. Quem estiver à procura de boas leituras para iniciar bem 2012, estas são minhas dicas.

Coluna do Novo Jornal – 068 – Histórias de uma Natal assombrada – 10.12.2011

fevereiro 13, 2012

Escrita originalmente para a Papangu, depois mudei um monte de coisas e publiquei na Digi. Aí, mudei mais ainda e publiquei no Novo Jornal.

Divirtam-se que essa é boa!

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Histórias de uma Natal assombrada.

Dia desses, encontrei um livro que me saltou aos olhos de súbito. Uma obra muito interessante que disserta sobre um capítulo da cultura popular de Natal que me era totalmente desconhecido. O autor é o jornalista e pesquisador Neto Pão com Ovo, filho do eminentíssimo intelectual do passado, Júnior Pão com Ovo. O tema abordado na publicação é a grande incidência de fenômenos sobrenaturais na cidade do sol e se chamava “Histórias de uma Natal Assombrada”.

O volume de elegante edição, capa dura, colada e costurada em couro, ricamente ilustrado e de vasto conteúdo catalogava algumas lendas urbanas surgidas em Natal em décadas recentes. Fui consumido pela leitura de imediato e separei aqui algumas das assombrações descritas no livro como exemplo para que eu possa dividir com vocês um pouco do fascínio que tive ao ter conhecimento destes formidáveis episódios que revelam uma riqueza folclórica interessantíssima.

Vamos às lendas:

 

O FANTASMA DA AFONSO PENA

Em noites de lua cheia e lançamentos de coleções de outono/inverno, um espectro de aparência torpe e maltrapilha vaga pela rua que é sinônimo do luxo e da usura na capital potiguar. Ele sai repetindo seu mantra que é basicamente “um dinheirinho pra eu comer, um dinheirinho pra eu comer, um dinheirinho pra eu comer”, exigindo dos vivos uma pequena parcela da riqueza ostentada. Os especialistas dizem que uma pequena quantidade de dinheiro ofertada pode serenar seus ânimos temporariamente, mas para afastá-lo de vez só com técnicas avançadíssimas chamadas distribuição de renda e oportunidades de vida. O Fantasma, que é definido pelos místicos como uma entidade de pobreza, se refugia no morro de Mãe Luíza e provoca um leve incômodo nos mais abastados da cidade, frequentadores daquela avenida, porém estes e também os políticos natalenses preferem fingir que não o veem (apesar destes últimos acenderem muitas velas para o espectro em época de eleições).

 

O LOBISOMEM DE PONTA NEGRA

Surgiu há alguns anos quando um turista italiano foi mordido por uma menina de 13 primaveras numa noite de entorpecida agitação na orla de Ponta Negra. Desde esse dia, ele assombra a beira-mar do tradicional bairro praiano natalense e a sua assustadora presença uivando ensandecido em noites de lua nova (porque ele prefere as novas) afugentou os moradores nativos. O “Lobisomem Italiano em Natal”, como foi batizado pelos doutores em Ciências Ocultas mais respeitados da capital, só se sente saciado perante a oferta de jovens garotas potiguares para que possa praticar sua cópula interespécies. Para evitar esse monstro de caráter maldito, é preciso nunca sair do caminho seguro, mantendo-se longe de seu território preferencial, a Avenida Beira-mar em Ponta Negra e a rua do antigo Salsa no alto Ponta Negra.

 

A CAVEIRA DE BURRO DA CULTURA

Em 1903, quando se estava construindo o Teatro Alberto Maranhão, que na época seria chamado de Teatro Carlos Gomes, um dos operários de nome Alexandre Bezerra Carvalho enterrou uma caveira de jumento embaixo de uma das colunas que alicerçam o prédio. Ao fazê-lo, decretou: “Nessa terra nenhuma manifestação cultural genuína tocará o coração do povo, nada germinará e frutificará, todo trabalho em prol do desenvolvimento da boa música, literatura, dramaturgia e artes plásticas será em vão. Apenas alguns poucos testemunharão o fracasso desta civilização que verá o tempo avançar sem nunca prosperar, que testemunhará a cidade crescer sem nunca encontrar uma real identidade. Nesta cidade ninguém nunca sentirá orgulho do que é, foi ou poderá vir a ser!” Após dizê-lo, deu uma risada sinistra e partiu para Salvador. A caveira de burro, porém, permaneceu entre nós, emanando seus poderes de atrofiamento cultural, cultivando nos espíritos o comodismo e semeando a má vontade em todas as camadas sociais.

 

OS ZUMBIS DO SOL

Eles se deslocam em grupo, aparentemente a esmo, hipnotizados pelos meios de comunicação de massa que, pos sua vez, são controlados por manipuladores chamados de “formadores de opinião” já que introduzem nas mentes ociosas das criaturas suas próprias vontades, valores morais e normas de comportamento a serem seguidas e adotadas por todos eles. Quando um zumbi começa a frequentar um lugar, utilizar uma roupa ou adotar um padrão de comportamento qualquer “sugerido” pelos “formadores de opinião”, logo é imitado por seus semelhantes que procuram fazer tudo exatamente igual. O aparecimento destas hordas de mortos-vivos em nossa cidade pode ser atribuído ao excesso de exposição solar na moleira, fato altamente perigoso para os miolos que, sem a solidez da boa educação, raciocínio lógico e cultura geral, se revelam demasiado flácidos e vulneráveis à alta temperatura, derretendo docilmente e originando tais aberrações. As maiores concentrações destes débeis monstros caminhantes podem ser vistas em concertos de verão, boates da cidade, além de acorrerem sempre no início de dezembro em desvairada perseguição aos trios elétricos que chegam da Bahia para inebriá-los com um espetáculo de sons, luzes e cores. Foi daí que surgiu o ditado: “Atrás do trio elétrico só vai quem já morreu!”

Já era quase noite quando eu fechei o livro “Histórias de uma Natal Assombrada”. Os relatos que expus aqui são apenas alguns poucos retirados do extenso dicionário de lendas reunidas pelo pesquisador e organizador da obra. Fiquei muito impressionante com tantas fantasias populares natalenses surgidas nas ruas e praias da cidade. Será preciso, a partir de agora, tomar mais cuidado quando andarmos distraídos pelas veias do organismo urbano, pois além da violência crescente dos vivos que ameaça nos converter em mortos, existem também todas essas criaturas do breu a nos aterrorizar com suas artimanhas do além. Eu digo é VÔTS!

Coluna do Novo Jornal – 048 – O filósofo do Crato – 23.07.2011

janeiro 16, 2012

No dia 23 de julho do ano passado, empolgado com a leitura de “Chabadabadá”, cometi esta crônica-exaltação ao livro e homenagem ao imortal e genial Xico Sá.

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O filósofo do Crato

 

Mês passado viajei de férias. Fui conhecer a Grécia de Papandreou. Para entrar em sintonia com o país que nos deu tantos filósofos, decidi absorver toda a sabedoria possível, aproveitando a atmosfera propícia à reflexão e ao aprendizado. Por esta razão, levei na bagagem uma leitura indispensável para quem aprecia a fina flor da filosofia ocidental nordestina. Não nasceu em Creta, mas no Crato. Não tem seu nome associado a sofistas, pré-socráticos (apesar de ser amigo do Dr. Sócrates) ou catedráticos, mas aos astutos e sapientes mestres da vida, surgidos em profusão no interior do Nordeste. Foi na companhia de Xico Sá, por meio da leitura do seu “Chabadabadá” que visitei a terra dos filósofos, oráculos e deuses.

