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UMA HISTÓRIA DA JOVENS ESCRIBAS – Parte 02 – Lítio – Cru, polêmico e indigesto.

janeiro 17, 2018

3 Capa Lítio FECHADA

Conheci Patrício Jr. por intermédio de Modrack Freire, o diretor de arte que criou o logotipo da Jovens Escribas. Eles haviam sido dupla de criação em agência de propaganda e agora trabalhavam em empresas distintas. Naquele tempo, tínhamos 23 anos, eu andava pesquisando escritores jovens para tentar formar um coletivo e viabilizar publicações de nossos livros de estreia. Patrício, segundo me havia dito Modrack, tinha escrito um romance. Nos encontramos em um bar muito popular à época segundo o critério do nosso poder aquisitivo: o “Filé Miau”. Era um bar de espetinhos anterior à era da “Gourmetização”.

O livro que Patrício escrevera era um romance. Pelo que descrevia, era uma história bastante instigante, de jovens que passavam tempos difíceis, às voltas com angústias próprias do seu tempo, inseguranças mil e clara tendência à autodestruição. Havia também um envolvimento afetivo entre um casal de protagonistas, além de ter o suicídio como tema constante em toda a narrativa. O título da obra seria “Lítio”, medicamento utilizado por quem apresenta flutuações de humor típicas de transtorno bipolar.

Nos dias seguintes, passei a acessar o blog recém-publicado de Patrício (PLOG) e percebi que, de fato, o autor escrevia muito bem. Se juntássemos o estilo do texto ao enredo que ele havia exposto na mesa do bar, percebi que o tal “Lítio” seria um livraço, perfeito para compor a coleção que se iniciaria com o volume de crônicas “Verão Veraneio”, de minha autoria.

Inscrevi um projeto na Lei Municipal Djalma Maranhão de incentivo à Cultura. A ideia era conseguir financiamento, via renúncia fiscal, para publicar livros de 4 autores, de estilos literários diferentes: crônicas, romance, contos e poesia.

No entanto, percebi que uma das maiores virtudes de quem trabalha com publicação de livros é a paciência. O dinheiro proveniente da lei de incentivo, cujo patrocinador foi a agência Art&C, caía mensalmente, mas demoraria muitos meses para que tivéssemos capital suficiente para produzir algum livro. Nesse meio tempo, acabei publicando meu “verão veraneio” com dinheiro próprio e o de Patrício, que seria o segundo da fila de publicações patrocinadas, veio para a dianteira.

Com o patrocínio caindo em conta-gotas na conta do projeto, o escritor teve que exercitar sua temperança. Para que se tenha uma ideia, “Verão Veraneio” foi publicado com recursos próprios e, por isso, foi lançado em fevereiro de 2004. Já “Lítio”, tendo que esperar a grana da lei, veio ao mundo em dezembro de 2005, quase dois anos depois. Só a captação de verba levou 18 meses para ser concluída. Numa das conversas que tive com Patrício, diante de minha sugestão de que poderia ser uma boa adiar o lançamento para depois do carnaval, argumentando que diminuiria a concorrência com eventos de fim de ano e lançando mão da boa e velha cartada “já esperou até agora, espera um pouco mais”, ele respondeu: “se eu esperar mais, vou acabar botando um ovo”.

O livro saiu em dezembro. O ovo, felizmente, não.

2009 – Imagem 14 – Lançamento Lítio Patrício

Patrício clicado por Drika Silveira.

O tempo de espera, no entanto, acabou sendo positivo por outro motivo. Graças a ele, pudemos elaborar melhor outra iniciativa: a Jovens Escribas. Patrício trouxe bastante energia e empolgação, agregando novos nomes ao nosso grupo em formação. Logo, ele, eu, Minchoni e Thiago de Góes estávamos conhecendo nomes como Márcio Benjamin, Daniel Liberalino, Lucílio Barbosa, Ruy Rocha, Pablo Capistrano e Clotilde Tavares, entre muitos outros nomes que compuseram um coletivo de autores a compartilhar seus assuntos em comum por e-mail. Além das mensagens trocadas num grupo de mensagens (o que hoje seria equivalente a um grupo de WhatsApp), começamos a nos encontrar e nos conhecer pessoalmente. Foi um tempo de muita alegria, descoberta e a sensação de que estávamos iniciando algo importante no cenário cultural local. Muitas tertúlias regadas a cerveja e planos de sucesso, animadas por trocas de referências culturais e literárias. Um tempo feliz em cuja principal motivação daqueles jovens promissores, ainda na primeira metade dos 20 e poucos anos, se baseava na possibilidade de acumular o máximo de leituras possível.

3MegaCam

Uma das primeiras reuniões dos Jovens Escribas originais.

O “Plog”, página mantida por Patrício, revelou-se o ponto de aglutinação da turma, como um veículo oficial a impulsionar e transmitir tudo o que conversávamos na lista de discussão. Tudo foi tentado: um romance coletivo em que cada autor convidado escrevia um capítulo, um diário em que Patrício falava sua opinião sobre cada um de nós, colaborações semanais de outros escritores para o conteúdo do Plog. Lembro que Pilar Fazito, autora mineira que morava em Natal naquele ano era mais uma habituê de nossos encontros e vivia conosco aquele clima de efervescência. Outro forasteiro, Luiz Benevides, do Rio de Janeiro, também acompanhava tudo à distância. E todos nós estávamos absolutamente encantados por Patrício e sua personalidade magnética e agregadora. Eu enxergava nele, assim como em Minchoni, dois potenciais líderes que dividiriam comigo a responsabilidade e os louros da Jovens Escribas comigo.

Voltando ao livro, o diretor de arte que trabalharia nele seria o mesmo de “Verão Veraneio” e do próprio logo da editora, Modrack. A capa (mostrando um personagem sem face) seria clicada novamente por Giovanni Sérgio com tratamento de imagem e montagem realizadas por Fabrício Cavalcante, que no futuro seria a mente por trás da “Camaleão Imagem”.

Com o trabalho do livro em andamento, era hora de elaborar uma campanha de divulgação. O próprio autor se encarregou de criar uma campanha com títulos sagazes fazendo referência à trama do romance, cheios de ironia e bastante adequados à história. O conceito dado por Patrício chamou a atenção. Ele dizia que seu livro era “cru, polêmico e indigesto”, anunciando que ele incomodaria muitos leitores, que veio para mexer com os sentimentos e revirar estômagos mais sensíveis. Em postagens no seu Plog, Patrício complementava os anúncios, descrevendo o quanto dele mesmo estava no texto transformado em obra de estreia. Relatava que trechos inteiros foram escritos com o teclado banhado em lágrimas, ou que muitas de suas angústias, inseguranças e mistérios pessoais embalaram os capítulos da história. Para completar, ele ainda escolhia a dedo os parágrafos que publicava na divulgação, partes que contivessem palavrões ou desabafos verborrágicos e ofensivos do autoconfiante protagonista em momentos de extrema excitação.

Essa atmosfera criada pelo autor atraiu bastante atenção para o livro. Foi algo meio “A Bruxa de Blair”. Muita gente dizendo que não iria querer ler o livro, pois devia conter um conteúdo pesado demais. Outros afirmavam que, apesar de ser um livro “pra chocar”, tinham bastante curiosidade em saber do que se tratava e iriam comprar a obra. Enfim, a campanha estava sendo muito eficaz em mostrar às pessoas que o conteúdo era “cru, polêmico e indigesto”.

As peças foram amplamente divulgadas pela rede mundial de computadores e Patrício usou sua extensa relação de amigos, colegas e conhecidos para potencializar a promoção. Contamos ainda com matérias bem bacanas nos principais veículos da época.

Lítio Capitalismo e Suicídio

Lítio Chacina

Lítio Cinema

Lítio Cicuta

Repetimos algumas estratégias do primeiro lançamento da editora para facilitar a assimilação do público e fidelizar leitores que já haviam ido ao lançamento do meu primeiro livro (“Verão Veraneio”), no ano anterior. Lançamos novamente na AS Livros, no Praia Shopping e contamos com a ajuda dos mesmos formadores de opinião que nos deram força no outro lançamento.