O livro lançado em 2010 nos convida a peregrinar por bares nunca antes navegados, com a lanterna de Diógenes à mão, buscando não apenas um homem honesto, como fez o célebre grego do barril, mas “o” homem. Ou, como sugere o autor, “para usar a acepção mais adequada”, o macho. Segundo o cabalero solitário cearense, o macho está perdido, “no meio do mato sem cachorro ou GPS”. E é justamente a partir das graves avarias no prejudicado senso de orientação masculino que o “Chabadabadá” cunhou seu subtítulo: “Aventuras e desventuras do macho perdido e da fêmea que se acha”. O título foi inspirado na música tema do filme “Um homem e uma mulher” de 1966. Eu, cá do meu canto de leitor atento, deslumbrado mais e mais a cada página, já me pus a refletir sobre o sub do compêndio: existe algo pior para um macho perdido do que uma fêmea que se acha?

O mundo imagético e de ritmo excessivamente acelerado, tem deixado desnorteado o homem com H. Agora, além de todas as preocupações cotidianas inerentes ao cabra hômi (“Seje hômi, cabra!”), se assomam a quantidade de creminhos para as mais remotas partes do corpo, dedicar tempo a compras, seguir tendências, andar na moda, usar marcas de grife, apreciar um bom vinho, enfim, liberar o lado feminino. Xico não é dessa época. Essa “mudernidade” toda o causa estranheza. Prefere um punhado de Minâncora, borrifadas de Leite de Rosas e, apenas nos momentos de máxima delicadeza, uma discreta aplicação de Avanço.

Feito o diagnóstico da precária condição da macheza e a exposição sem precedentes da condição confusa do outrora sexo forte, uma vez denunciado o declínio do “macho jurubeba” perante o metrossexual nascido da costela de David Beckham (e certamente continuado na figura de Cristiano Ronaldo), Xico dá seguimento a sua prosa como se pedisse mais uma dose, de uísque ou cachaça, para refrescar as ideias, pavimentar os caminhos que levam às melhores reflexões, amolecer o juízo ou mesmo deixá-lo mais afiado, tecendo diálogos dignos de Platão, numa filosofia que, se não e sartreana, á Salina, pois vem de Sá, envelhecida em barris de carvalho e aprimorada em botecos mil.

Xico nos propõe discutir o papel do homem e da mulher numa nova configuração social que já está dando demais na vista. Os medos, as inseguranças, a coragem delas (e a incapacidade deles) de chorar em público, de dizer “eu te amo”, de comprometer-se. Condena a frieza e covardia contidos num deplorável “a gente se vê”,toma partido na peleja entre o “cafa que ama e o homem frouxo”. Apregoa uma vida simples, sem frescura, faz favor, como uma neo-dialética sertaneja. Pede a volta da cozinha punk, 3 acordes: arroz, feijão e bife. Lança o “decálogo do homem feio”, sugerindo que se aprove, admire e aproveite cada detalhe das crias de nossas costelas. Roga aos céus o fim da ditadura da mulher magra demais, essa desconfortável, pedindo a volta da “mulher Comfort”, com algumas fofurinhas onde apertar, do abraço mais gostoso, arrematando: “Pelo destravecamento da mulher. Pela mulher Comfort”.

O ombro amigo também é um elemento por demais presente na obra deste hombre de las letras. Oferece o seu para os lamentos de fêmeas amigas, estas habitantes de um inóspito lugar, identificado por ele, chamado “Carencolândia”, por vezes acometidas do que Machado já havia identificado como uma “Queda que as mulheres têm pelos tolos”, sofrendo a ilusão de “agora sim, viver enfim, um grande amor…”, mas deparar-se com o fato de o grande amor ser “…mentira!” Pois, como muitas pequenas descobrem um dia, o amor pode ser com as estações de metrô da Avenida Paulista: “começam no Paraíso e terminam em Consolação”. O cronista também pega emprestado ombros alheios, pedindo audiência e atenção dos velhos e bons garçons, amigos nas piores horas, sempre alertas a nos dizer os resultados do ludopédio e ouvir-nos praguejar contra as desalmadas mulheres de nossas vidas que teimaram em nos abandonar.

Em suas inúmeras elucubrações, devaneios mil, Xico tenta realizar feitos de Hércules, impossíveis, como o de tentar decifrar os enigmas da mulher. Não chega a muitas conclusões, além do confessado fascínio e reiterada paixão, mas solta uma pérola dos gêneros: “homem é vírgula, mas mulher é ponto final.”

Entre tantos modos de homem e modas de mulher, referências as mais pertinentes a verdadeiros bastiões da intelectualidade, de Gilberto Freyre a Pereio, de Buñuel a Thiago de Góes, Xico também discorre sobre nossas miudezas, banalidades corriqueiras que nos ocupam as ideias. Os cachorros na condição de bons ouvintes, as divertidas sessões de cinema no interior (ao melhor estilo “Cinema Paradiso”), a extinção das espirituosas frases de caminhão, dando lugar às espirituais sentenças religiosas, brindando, por fim, com saborosas e inebriantes pílulas de saber. Tais refrescos da sapiência deste sertanejo cosmopolita, filósofo cratense, oráculo de edificantes e alcoólicas noites, servem para nos lembrar, entre muitas outras cousas, que “a vida é breve, a D.R. é longa” e que “se a vida dói, uísque caubói.”

Nos descontos, como naquelas partidas decisivas que entram pra historia, ainda nos brinda com um primor de crônica, intitulada “Bença, mãe.” capaz de amolecer o mais durão dos machos jurubebas, o mais arredio dos homens de cangote grosso. Sensacional, irretocável, arretada. Êta cabra sabido da moléstia! Ave Xico Sá! E cantemos a uma só voz: “Chabadabadá, chabadabadá.”

Coluna do Novo Jornal – 039 – Rios Grandes – 21.05.2011

janeiro 2, 2012

Crônica que escrevi sobre o livro “Diário da queda” de Michle Laub, uma das melhores leituras de 2011.

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Rios Grandes

Esta semana começou com uma reportagem muitíssimo interessante da revista Veja a respeito de uma nova geração de leitores que surge no Brasil e que, ao contrário do que se pensa, aproveita-se do enorme fluxo de informações que circula na Internet para intensificar o prazeroso hábito de ler. Trata-se de uma turma jovem que percebeu o óbvio que ler é importante, não porque é instrutivo, mas porque é uma experiência bastante divertida e que pode ser compartilhada da mesma forma que um filme, uma peça ou um show musical. Grupos de leituras têm se organizado, referências são trocadas entre eles, o índice de leitura e o número de livros per capita no país vêm crescendo exponencialmente com o passar dos anos.  Avanços que ainda não são percebidos aqui na ensolarada capital da árvore de plasma, mas que também deverão ocorrer aqui em breve.

Inicio a coluna de forma esperançosa, pois gostaria de falar mais uma vez de leitura, assim como já o fiz em oportunidades prévias. No entanto, não me refiro ao costume de ler de uma maneira ampla, mas justamente o contrário. Quero falar de leituras recentes que posso indicar aqui neste espaço. Na verdade, mais especificamente de um livro chamado “Diário da queda”, do gaúcho Michel Laub. A narrativa fala de um homem, sua família, sua trajetória e como as escolhas que este protagonista fez desde a tenra infância o conduziram a ser o adulto que se tornou. Enfim, um romance de formação, como definem alguns. Nada de novo ou revolucionário, apenas a mesma história tantas vezes escritas e trazidas a nós em bons ou maus livros. “Encontro Marcado”, “Feliz Ano Velho”, “Mãos de Cavalo” já fizeram isto nas últimas décadas muito bem. Então, o que o livro do Laub tem de notável?