Lítio Cultura

Lítio Herói

Lítio Poço

O lançamento de Patrício contou ainda com um trunfo adicional: como ocorreu numa época em que os Jovens Escribas já estavam mais consolidados como um grupo, tanto eu, como Minchoni e Thiago de Góes divulgamos como pudemos o lançamento de Patrício, convidando nossos amigos a comparecerem com o argumento de que aquele não era apenas o lançamento do livro de um escritor amigo nosso, mas o resultado de um trabalho do qual nós também fazíamos parte. Era como se o livro de Patrício fosse também um pouco nosso.

E deu certo!

Apareceram muitos amigos, não só de Patrício, mas dos outros autores. Patrício ficou lá assinando os livros, enquanto Minchoni e eu fizemos as vezes de anfitriões, recebendo e distraindo os convidados. No fim da noite, um sucesso de vendas. Patrício até que estava feliz, mas se mostrava muito mais nervoso. Sorria amarelo, respondia aos parabéns com um obrigado tímido, não parecia nada à vontade.

Lítio Vilão

Lítio Liminar

Lítio Prozac

Lítio Hoje

Foram vendidos cerca de 70 exemplares da tiragem de 300 que havíamos impresso. Depois do lançamento, fomos tomar umas cervas no Gringo’s Bar. Não esticamos muito, uma vez que trabalhávamos no outro dia. Cheguei em casa e decidi ler o livro com mais atenção, uma vez que na fase de preparação, li apenas alguns trechos principais.

2005 – Imagem 04 – Lançamento Lítio Patrício

Surpresa: o texto polêmico, pesado ou mesmo difícil. Pelo contrário, era fluído, divertido, envolvente, empolgante, trazia elementos metalinguísticos que convertiam o leitor em cúmplice, inseria lembranças e “flashbacks” que nos transportavam até as vidas pregressas dos narradores, nos fazendo embarcar em seus pontos de vista, compreendendo a posição de cada lado da conversa telefônica que conduz a narrativa, trazia ainda um ritmo ficcional quase audiovisual de tão frenético. Era, conforme eu já havia concluído, um livraço.

Cheguei ao trabalho na manhã seguinte e mandei uma mensagem pra Minchoni: “Li 60 páginas do livro de Patrício antes do café-da-manhã”, ao que ele respondeu: “Li 160!”.

O livro não era cru, não era polêmico. E, acima de tudo, não era nada indigesto!

NO PRÓXIMO TEXTO: É TUDO MENTIRA E OS 40 LEIAUTES!

 

UMA HISTÓRIA DA JOVENS ESCRIBAS – Parte 01 – Verão Veraneio – O livro da estação.

janeiro 16, 2018

1 Capa Verão Veraneio FECHADA

Enquanto as conversas com os outros 3 autores caminhavam para o surgimento do selo Jovens Escribas, eu continuei escrevendo crônicas de humor para compor o meu primeiro livro. Já havia decidido qual nome dar à iminente publicação: “Verão Veraneio – Crônicas de uma cidade ensolarada”.

Fui reunindo textos e fazendo, empiricamente, o trabalho de auto-edição que, mal sabia eu, marcaria bastante minha vida dali pra frente. Quando Modrack Freire, diretor de arte que já havia concluído o logotipo do selo, se ofereceu para fazer o livro, começamos a imaginar como poderia ser a capa. Logo criamos uma imagem em nossa tempestade cerebral: a foto de um baldinho de criança à beira mar sendo utilizado para gelar cerveja, unindo a inocência presente na leveza das crônicas com a irreverência do humor também bastante característico nos textos. Na quarta capa, haveria outra foto: uma trave de “mirim” deixada de lado com o chão impecável em torno dela. Como se os jogadores tivessem algo melhor para fazer naquele dia (beber, paquerar, curtir) do que jogar futebol. O fotógrafo convidado a fazer os cliques foi Giovanni Sérgio, mago das lentes, ídolo de longa data.

Giovanni e eu

O fotógrafo Giovanni Sérgio – lindo e competente.

Com a direção de arte, diagramação e fotos garantidas, precisava batalhar agora um nome relevante que topasse assinar as orelhas da obra. Tinha que ser alguém reconhecido na literatura, de forma que o livro chegasse às pessoas com algum respaldo importante. Meu pai, em conversa com François Silvestre, chegou à conclusão que eu poderia procurar Nei Leandro de Castro, uma vez que eram muito amigos desde os tempos em que foram perseguidos e presos pela Ditadura Militar algumas décadas antes. Procuramos Nei que, num primeiro contato por e-mail, disse-me com sinceridade que só escreveria se gostasse do que lesse. Fiquei muito animado com a possibilidade e lhe entreguei o material impresso e encadernado em mãos, numa de suas vindas a Natal, naquele ano de 2003.

Teaser 10 anos - Nei Leandro

Nei Leandro de Castro

Menos de uma semana depois, Nei Leandro me escreveu. Sua mensagem veio repleta de elogios e terminava com sua concordância em escrever a orelha. Em mais alguns dias, o texto estava em minha caixa de entrada de e-mail. Em alguns trechos mais lisonjeiros, Nei dizia o seguinte:

Carlos Fialho me surpreende. Primeiro, por sua precocidade. Segundo, porque as suas crônicas são bem escritas, docemente sacanas, inteligentes, e nos dá a certeza de um escritor, que não há de ficar nos limites da crônica.

Os textos deste livro têm a idade e a linguagem  de um garotão bem resolvido com ele mesmo. Os temas  – gírias regionais, porres, rock, vídeo-game, paqueras, Natal, cinema, carnatais, carnavais, etc. – são tratados com graça e ironia, leveza e fino senso de humor.

Carlos Fialho, cronista, precoce, publicitário, devorador de livros, autor das crônicas deliciosas deste Verão veraneio, vai chegar lá. Esse garoto vai longe.

Além de Nei, procurei um autor adequado para o prefácio. Não precisava ser famoso, mas que tivesse um estilo mordaz e bom humor, de forma a combinar com o conteúdo do livro. Escolhi meu ex-colega de faculdade, George Wilde, que fez um texto preciso, de acordo com o que eu pretendia. Destaco uma pequena parte:

Fialho e George

George Wilde – o homem do prefácio

Ao ler o livro, descobri que dentro de Fialho existe algo grandioso: a sua percepção em relação ao nosso dia a dia. Afinal, poucas pessoas conseguem sair do círculo da rotina para perceber o verdadeiro circo em que vivemos.”

A campanha publicitária foi elaborada com alguns títulos bem humorados, bem ao estilo do livro. A assessoria de imprensa contou com indicações de colegas do curso de Jornalismo da UFRN.

anuncio verissimo

2004 - VV - Anúncio Art&C

Anúncio que a Art&C, agência onde eu trabalhava, fez no dia do lançamento.

Minha primeira entrevista foi concedida a Marcílio Amorim (Jornal de Hoje) e a segunda a Hayssa Pachêco do Diário de Natal. Mas a maior responsável pela divulgação do meu primeiro lançamento não era a imprensa nem a publicidade. Quem promoveu o evento a ponto de transformá-lo em sucesso foi minha mãe, Lurdete.

2004 - VV - JH1 2004 - VV - DN

Quando percebeu que era sério mesmo “essa história de livro”, arregaçou as mangas e telefonou pra cada parente, cada amiga, cada conhecido, reforçando bastante a frequência de presentes na noite de Verão Veraneio. O local escolhido foi a AS Livros do Praia Shopping, uma livraria acolhedora que tinha como gerente Cícero, um cara que dava bastante espaço a autores locais. O saldo da noite foi um estrondoso sucesso (163 livros vendidos) num ambiente preenchido de amigos, parentes e colegas de trabalho. Só a partir do segundo livro, essa frequência seria reforçada por leitores.

foto 27

Minha mãe, Lurdete, a maior promotora de lançamentos de livro que este autor já conheceu.

A noite foi tão agradável que Patrício Jr., que escrevia um blog, publicou uma postagem falando de como fora legal o evento (a qual reproduzo no fim desta publicação). Foi um belo cartão de visitas, indicativo do que estaria por vir num futuro não tão distante e também das possibilidades de crescimento e expansão que o então selo editorial acabaria por aproveitar com o passar dos anos.

2004 - VV

Quanta gente veio ver!