Primeiramente é muitíssimo bem escrito o que, em se tratando de um livro que se pretende bom, é obrigação. O que faz deste lançamento e deste autor em particular algo a se devotar um pouco mais de atenção é a sua origem. Michel Laub é mais um escritor gaúcho que se um notabilizou em um Estado de leitores, projetando-se a partir dele para fazer parte ativa do mercado editorial brasileiro. Percebam a importância disto. O Rio Grande do Sul é um celeiro de bons autores e de numerosos títulos editados. Porém, ao contrário do que pregam alguns, isto não se dá em virtude de uma economia forte, mas de uma consistente política de formação de leitores e de apoio à produção literária local. Eles foram pioneiros nas Leis de Livros, na compra pública que seleciona e distribui em bibliotecas espalhadas por seu território os melhores livros de autores locais, realizam a Jornada Literária de Passo Fundo, o mais impressionante evento do gênero realizado no Brasil. Todo este trabalho bem feito em benefício da população resulta em uma sociedade afeita aos livros, desencadeando uma enorme e irreversível corrente de desenvolvimento.

A história do garotinho judeu que sofre uma forte repressão paterna, que participa de uma brincadeira de péssimo gosto contra o único não-judeu da escola e, em razão disso, tem toda a sua vida influenciada pelo episódio, fala de aspectos cotidianos presentes em suas muitas variações nas vidas de todos nós, humanos de diferentes berços. Michel aborda traumas de infância, inseguranças mil e como as atitudes do pai (ou mesmo as experiências do avô em Auschiwitz) formaram a complexa equação de sua personalidade. Uma história como outra qualquer, que poderia ser contada por um potiguar, mas que calhou de virar publicação pelas mãos de outro riograndense, lá do sul. Mais um membro de uma geração que nos trouxe muitos bons livros e ótimas histórias e que, assim como seu personagem em “Diário da queda” é produto do passado, das leituras de sua infância, do que as pessoas fizeram antes mesmo de ele nascer, dos que criaram e deram continuidade às importantes ações que resultaram neste Estado de leitores, este estado de graça, que é o outro Rio Grande. Tomara que esta política, nós possamos imitar muito em breve. Que o Rio Grande do Norte de Leitores possa surgir num futuro próximo.

Coluna do Novo Jornal – 037 – Quero ser um Intelectual Natalense – 07.05.2011

dezembro 1, 2011

Quero ser um Intelectual Natalense

O escritor carioca Arthur Dapieve afirmou certa vez em crônica que preenchia vários requisitos que poderiam fazer dele um intelectual. Usava óculos, tinha livros publicados, era professor e careca. Fiquei pensando se eu poderia ser um intelectual também. Já publiquei uns livros, tenho meio grau de miopia e sofro de calvície faz tempo. “Só falta agora dar umas aulinhas”, pensei. Mas aí, um amigo mais experimentado me alertou. Em Natal, as regras são bem distintas. Para ser um intelectual natalense eu não precisaria ter nenhuma das características apontadas pelo cronista carioca. Adentrar na sociedade secreta da intelectualidade natalense é uma tarefa das mais complexas e exigiria de mim uma série de renúncias, além de total entrega.

Segundo esse meu amigo, minha primeira ação para me tornar um intelectual natalense seria nenhuma. Isso mesmo: nada. Um intelectual natalense que se preze é reconhecido pela completa inércia. Ele não tem tempo de ficar realizando coisas, trabalhando em prol da cultura, concretizando uma obra para dividir com os conterrâneos. Ele vive ocupado demais se lamentando pelos bares do Beco da Lama, enquanto toma uma meladinha e fala mal de quem surge em seu campo de visão.

É que o Intelectual Natalense é muito mais cerebral que proativo. É um artista que pensa e, por pensar demais, não age. Ele tem sempre as melhores ideias. Tudo de bom que as pessoas realizam, ele já tinha pensado antes. Quando algo dá errado, ele é aquele cara que diz “Eu avisei”. E depois complementa com um: “Se eu fosse fazer isso, seria de uma maneira diferente, muito melhor.”

O Intelectual Natalense reclama dos que fazem alguma coisa e critica vorazmente tudo o que é realizado na área cultural nessa terra de Poti (e de Novo Jornal). Acusa todos de incompetência, se diz vítima de perseguição e chora o fato de nunca ser lembrado, convidado, homenageado, elogiado e saudado.

Um paradoxo facilmente identificável nesse gênio da raça é que, ao mesmo tempo em que mantém um tom crítico e feroz ao comentar o trabalho alheio, demonstra completa inapetência quando é ele o alvo de críticas. Dono de singular intolerância a opiniões minimanente contrárias às suas ou reticentes com relação a sua obra, o Intelectual Natalense não aceita muito bem ser contrariado e parte para uma reação agressiva e infantil que, não raro, desencadeia ataques pessoais do mais alto grau de baixaria.

Ele tenta passar uma imagem de erudição, falando de livros que nunca leu (ou até leu, mas não tem certeza se entendeu) e filmes italianos que nunca viu (ou até viu, mas que elogia, não por ter gostado, mas porque pega bem dizer que gosta mais dos bangue-bangues italianos). Consegue sensibilizar alguns incautos que acabam convencidos que um artista brilhante como aquele mereceria um pouco mais de respeito e reconhecimento.

O Intelectual Natalense tem uma fixação por Câmara Cascudo. Sempre que quer provar uma tese, ele cita o nosso grande autor. Aliás, se utiliza de citações para exalar inteligência até nas conversas mais banais. Como a maioria dos potiguares nunca leu nem a capa de um livro de Cascudo (nem ele), fica fácil manter as aparências. “O grande Câmara Cascudo já dizia: ‘Batatinha quando nasce se esparrama pelo chão’.” E as jovens universitárias com bolsa de crochê e broche do PSOL respondem: “OOOOH!”.

É fácil reconhecer um Intelectual Natalense em locais públicos. Ele mantém sempre um ar sério, circunspecto, ranzinza e mal-humorado. É aquele cineasta sem filmes, dramaturgo sem peças, poeta sem livros e pintor sem quadros que inicia 90% das frases dizendo: “Eu tenho um projeto…”. E termina se justificando: “…mas ninguém nunca se interessou.” De vez em quando, ele respira fundo, esquece do nojo que sente pelo resto da humanidade e profere algumas sentenças amargas à guiza de diálogo. Ele também tem na ponta da língua frases clássicas como “Natal não consagra nem desconsagra ninguém.” Ou ainda a trovinha: “Rio Grande do Norte,/ capital Natal;/ em cada esquina um poeta,/ em cada rua um jornal.”

Se eu quiser me tornar um Intelectual Natalense devo parar imediatamente de publicar livros e começar a escrever poemas ou contos chatíssimos que versem sobre sertão, Boi Bumbá, folclore e a vida simples no interior. Caso eu lance um livro algum dia e, por um acaso, ele não vender nada, não devo reconhecer minha pobreza criativa. Intelectual Natalense não errra e, por isso, não faz mea culpa.

Devo sim botar a culpa nos outros: na mediocridade da população, na insignificância da cidade, na touperice dos jornalistas, na limitação intelectual dos escritores, no descaso das autoridades, na juventude que cultiva interesses menores, na queda da bolsa, na alta do dólar, no cartel dos postos de gasolina. Enfim, a responsabilidade pelo meu fracasso será de qualquer um, menos minha.

Um fracasso no lançamento de um livro, inclusive, será uma ótima oportunidade para arrumar briga com alguém. Pois essa é a maior diversão de um Intelectual Natalense. Como ele não produz nada, não constrói nada e não faz porra nenhuma que não seja criticar os que fazem, sobra-lhe muita energia para ser dispensada em arengas banais que ele transforma em disputas coléricas, embates épicos e duelos mortais. Por isso, preciso urgentemente arrumar um desafeto.