“Verão Veraneio – Crônicas de uma cidade ensolarada” trazia 5 capítulos. No primeiro, “Galado e outras palavras”, havia temáticas mais gerais. Entre elas, alguns textos merecem destaque como “Galado” que me notabilizou em muitos rincões da Internet e “A Loja de Inconveniência” que até hoje se mantém como um dos meus preferidos. No segundo capítulo, “Cruvinel – o bom de bola”, apresento um personagem que me acompanhou com o passar dos anos e que ganhou livro próprio em 2014 (“o nome disso é spin-off”). No terceiro, “Mano Celo”, nascia o protagonista de outro dos meus livros, este de 2009. Em seguida, vinha “Vi e gostei” com crônicas sobre cinema. Para fechar, o capítulo mais legal do livro: “Aconteceu no verão” com as histórias pertinentes ao tal “Verão Veraneio” que dá título ao livro.

E assim foi dado o pontapé inicial para a, hoje decana, editora JOVENS ESCRIBAS.

NO PRÓXIMO TEXTO: LÍTIO – CRU, POLÊMICO E INDIGESTO

***

BÔNUS: POST DE PATRÍCIO NO SEU BLOG PESSOAL – O PLOG

06/02/2004
há vida inteligente
no mercado publicitário

Quem trabalha com publicidade sabe: de tempos em tempos, tem uma “festa do mercado”. Tais eventos, sempre patrocinados por veículos, fornecedores, clientes ou ambos, têm por maior finalidade embebedar todo mundo, calar a boca de quem está perscrutando que o ano foi ruim e, por residual, reunir profissionais para um bate-papo informal. Pois é, parece um paraíso, mas tais “festas do mercado” haviam se tornado um verdadeiro transtorno. Passo o dia todo numa sala falando/fazendo/refazendo/desfazendo/tentando fazer publicidade. A última coisa de que preciso é estender esta missão ao meu happy-hour. Como prova de que nem tudo está perdido, houve esta semana o lançamento do livro de Fialho, “Verão Veraneio”, que não pretendia ser uma “festa de mercado”, mas acabou sendo por reunir exatamente as mesmas carinhas de sempre. O que me surpreendeu foram os temas das conversas. Ninguém, por exemplo, me perguntou “Como é que está la’?”. Ok, tudo bem, uma pessoas me perguntou isto, mas o assunto morreu quando eu respondi “Lá onde?”. Uma pessoa a noite inteira. Nada mal. Em outras “festas de mercado”, a famigerada pergunta “Como é que está lá?” é dita antes mesmo do “Tudo bem, broder?”. Já é, praticamente, sinônimo de oi. No lançamento de “Verão Veraneio”, porém, tudo foi diferente. Fialho conseguiu a façanha de reunir as mesmas pessoas de sempre fazendo, no entanto, com que todas soassem inéditas. Não sei se foi o fato de estarmos todos na AS Livros, rodeados de Dickens e Saramago e Proust e Pessoa e Machado e Camus. Birita? Claro que teve. Buffet? Sim, impecável. Bêbados chatos? Uh, nossa, e como! Mas estava tudo agradabilíssimo, tudo soando como um lançamento deve soar. Os temas conversados iam de autores consagrados a bandas de rock obscuras, sempre com tiradas inteligentes, observações pertinentes, risos na medida certa. Um éden para amantes do bom e velho papo construtivo como eu. Nunca gostei tanto das “pessoas do mercado”. O livro, graças aos céus, vendeu bem. Fialho, coitado, deve estar cheio de bolhas nos dedos de tantas dedicatórias escritas. E eu, exemplar autografado na mão, cheio de riso a caminho do estacionamento, concluí que a melhor das “festas do mercado” que eu já fui na minha vida foi o lançamento do livro do meu bróder. Mesmo que não tenha sido uma “festa de mercado”.

Patrício Jr.

UMA HISTÓRIA DA JOVENS ESCRIBAS – Parte 00 – Não existe escritor jovem!

dezembro 25, 2017
Patrício Mincha Fialho 2006

Patrício, Minchoni e Fialho, jovens e viçosos.

No dia 05 de fevereiro de 2018, a Editora Jovens Escribas completará 14 anos de existência oficial. Tá uma moça, como dizem os mais velhos. Já são mais de 150 títulos publicados, muito aprendizado e inúmeras amizades adquiridas, além de, claro, ótimas histórias pra contar. Bem, comecemos do princípio.