Pronto. Quando eu preencher os requisitos, combinar uma boa dose de arrogância, incompetência, preguiça e despeito, poderei orgulhar-me de finalmente ser um Intelectual Natalense. Serei um homem realizado e convidarei todos vocês para tomar uma meladinha no Beco da Lama para comemorar. Na ocasião, falarei mal de todos os outros mortais que povoarem minha memória e acusarei a sociedade de desrespeito para com a minha magnânima pessoa por não me ter alçado ao posto supremo de Intelectual Natalense antes, uma vez que há muito mereço tal honraria.

Coluna do Novo Jornal – 036 – A cultura do nada – 30.04.2011

novembro 30, 2011

Nesta coluna, propus uma reflexão sobre a completa incompetência da gestão cultural de Micarla de Sousa e como até mesmo isso provoca iniciativas independentes benéficas à cultura local. É claro que não foi essa intenção dos gestores, daí entra um pouco de ironia na história.

Eu mesmo tirei essa foto. Nada mais emblemático.

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A Cultura do Nada

Esta semana surgiu um assunto no Twitter que me deixou muitíssimo preocupado. Não, não tem nada a ver com a porrada que um ex-vereador fanfarrão denunciado pela Operação Impacto levou no piso de luxo do Midway. Refiro-me à aparente intenção da Prefeita Micarla de Sousa em vetar a renúncia Fiscal que possibilita o funcionamento da Lei Djalma Maranhão. E não adianta nem os assessores de comunicação da alcaidessa ou seus muitos Twitters comissionados virem alegar que se trata de “mais um boato conspiratório com a intenção de estabilizar uma administração que, baseada em números, é modelo para o Governo Federal”. Digo isso porque os que comentavam o fato no microblogue eram jornalistas de cultura como Yuno Silva e Isaac Ribeiro (ambos da Tribuna), Sérgio Vilar (Diário de Natal) e Alex de Souza (que já trabalhou aqui no Novo Jornal).

Assim que soube da possibilidade, fiquei justamente indignado com mais uma trapalhada da Borboleta que persiste em meter os pés pelas mãos. Cheguei a pensar comigo mesmo: “Será que ela não dá uma dentro, pobrezinha?” Mas aí, pensei de maneira mais ampla e menos comezinha. Nossa comandante em chefe não está fazendo nada mais que dar continuidade à sua política cultural de geração espontânea. Algo que nos será muito benéfico em longo prazo. Um dia ainda vamos agradecê-la por tudo de bom que está fazendo pelo segmento cultural de Natal ao não fazer nada por ele. Foi ao concluir isto que resolvi me antecipar com esta coluna.

A intenção de Micarla é dificultar ao máximo, criar um ambiente inóspito, deserto, sufocante, impróprio, sem saída, sem apoio, sem nenhuma perspectiva. A ordem é impor um clima de desespero entre artistas e agentes culturais para que, a partir de tanta privação possam surgir iniciativas próprias que alimentem um circuito maior, mais sólido, meritório, permanente e, vejam só que legal!, INDEPENDENTE! Livre das amarras do poder público e das migalhas ofertadas pela boa vontade de algum governante para com a Fundação Capitania das Artes.

Na verdade, o que a filha de Myrian está fazendo é nos conceder a carta de alforria, libertando-nos todos (artistas, realizadores, consumidores de arte) dela e de toda a sua futura linha sucessória. É genial! E merece sim os parabéns. É claro que ela não planejou nada disso. Não enxergo nela inteligência nem qualquer traço de perspicácia necessário para engendrar um plano como estes.

Vocês não devem estar entendo nada. Talvez se perguntem: “Como uma coisa errada dessas pode fazer bem?” Explico. Toda essa sujeição dos artistas e o aspecto de “terra arrasada” fizeram com que muitos engolissem o choro, arregaçassem as mangas e partissem para a ação. As atuações desastrosas de Micarla, Professora Wilma e Iberê provocaram uma fortíssima reação dos agentes culturais da cidade, dispostos a reconstruir suas abaladas estruturas após os tremores e tsunamis morais provocados por aqueles.

Nunca Natal viveu tamanha efervescência. Fruto do crescimento econômico observado nos últimos anos, as pessoas resolveram comprar mais livros, ir mais ao teatro, frequentar mais shows. A saída estava em gerir as iniciativas nascidas com seriedade e competência para cativar um público consumidor crescente. Dessa forma, as pessoas assumiram o papel de financiadores da empreitada e tomaram o lugar das fundações culturais na sustentação deste mercado que surge e cresce por aqui.

Hoje temos diversos lançamentos de livros todas as semanas, quase todos lotados ou bem prestigiados, além de pequenas editoras que começam a se firmar em definitivo. Locais para se ouvir músicas de vários estilos se multiplicam. O fenômeno “Buraco da Catita” é um bom exemplo. De ensaios abertos no meio da rua a um bem estruturado espaço de audição de boa música decorreu pouco mais de 3 anos. A Casa da Ribeira e o Centro Cultural Dosol também têm enorme importância para as novas gerações. A primeira serve de palco para apresentações de excelentes grupos locais, bons shows e ainda foi o berço que projetou o grupo Clowns de Shakespeare para o mundo. O segundo foi o embrião do Festival Dosol, um dos mais importantes e cultuados festivais de música independente do Brasil. Este ano, ambos estão juntos realizando o Circuito Cultural da Ribeira, evento que uma vez por mês povoa o bairro mais boêmio da cidade com apresentações gratuitas de bandas locais e forasteiras.

Há poucos meses foi inaugurado o Teatro Riachuelo, um primor de estrutura fruto da persistência de um empresário bem sucedido. Desde sua abertura, Natal tem recebido uma profusão de músicos e peças teatrais como nunca havia visto. De Lobão a Khrystal, dos Melhores do Mundo a Seu Jorge. E pelo que contam, tem estado sempre lotado.

A multiplicação de alternativas de lazer fez nascer um circuito de bares para fãs de todos os gêneros. A divisão de bares de rock que antes estava limitada ao Gringo’s e mais alguns outros que fechavam pouco depois de abrirem as portas, agora conta com “Jazzy & Rock”, “Casanova Ecobar”, “Hells” e o próprio “Dosol”. Hoje Natal conta com tantas opções que o guia cultural “Solto na Cidade” está mais do que consolidado. É procurado pelos habitantes culturalmente ativos e uma consulta a suas páginas é indispensável para decidir aonde ir a cada quinzena.

Tantos bons trabalhos, tantas realizações se dão graças às idéias de ao trabalho de gente que desistiu de desistir, não quis saber de chorar as pitangas nem lamentar a inoperância de Micarla e seus semelhantes. Caso confirme o veto à renúncia fiscal que possibilita a Lei Djalma Maranhão, nossa Prefeita estará cometendo mais uma de suas trapalhadas, mas pelo menos estará sendo coerente com tudo o que (NÃO) fez até agora. E além de não fazer, acabar com o que funcionava bem antes também faz parte do seu show.

Por tudo isso, considero justo e merecido o agradecimento que faço. Obrigado, Micarla de Sousa. Sua incompetência, inoperância e incapacidade de promover qualquer coisa que se assemelhe a cultura em nossa cidade nos salvou da indolência típica dos artistas, da acomodação que atrofia mentes e inviabiliza projetos.  Você nos salvou de nós mesmos. E nós sempre nos lembraremos disso.

Olá, eu por aqui?

novembro 27, 2011

Faz tempo que não atualizo o blogue, né? Desculpem por isso. É que esse fim de ano tem sido bem corrido pra mim. Em outubro, realizamos a Ação Potiguar de Incentivo à Leitura e a coisa foi tão sensacional e intensa que, ao final, eu estava exausto e num nível de realização tão grande que precisava de um tempo para respirar e retomar as atividades blogueiras. Mas aí, veio a maratona de fim de ano do Comitê Criativo. Mil campanhas para ir ao ar e um volume imenso de trabalho na agência me mantiveram beeeeem ocupado nesses últimos 40 dias que, aliás, passaram voando.

Por isso, já retorno aqui com mais uma novidade: LANÇO LIVROS NOVOS NO DIA 08 DE DEZEMBRO E QUEM NÃO FOR PRO LANÇAMENTO É MULHER DO PADRE!

Serão os livros “Uns contos de Natal” e “Mano Celo de Bolso” (com histórias inéditas). Ambos serão vendidos juntos por apenas R$ 30. Super em conta, hein? 2 LIVROS POR 30 PILAS. Feitos especialmente para serem presenteados nas festinhas de fim de ano e nos amigos secretos mil.

As capas dos danados são essas aí embaixo:

 

A reunião de amigos será no Solar Bela Vista e todos os livros dos Jovens Escribas estarão em promoção especial. Todos por R$ 20. E ainda haverá descontos ainda maiores para quem comprar vários.

A partir desta segunda-feira, voltarei aqui constantemente para falar do lançamento dos livros.

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Também recomeça essa semana a publicação das crônicas do Novo Jornal. Nesta segunda, publico a coluna de número 34, “#GasolinaMaisBarataJá #Será?”

Depois, de terça até sexta tem mais. E será assim até o fim deste ano. De segunda a sexta haverá uma nova crônica publicada no Novo Jornal para a leitura de vocês, seus lindos!

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Aliás, preciso muito agradecer todos vocês, pois enquanto estive ausente, o Blogue alcançou a marca de 100.000 acessos. Muito bom! Mas isso merece uma postagem de agradecimento exclusiva. Ou seja, voltarei ao assunto.

FUI!

FUIALHO!

 

Ação Potiguar de Incentivo à Leitura – Programação

outubro 6, 2011

Amigas e amigos, é com muita satisfação que anunciamos a todos vocês a realização de um antigo desejo dos Jovens Escribas. Neste mês de outubro, com a ajuda de alguns parceiros e patrocinadores, realizaremos a AÇÃO POTIGUAR DE INCENTIVO À LEITURA, evento que levará escritores a escolas, encontrar com estudantes universitários e o público em geral.

 

# ABERTURA OFICIAL – QUARTA-FEIRA – 19.10.2011 – 19h – ASSEMBLEIA LEGISLATIVA – ABERTO AO PÚBLICO 

No dia 19 de outubro, uma quarta-feira, os escritores Nei Leandro de Castro (RN) e Mario Prata (SC) estarão no Auditório Robinson Faria da Assembleia Legislativa falando sobre o prazer da leitura, seus livros, suas carreiras e fazendo o que sabem melhor: contando boas histórias. O evento é GRATUITO e ABERTO AO PÚBLICO.

 

# QUINTA-FEIRA – 20.10.2011 – 18h30 – SICILIANO DO MIDWAY – ABERTO AO PÚBLICO

Na quinta-feira, 20 de outubro, duas animadas mesas de bate-papo falam de narrativas contemporâneas brasileiras. Pablo Capistrano (RN), Patrício Jr.(RN) e Sérgio Fantini (MG), depois Joca Reinners Terron (MT) e Rafael Coutinho (SP) recebem leitores, conversam com o público, assinam seus livros em debates sobre leitura e literatura.

 

# SEXTA-FEIRA – 21.10.2011 – 18h30 – SICILIANO DO MIDWAY – ABERTO AO PÚBLICO

Na sexta-feira, 21 de outubro, às 18h30, Clotilde Tavares, Cláudia Magalhães e Ana Célia Cavalcanti conversam sobre seus livros lançados em 2011. Em seguida, será lançado o livro “Paraíso Perdido” de Cláudia Magalhães.

 

# ENCONTROS COM ESTUDANTES

De segunda à sexta (17 a 21 de outubro), nos períodos da tarde e da manhã, os autores visitarão as escolas estaduais Anísio Texeira e Castro Alves, a Escola Municipal 4º Centenário e o colégio CEI Romualdo Galvão. Também haverá palestras com Nei Leandro no curso de Letras da UnP e de Pablo Capistrano para funcionários da ALE Combustíveis.

# LANÇAMENTOS

Durante o evento, serão lançadas duas publicações de nossa editora. Na quinta-feira à tarde, Nei Leandro de Castro e Mario Prata estarão na Siciliano do Midway, assinando seus livros para leitores. Na sexta-feira, 21, o livro “Paraíso Perdido” de Cláudia Magalhães será lançado na mesma Siciliano do Midway Mall a partir das 18h30. Já no sábado, 22, às 16h, Leonardo Panço (RJ) conta a história do movimento underground carioca dos anos 1990 com o seu “Esporro”.

 

# OFICINA COM O ESCRITOR SÉRGIO FANTINI (MG)

De quarta a sexta-feira, (19 a 21 de outubro) será realizada uma oficina de leitura com o autor mineiro Sérgio Fantini. Com 40 vagas para estudantes universitários. A atividade também é GRATUITA e será realizada na UnP da Floriano Peixoto sempre das 15 às 17h. Os alunos receberão certificados e as inscrições devem ser feitas pelo e-mail jovensescribas@gmail.com . Basta enviarem o nome completo, celular para contato, e-mail pessoal, instituição onde estuda, curso e período.

 

# FESTA DE ENCERRAMENTO

No dia 22 de outubro, sábado, a partir das 16h, no Centro Cultural Dosol, Ribeira, será realizada a festa de encerramento da AÇÃO POTIGUAR DE INCENTIVO À LEITURA com o lançamento de Leonardo Panço e muita música.

 

# LIVRO PARA VOAR

Na noite de abertura na Assembleia Legislativa, bem como nos encontros com estudantes e na festa de encerramento no Dosol, a ALE levará suas estantes do projeto Livro para Voar, transformando estes locais em pontos de libertação e recolhimento de livros. Para saber mais sobre o projeto, acesse www.livroparavoar.com.br

 

# REDES SOCIAIS

As redes sociais serão uma grande plataforma de divulgação do evento, bem como de distribuição de brindes e promoções especiais. Sigam o perfil @jovens_escribas no Twitter e curtam a fanpage /jovensescribas no Facebook. Também sigam os perfis de nossos patrocinadores. A Cabo Telecom, ALE Combustíveis, CEI Romualdo Galvão e Assembleia Legislativa estarão cheias de novidades bacanas relacionadas ao evento.

 

# PÚBLICO

Nos 6 dias de evento, a AÇÃO POTIGUAR DE INCENTIVO À LEITURA deverá atingir um público de mais de 3.000 pessoas, na sua grande maioria estudantes, mas também qualquer pessoa interessada em leitura e em ter um contato mais próximo com alguns dos melhores autores atuais.

Coluna do Novo Jornal – 033 – Somos todos filhos de Gogol – 09.04.2011

setembro 30, 2011

Crônica literária sobre a descoberta tardia de minha parte, de um sensacional.

Boa leitura.

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Somos todos filhos de Gogol

Certa vez fui presenteado com uma antologia de contos chamada “Os 100 melhores contos de humor da literatura universal”. Tratava-se de uma reunião de textos de humor universais. Havia de Millôr Fernandes a Oscar Wilde, passando pela maravilhosa e debochada crônica irlandesa “Manual para fazer churrasco de crianças pobres” de Jonathan Swift. Adorei o regalo. Como bom publicitário que sou, dono de um conhecimento tão abrangente quanto superficial, especialista em porra nenhuma e mestre em me virar nos cinco primeiros minutos de qualquer conversa, poderia ler um texto de cada mestre da literatura bem-humorada mundial e sair por aí dizendo que sei das coisas, que conheço a obra de Fulano de Tal, ou do notável autor Sicrano dos Anzóis, mesmo tendo lido apenas um breve escrito de cada um.