Em fins dos anos 90, eu fazia duas faculdades de Comunicação Social. Pela manhã, fazia Jornalismo na UFRN e, à noite, Publicidade na UnP. Ainda encontrava tempo para estagiar à tarde e, nas horas vagas, para ver filmes, jogos e ler alguns livros legais. Naquele tempo, incentivado pela leitura de crônicas de Luís Fernando Veríssimo, decidi tentar escrever textos curtos e criativos, leves e bem humorados, sobre qualquer assunto, o mundo em geral e o cotidiano em particular. Passei a colaborar com o zine, AZ Revista que revelou grandes nomes da comunicação como Caio Vitoriano, George Rodrigo, Paulo Celestino e Cristiano Medeiros.

Já na década seguinte, em 2001, fui passar uma temporada no Rio de Janeiro, para fazer um curso de especialização em redação publicitária. Nos primeiros tempos de Rio, eu frequentava a ESPM à noite e tinha o dia inteiro livre, pois só vim estagiar seriamente quando faltavam uns 4 meses para voltar a Natal. Dediquei-me então à leitura e à escrita de crônicas como exercício criativo.

Neste contexto, escrevi uma crônica chamada “Galado” que versava sobre este tão pitoresco termo do coloquialismo natalense. Envie o texto por e-mail para alguns amigos e, para minha surpresa, fez um estrondoso sucesso. Logo, o e-mail foi reenviado incontáveis vezes e minha autoria se perdeu pelo caminho. Senti, então, a necessidade de “registrar” meus escritos de alguma maneira. A princípio, procurei os jornais locais, mas ninguém queria publicar os textos de um estudante. Ainda mais um que tinha um palavrão por título. Tomei então uma decisão importante, que mudaria minha vida anos mais tarde: publicaria um livro com minhas crônicas.

Entre 2001 e 2003, reuni e selecionei cerca de 50 textos. Submeti-lhes à leitura sempre cuidadosa e sincera de Nei Leandro de Castro, que pediu para ler antes de aceitar (ou não) escrever a orelha. No fim do ano, o arquivo com o livro já estava sendo trabalhado pelo diretor de arte Modrack Freire. Neste meio tempo, porém, uma questão me veio à mente. Quando, em conversas informais, as pessoas sabiam que eu estava preparando um livro de minha autoria, costumavam dizer: “Que legal! Não existem escritores jovens, né?”

Comecei a pesquisar e percebi que as pessoas tinham razão. Os jovens estavam publicando em blogs, sites, fanzines e outras mídias populares na época, mas não livros. Procurei outros caras da minha idade (tinha uns 23 anos) que tivessem escritos em volume suficiente para se tornarem também livros. Dessa forma, com a ajuda da lei municipal de incentivo à cultura e de alguma empresa que pagasse bom volume de ISS, lançaríamos uma série de livros sob a égide de uma mesma marca, um selo editorial que legitimasse nossa coleção de publicações.

O nome criado, JOVENS ESCRIBAS, remetia à junção do novo ao antigo, remetendo à infante energia cheia de vida e disposição dos jovens empreendedores da jornada e também à verve tradicionalista que não se satisfazia com as novas mídias, com os canais proporcionados pelo advento da Internet, mas que queriam sim ver suas criações impressas em papel, num formato padrão encapado, colado e costurado. O logotipo elaborado por Modrack Freire alude ao nascimento de novos escritos, pois traz um pingo de tinta como uma gota de esperma com o nome do selo editorial em seu interior.

O recrutamento dos companheiros de jornada não seria fácil. Era importante que nossa coleção de 4 livros tivesse gêneros distintos. Eu escrevia crônicas, então precisávamos de um contista, um poeta e, se possível, um romancista. O contista foi mais fácil, pois eu conhecia Thiago de Góes desde o colegial e sabia que ele andava escrevendo contos populares, influenciado pela leitura de autores brasileiros como Rubem Fonseca. Quando entrei em contato, ele me falou sobre um projeto que estava trabalhando que era a confecção de contos baseados em canções bregas. Gostei da ideia.