Afinal, basicamente, é isso que os publicitários fazem nas horas vagas. Nós saímos por aí nos vendendo, tentando passar para as pessoas uma imagem vencedora que, nem sempre (ou quase nunca) corresponde à realidade. Em nosso imaginário particular, que tentamos a muito custo, tornar coletivo, somos todos uns Robertos Justus. Se você vir algum dos meus colegas de profissão tentando se passar por entendido de qualquer assunto que não seja propaganda, você estará diante de uma grande farsa. Podemos até saber um pouco de literatura, futebol, cinema, iogurtes achocolatados, automóveis ou neurocirurgia ortodôntica molecular, mas a verdade é que nunca saberemos nada com a real profundidade dos estudiosos e verdadeiros inteligentes.

Digressiono, digressiono. Voltemos agora ao objeto deste texto. Dentre os autores reunidos na antologia de contos, havia um russo (na verdade, ucraniano) chamado Nikolai Gogol. Em minha ignorância publicitária, não o conhecia, óbvio. Porém, o elemento surpresa até que foi bom, pois pude conhecer maravilhado a cada página um escritor muitíssimo à frente do seu tempo que me impressionou pela leveza, a alegria e a naturalidade com que flertava com o absurdo em meio a Czares intolerantes, privação quase que absoluta de bens e alimentos e uma estrutura burocrática pesada privilegiando a imobilidade.

Um dos contos de Gogol contido na coletânea era “O Capote”, a história de um pobre funcionário de repartição, pertencente á mais baixa casta do serviço público russo, que tinha a função de copiar documentos, reescrever com uma bela caligrafia textos redigidos por outros. Seu nome era Kakáki Kakakievitch, vivia na mais autêntica miséria, não dispunha de muita cultura e, por conseguinte, se expressava mal graças a um sofrível vocabulário. Sempre que lhe era oferecida uma oportunidade de melhorar seu status no trabalho, mediante a realização de um trabalho diferente do seu, por mais simples que fosse, recusava-se tremendo de pânico genuíno: “Dê-me algo para copiar. Dê-me algo para copiar.” E dessa forma, escapava de ter que escrever algo de sua própria lavra.

Um dia, o funcionário Kakákievitch decide mandar fazer um capote de fina estampa. Reuniu todas as suas economias e encomendou a melhor peça que suas parcas economias puderam bancar. A partir de então, trajando a recém adquirida indumentária, o funcionário passou a se mostrar mais disposto, dono de um espírito mais alegre, participando inclusive de algumas conversas, coisa que nunca havia feito na vida. Com isso, passou a receber convites que não julgava ser merecedor. O protagonista, apesar de um notório ignorante e desprovido de qualquer carisma ou habilidade social, vê sua vida literalmente mudar devido à nova aparência, algo como alguns ricos natalenses que, mesmo demonstrando incontestáveis demonstrações de burrice e mediocridade, são alvos das mais altas honrarias sociais devido a suas roupas de grife e caros automóveis. Na volta de um dos compromissos sociais para o qual havia sido convidado, Kakáki foi assaltado. Levaram-lhe o capote. Sua vida acaba. Foi definhando, tornando-se silencioso até calar-se definitivamente ao falecer de desgosto. O final fantástico que se segue é tão surpreendente quanto cômico.

Outro conto de Gogol constante na coletânea é “O Nariz”. Este, seguramente, me encantou sobremaneira. A história do assessor de colegiado Kovaliov que uma dada manhã desperta e percebe a falta do… nariz traz tanta galhofa e faz uma sátira tão bem feita aos desmandos e arbitrariedades da burocracia russa, bem como da urgência por patentes e méritos sociais artificiais, que muito me lembrou o demolidor e implacável grupo inglês Monty Python. Ainda mais devido aos recursos narrativos adotados pelo escritor que contou a história do sumiço do nariz sob duas perspectivas: a de quem perdeu e também de quem o encontrou.

É hilariante a forma como o assessor de colegiado Kovaliov, patente civil russa que equivalia ao título militar de major (aliás, o protagonista fazia questão de ser chamado de major) se preocupa muito mais com os prejuízos que a ausência do órgão pode trazer a sua carreira e vida social do que com sua saúde ou flagrante deformação. A maneira cínica com que o homem de meia idade fala de si e do seu estilo de vida parece ter sido escrito por um típico potiguar residente nos melhores condomínios do Plano Palumbo, preocupando-se sempre com o que mais lhe interessa: tudo aquilo que for mais supérfluo. Muito bom.

Meses depois de ler tais contos, encontrei um livrinho chamado “O retrato”. Arrematei no ato e foi graças a este conto que Gogol se tornou definitivamente um dos meus escritores favoritos. A trajetória do pintor que passa de artista promissor a um retratista requisitado na sociedade de São Petesburgo traz o velho dilema do artista que se vende e, por algum dinheiro, joga fora toda uma carreira de excelência dedicada às artes. Tudo isso temperado por uma maldição emanada por um misterioso retrato que o pintor havia comprado e que dá ao conto uma preciosa pitada sobrenatural.

Resolvi escrever sobre o autor ucraniano porque acabei de ler o livro “O Capote e outras histórias”, recém lançado pela Editora 34. A obra conta com 5 contos de Gogol, autor tão importante para a literatura russa do Século 19 que certa vez Dostoievisky afirmou “Somos todos filhos do “Capote”, de Gogol.” Só esta declaração já seria motivo suficiente para lê-lo.

Recomendo a todos aqueles que desejam conhecer um autor clássico com o frescor e a leveza de um bem-humorado texto contemporâneo.

Coluna do Novo Jornal – 032 – Os meninos e meninas do Clowns – 02.04.2011

setembro 28, 2011

Em 2011, uma das coisas mais legais que me aconteceram foi ter recebido um convite para trabalhar com um dos grupos de pessoas que mais admiro na atual conjuntura do mundo como está e do universo como se configura. São as meninas e os meninos do Clowns de Shakespeare, aqueles liiindos.

Bem, pode ser que o trabalho demore mais que o previsto para render frutos, em virtude do enorme sucesso da última peça do grupo, “Sua Incelença Ricardo III” que não pára de receber convites do Brasil e do exterior.

Mas, enquanto a peça não sai, aqui vai pelo menos uma crônica elogiosa (ou babona mesmo. Não vou mentir.) para vocês aproveitarem.

Boa leitura e divirtam-se.

***

Os meninos e meninas do Clowns

Uma coisa que aprendi nos últimos 10 anos de publicidades, jornalismos e literaturas é que a soberba e o mérito dificilmente andam juntos. Já vi muitos homens e mulheres extremamente generosos consigo mesmos, profusos em autoelogios, apaixonados pela imagem que projetavam de si para si e os demais, autores de sinceras e exageradas exaltações aos próprios feitos, mas que no fim das contas não eram lá muito dignos de nota. São os famosos embustes, pastéis de vento, muita espuma e pouco chope. O curioso é que essas mesmas pessoas são extremamente críticas com os outros. Para eles, o inferno sempre são os outros.

Vocês conhecem o tipo. Certamente, apenas durante a leitura do parágrafo anterior, já imaginaram vários “amigos” donos de perfis semelhantes, capazes de sair por aí, de megafone em punho, apregoando o quanto são bons. Pessoas que destroem um pouco a nossa fé na humanidade a cada novo encontro. Levam-nos a refletir o quão perdida está a humanidade e se haveria alguma possibilidade de redenção. E eis que surge a surpresa: há sim.