O poeta e o romancista surgiram por indicação. Um amigo publicitário, Renato Quaresma me disse certa vez que um colega chamado Daniel Minchoni andava declamando poesias de sua autoria pelos calçadões de Ponta Negra. Procurei Mincha para falar do selo e perguntar se ele tinha interesse em publicar.

Por fim, Modrack me apresentou a Patrício Jr., um grande amigo seu que tinha acabado de escrever um romance que se chamaria “Lítio”.

Nos encontramos Daniel, Patrício e eu (Thiago mora em Fortaleza e quase nunca estava em nossas reuniões) e topamos construir o projeto juntos. No início, achávamos que publicaríamos aqueles livros de estreia e pararíamos por aí. Ou que até continuaríamos, mas com os livros seguintes lançados por outras editoras, grandes, do sudeste. Não tínhamos ideia de como este universo editorial do eixo Rio-SãoPaulo era fechado a poucos. Nem percebíamos que tínhamos acabado de conceber uma ideia muito mais forte e duradoura do que um simples e passageiro selo editorial. O simples fato de termos decidido fazer algo coletivo, juntando vários autores em torno de um objetivo em comum daria à Jovens Escribas uma força extra que se tornou o segredo de boa parte do nosso sucesso.

Thiago de Góes - Dia do escritor 2013

Thiago de Góes

Por essas falhas de avaliação inicial, pode-se perceber o quanto éramos, de fato, jovens e ingênuos. Com isso, é possível compreender inclusive o nome de batismo do então selo editorial, que não levava em consideração que envelheceríamos rápido, que um dia publicaríamos autores já bem entrados nos enta e que nossa marca duraria bem mais do que uma embrionária coleção de 4 livros.

NO PRÓXIMO TEXTO: VERÃO VERANEIO – O LIVRO DA ESTAÇÃO

 

Lançamento da JOVENS ESCRIBAS no Rio de Janeiro – 25.03.2014

março 24, 2014

Lanç RJ - Fialho

Amanhã (terça – 25 de março de 2014), a Editora Jovens Escribas vai lançar os livros de 3 autores no Rio de Janeiro. São Eles, Leonardo Panço, Nei Leandro de Castro e Carlos Fialho. O evento faz parte da nossa turnê pelo sudeste em comemoração aos 10 anos de atividades empreendidas por nossa editora e pelo coletivo de autores que arregimentamos em torno dela.

Após um bem sucedido evento em BH no sábado, agora é a vez dos leitores cariocas receberem nossa visita.

Serão levados ao Rio, os livros “Esporro” e “Caras dessa idade já não leem manuais” de Leonardo Panço; “As Dunas Vermelhas”, “Pássaro sem sono”, “O Dia das Moscas” e “50 anos de poesia” de Nei Leandro de Castro; “As maiores mentiras do verão” e “Não basta ser Playboy. Tem que ser DJ!” de Carlos Fialho.

Quem estiver no Rio nesta terça, dá uma passada lá no bar e restaurante DESACATO, no Leblon. Vários escritores e amigos da editora residentes na cidade estarão lá pra prestigiar.

Desacato-Bar-629x472 Desacato-Bar-e-Restaurante-629x472

E quem quiser aproveitar, poderá adquirir os vários livros lançados e vendidos na noite por preços promocionais.

Lanç RJ - Panco Lanç RJ - Nei

 

Lançamento da JOVENS ESCRIBAS em Belo Horizonte – 22.03.2014

março 21, 2014

Atenção, BH! Neste sábado, haverá lançamento duplo da EDITORA JOVENS ESCRIBAS na cidade. Sérgio Fantini e Carlos Fialho estarão juntos lançando, respectivamente, “A ponto de explodir” e “Não basta ser playboy. Tem que ser DJ!”. O público leitor poderá ainda, encontrar todos os livros já publicados pela editora de Fantini, Fialho e de Ana Elisa Ribeiro, autora convidada a conduzir um papo e que também já lançou pela JE.

Apareçam, se forem de BH, ou divulguem para amigos de lá caso conheçam pessoas que gostem de literatura e residam na capital mineira.

O lançamento faz parte da primeira etapa da #JovensEscribasWorldTour que levará autores da editora para lançamentos em diversos estados brasileiros. Ainda neste mês de março, além de BH, eles estarão  no Rio e em São Paulo.