Tais almas pecadoras serão salvas pelas personalidades opostas a elas, gente de comportamento moderado que, mesmo dotados de enorme talento, donos de uma bela trajetória ou realizadores de um excelente trabalho, preferem manter-se revestidos do véu da humildade, sabedores que são de que um elogio, para vogar mesmo, só se tiver origem alheia. Logo percebi que os mais engajados no estilo “tô com tudo e não tô prosa” não tinham muito que oferecer, enquanto os reais merecedores de loas não sofriam desta aguda carência de atenção. Alguns dos mais admiráveis e brilhantes escritores, artistas e profissionais das mais diversas áreas com quem já estive se revelaram pessoas da mais surpreendente simplicidade. Um paradoxo, certamente, como tantos que norteiam as relações humanas. Tais opostos apenas confirmam a regra geral dos homens ou como escreveu certa vez o cronista Antonio Prata: “o que é a humanidade senão essa eterna oposição de uns contra os outros?”

Fiz esse preâmbulo para falar de uma turma que há muito me encanta e orgulha. Um grupo que transformou a paixão pela arte e o teatro em montagens e apresentações memoráveis que ganharam destaque dentro e fora de casa, conquistando o reconhecimento de autoridades nacionais no assunto. Uma trupe arretada que conquistou a simpatia e confiança de alguns dos melhores dramaturgos nacionais, resultando em parcerias engrandecedoras, intercâmbios edificantes que ajudam a desenvolver a produção local graças ao idealismo e generosidade desses moços e moças. Um coletivo que se orgulha de ser exatamente isso: coletivo e, como tal, acaba semeando ótimas e benéficas iniciativas a muita gente, sejam estudantes de baixa renda, a cena cultural da cidade ou, claro, a todos nós que acompanhamos e vibramos com o seu trabalho.

Refiro-me aos meninos e meninas do Clowns de Shakespeare que vêm empreendendo com visão ampla e profissionalismo e têm colhido justamente os frutos do trabalho. Esta semana, alcançaram mais um feito. Sua peça “Sua Incelença Ricardo III” abriu o tradicional Festival de Teatro de Curitiba.  Peça esta, que tem a direção de Gabriel Vilela, um dos teatrólogos de renome nacional que têm se envolvido com o grupo, redundando em espetáculos inebriantes, hipnóticos, autênticos delírios criativos de alguns jovens loucos.

E tudo começou na escola, exatamente como deveria ocorrer com milhares de outras iniciativas educacionais que poderiam resultar em carreiras, ao despertarem nos estudantes talentos que eles poderiam descobrir graças a atividades extraclasses. Eu, por exemplo, comecei a escrever no jornal da minha escola e vi que era o que gostava de fazer. Infelizmente, a maioria dos estudantes do ensino público do RN não tem as mesmas oportunidades dada a pouca importância que a educação recebe por aqui. Mas voltando aos Clowns, tudo começou no Colégio Objetivo. Incentivados pelo professor de Literatura Marco Aurélio, eles começaram a adaptar clássicos literários para os palcos. Isso, lá pelos anos 90. Um ano depois do início do grupo, já fora da escola, encenaram o primeiro Shakespeare: “Sonho de uma noite de verão”.

No fim dos anos 90, promoveram, junto com outros abnegados agentes culturais locais como Gustavo Wanderley e Henrique Fontes, a construção da Casa da Ribeira com o projeto “Na rua da Casa” (que inclusive se parece um pouco com o “Circuito Ribeira” que ocorre amanhã no mesmo local). Na década seguinte, nos anos 00, veio a conquista definitiva da cidade de Natal, com as peças “Muito barulho por quase nada”, “Fábulas”, “Roda Chico”, “O Casamento” e “O Capitão e a Sereia”. Realizaram também o projeto “Fábulas nas escolas”, levando teatro de qualidade para crianças de colégios estaduais. Além de levar suas peças para excursões pelas cidades interioranas do RN. Tudo isto sem falar no enorme sucesso que têm obtido em temporadas paulistas e apresentações em festivais pelo Brasil.

Nesta nova década, já começaram com tudo. Na minha opinião de espectador e fã, “Sua Incelença Ricardo III” é sua melhor montagem. Aí, voltando ao assunto que principiou este texto, você pode pensar: “Nossa, com tanto elogio e babação de ovo pra cima deles, esses artistas devem ser insuportáveis”. Ah, que ironia, jovens leitores. Não. Eles são a mais doce representação da modéstia. Os meninos e meninas do Clowns não deixaram que o reconhecimento pelo bom trabalho realizado se tornasse um monstro deformador de personalidades. Mantiveram o equilíbrio e não se deixaram embriagar pela insensatez tão comum em nossa society composta de nulidades.

Mês passado, eles nos convidaram (a mim e a Patrício Jr., outro escritor local que criou a Editora Jovens Escribas comigo, Daniel Minchoni e Thiago de Góes) para que nós dois escrevêssemos para eles duas adaptações de “Hamlet” para que eles encenem no segundo semestre deste ano. Após quase engasgar de tanta emoção e corar de embaraço, aceitamos eufóricos a missão. Vai ser muito gratificante adaptar um texto consagrado para que seja encenado por pessoas que têm sido verdadeiros ídolos para nós nos últimos, sei lá, 10 anos. Porém, não será um processo órfão de preparação. Passaremos por oficinas de criação para teatro com alguns autores experimentados. Esperamos não justificar a frase do protagonista do filme argentino “O mesmo amor, a mesma chuva” que, a certa altura da película diz: “Ah, Shakespeare! Quantos textos absurdos foram cometidos em seu nome!” Ou que sejam absurdos os textos, mas pelo menos serão interpretados por esses meninos e meninas de quem gostamos tanto. E, já que eles estão excursionando pelo Brasil, aproveito para desejar boa sorte: MERDA!

Coluna do Novo Jornal – 030 – Egito Ê. – 19.03.2011

setembro 23, 2011

A vinda do escritor Joca Reinners Terron a Natal, em março de 2011, a convite dos Jovens Escribas, me motivou a escrever esta coluna, falando do último romance do autor, “Do fundo do poço se vê a lua”, que havia me deixado absolutamente encantado.

Inclusive, Joca Terron é um dos convidados dos Jovens Escribas para participar da “AÇÃO POTIGUAR DE INCENTIVO À LEITURA” que ocorrerá de 17 a 22 de outubro em Natal-RN.

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Egito Ê

Joca Reinners Terron, do seu quarto de hotel no Cairo, contempla as ruas da capital do Egito.

Nos anos 90, em São Paulo, surgiu uma editora independente chamada “Ciência do Acidente”.

Um excelente nome para uma empreitada do tipo, cuja ousadia e criatividade felizmente não ficaram apenas no batismo. O comandante da empresa era o inquieto e exigente escritor Joca Reiners Terrón que durante alguns anos publicou dezenas de títulos de autores jovens ou que não encontravam espaço nas grandes e tradicionais editoras nacionais. Em seu catálogo, a Ciência do Acidente contava com 3 obras do próprio editor: “Eletroencefalodrama” (poesia), “Não há nada lá.” (romance) e “Animal Anônimo” (poesia).

Não li os livros de Joca Reiners Terrón na época de sua publicação (acabei de ler “Não há nada lá.” esta semana). Naquele tempo da Internet rupestre em que os modens eram movidos à lenha da conexão discada, estas exóticas iguarias da cultura alternativa não chegavam a essa esquina do Brasil com a mesma facilidade de hoje em dia. Ainda não estávamos a poucos cliques de distância de tudo. Longe disso.

Só conheci mesmo o texto do autor no seu romance alucinante (e alucinógeno) “Hotel Hell” lançado em 2003 pela “Livros do Mal”, mais uma iniciativa independente que publicava autores contemporâneos, dessa vez encabeçada pelos gaúchos Daniel Galera e Daniel Pellizari. “Hotel Hell” é até hoje um dos livros mais loucos e surpreendentes que já li. Seus personagens surreais que habitavam aquele universo paralelo, um misto de circo, hotel e cidade, protagonizavam cenas tão incríveis que lembro de ter enumerado diversas possibilidades de drogas que o autor poderia ter consumido ao escrever cada capítulo.

Em 2004, Terrón lançou pela Editora Planeta o livro de contos “Curva de Rio Sujo”. O sítio de jornalismo cultural Revista Catorze resenhou o livro há alguns meses. Quem tiver curiosidade, pode acessar o endereço (www.revistacatorze.com.br). Já em 2006, mais um livro de contos com uma premissa bem interessante: todos os protagonistas enredados em tramas pra lá de intensas eram escritores reais, alguns inclusive vivos. A obra, publicada pela Editora Casa da Palavra, se chama “Sonho interrompido por guilhotina”.

Depois deste livro, o autor passou por um período sem lançar nada. Dedicou-se a trabalhos mais cotidianos como as colaborações que faz a jornais, revistas e ao programa literário Entrelinhas, da TV Cultura. Certamente, utilizou esse período para maturar bem qual seria o próximo trabalho literário. Até que recebeu uma proposta que, à La Famiglia Corleone, não poderia recusar. “Você vai pro Egito, passa um mês no Cairo com todas as despesas pagas, atualiza um blog de lá e, na volta, escreve um romance ambientado na cidade. Ah, sim! Vou lhe pagar uma boa grana por isso.” O responsável por essa oferta do tipo “me belisca pra ver se não tô dormindo!” foi o empresário Rodrigo Texeira, responsável pelo projeto “Amores Expressos”. O projeto enviou 16 escritores para capitais do mundo para que eles desenvolvessem uma história de amor. Em troca do dinheiro por topar participar, Joca cedeu os direitos autorais do texto no caso de uma possível adaptação para o cinema. Um negócio de alto risco para o investidor, mas que, caso dê certo, será bom pra todos os envolvidos.

A experiência do escritor no Cairo resultou no romance “Do fundo do poço se vê a lua” (Cia das Letras, 2010) e arrisco dizer que talvez seja o seu melhor trabalho de todos. Pelo menos, dos 4 que li, é de longe o mais instigante e envolvente. Um texto arrebatador, viciante, desses que você não quer largar até que tenha finalmente concluído a leitura. Enfim, sem meias palavras, é bom pra caralh*! O livro mereceu destaque em quase todos os principais prêmios literários de 2010 e venceu o “Prêmio Machado de Assis” de melhor romance do ano, concedido pela Fundação Biblioteca Nacional, deixando para trás nomes como Edney Silvestre e o irmão da ministra da cultura, como é mesmo o nome dele? Ah, sim: Chico Buarque, claro!

A leitura de “Do fundo poço se vê a lua” proporciona tão genuína empolgação que faz querer sair por aí comentando com os amigos sobre a história engendrada com tanto esmero pelo autor. Como poucos amigos locais tiveram a oportunidade de lê-lo, fiquei só na vontade mesmo. A história dos gêmeos paulistas Wiliam e Wilson, o conflito de serem idênticos por fora e totalmente opostos por dentro, a negação e a fuga da realidade empreendida por um deles, a ida para o Egito, a relação com o conceito de duplicidade inspirada na obra de Edgard Allan Poe, o fascínio pela figura de Cleópatra são ingredientes que foram cuidadosamente acrescentados ao romance, seguindo uma meticulosa receita elaborada pelo ardiloso Joca Terrón, até que resultasse num impecável manjar a ser consumido entre suspiros de satisfação e incontidos sorrisos de saciedade.

Pensei no efeito que este romance poderia causar em naqueles leitores bissextos que estariam só esperando um livro realmente bom, uma publicação definitiva, irresistível, impactante e sedutora para passarem de vez para o lado dos leitores habituais. Esta é a história perfeita para todos eles. A obra é perfeita também para ser consumida por adolescentes do ensino médio, jovens recém ingressos na faculdade e pelo público leitor de natal. Foi então que, há algumas semanas, falei com o autor por meio de seu perfil no Twitter (@jocaterron), perguntando se ele toparia vir a Natal para conversar com alunos de escolas públicas, estudantes de Letras e lançar “Do fundo do poço se vê a lua”.

Como eu e meus colegas dos “Jovens Escribas”, os autores Patrício Jr e Daniel Minchoni, estamos preparando um evento chamado “AÇÃO POTIGUAR DE INCENTIVO À LEITURA” para o fim do ano, com o objetivo de incentivar a leitura entre os jovens, a vinda de Joca serviria como um aquecimento e uma espécie de lançamento da Ação para o público e a imprensa.

E o melhor: Joca Reiners Terrón topou vir. Na próxima segunda (depois de amanhã) vai falar sobre o prazer da leitura com estudantes de escolas estaduais, conversará também com alunos de Letras e estará no Gringo’s Bar, em Ponta Negra, a partir das 20h autografando o livro “Do fundo do poço se vê a lua”, cuja trama é ambientada no Egito. Nada a ver com os protestos do mês passado, mas que, como todo ótimo livro, pode causar uma revolução em sua cabeça.

Ação Potiguar de Incentivo à Leitura – uma inciativa dos Jovens Escribas

setembro 22, 2011

Lançamento “É preciso ter sorte quando se está em guerra.” – Imagens

setembro 16, 2011

Ontem, 15 de setembro de 2011, foi lançado o mais novo livro do autor Pablo Capistrano, o 15º lançado pelos Jovens Escribas. A obra, chamada “É preciso ter sorte quando se está em guerra.” atraiu muitos amigos e leitores de Pablo à livraria Siciliano do Natal Shopping. Logo abaixo, vocês poderão ver alguns momentos do evento.

Pablo Capistrano e o vereador George Câmara

Professor Daladier da Cunha Lima - Reitor da FARN

Pessoal do Natocatem.com.br entrevistam Pablo.

O diretor de cena Anselmo Duarte Jr.

Tirzah Petta e Thiago Lajus. Ele, vestindo Jovens Escribas "Caça-palavras"

Família Capistrano: Antônio, Pablo, Dr. Franklin e Vladimir

Diógenes da Cunha Lima - Presidente da Academia Norte-riograndense de letras

Carol Carvalho veste Jovens Escribas "Caça-palavras"

 

Adriano de Sousa da Editora "Flor do sal"

Henrique Fontes, Pablo, Simona Talma, Quitéria Kelly e Charlote. Henrique veste Jovens Escribas "Sopa de letrinhas".

Carol Carvalho, Nina Barbalho, eu e Luciana Lima. Todos vestindo Jovens Escribas.

Carito Cavalcanti

Yuno Silva

Andrei Gurgel e Danilo Medeiros. Na foto, modelos de camisas Jovens Escribas "Teclas" e "Sopa de letrinhas".

Quitéria Kelly, Simona Talma, Patrício Jr., Márcio Benjamin e Hélber Volpini

 

Fernando Liberato e eu

Deputado Fernando Mineiro recebe seu exemplar autografado...

... e posa para fotografia com o autor.

 

Pablo, Ana Cláudia e a caçula, após a cansativa noite de autógrafos. Semblantes cansados, mas sensação de dever cumprido.