Lanç BH - Fialho Lanç BH - Fantini

Cartaz Promocional - BH - Reduzido

Coluna do Novo Jornal – 108– 29.09.2012 – Jonas Camarão

março 20, 2014

Em 2012, li um romance muito legal: “Cidade dos Reis” (FJA-2012) de Carlão de Souza. Gostei tanto que escrevi a respeito e publiquei em minha coluna no Novo Jornal.

Boa leitura! E, se puderem, leiam também o livro que é bom à beça.

***

Jonas Camarão

Carlão de Souza. Foto: Elisa Elsie

Carlão de Souza. Foto: Elisa Elsie

Por que somos do jeito que somos? Qual a razão de nos comportarmos desta ou daquela forma? Qual a explicação para reagirmos assim ou assado diante das mais variadas situações cotidianas que a vida nos prepara? Quando um de nós vai a um psicólogo em busca de respostas, as perguntas sobre nosso passado são pequenas pistas que o analista dispõe sobre a mesa do inconsciente para desvendar o grande mistério que vem a ser a nossa vida. O que ocorreu conosco durante o nosso crescimento, e mesmo em tempos recentes, pode explicar muito sobre nós. Os traumas, as escolhas, as experiências, influências mil que compõem a complexa personagem de cada um, protagonistas que somos de nossas infinitas narrativas em primeira pessoa.

Lendo o mais recente romance de Carlos de Souza, “Cidade dos Reis” (FJA-2012), concluí que este raciocínio poder ser aplicado também a uma cidade. Tudo porque Carlão resolveu nos contar a sua versão da história de Natal nos últimos 100 anos. Começando pelo 1º dia do século passado e concluindo a história na derradeira folha do calendário de 2000, a vida de Natal e mesmo do RN é revelada aos felizes leitores desta obra altamente recomendável a todos que tenham o mínimo de curiosidade a respeito do que aconteceu nesta metrópole com alma de província ou quer encontrar respostas de como viemos a ser como somos.

Jonas Camarão nasceu em 1º de janeiro de 1901. Era descendente direto do herói duvidoso Felipe Camarão, homem de caráter questionável a ilustrar os livros de história do nosso Estado. Jonas viveu exatamente um século e, como nunca saiu do RN, a não ser para umas tantas e rápidas idas a Recife a fim de fechar negócios, acompanhou de perto todos os acontecimentos políticos, sociais, econômicos e as transformações ocorridas em Natal e arredores. Viu as mudanças de governos, a evolução nos hábitos e costumes, a chegada do automóvel, as alterações urbanas da cidade (incluindo o plano Palumbo), a vinda (e depois partida) dos americanos entre tantos outros acontecimentos relevantes.

O protagonista, em que pese a origem humilde, devido ao grande esforço dos pais, estudou no Atheneu, acabando por se tornar um comerciante de sucesso. Ou, como ele próprio dizia: “Comerciante não. Negociante!” Tornou-se um típico cidadão da capital potiguar. Pacato, de índole dócil e conservador. Tanto que lhe causava profunda contrariedade a maneira como os empresários locais faziam questão de derrubar edificações clássicas para construir caixas horrendas em seus lugares, não importando a relevância do que se destruía. Sobre isso, o narrador declara: “Uma cidade se diminui quando elimina seu passado. Natal está sempre sujeita a sucumbir a qualquer ilusão de modernidade. Os poderosos, verdadeiros donos desta cidade, estão sempre dispostos a destruir qualquer bela construção para erguer algo novo no lugar. É uma cidade sem memória.”

Jonas também nunca se conformou com determinados traços flagrantes de miudeza da alma que faziam o povo potiguar se comportar de forma a voltar-se uns contra os outros. Indignava-se sobretudo com a maledicência do povo e a mania de maltratar os conterrâneos, principalmente os que ganham algum destaque, diminuindo seus méritos e desvalorizando seu trabalho, comportamento típico de gente invejosa, cujas janelas permanecem sempre abertas para a vida alheia. Em dado trecho, referindo-se a grandes artistas que não obtiveram o reconhecimento devido por essas plagas, o texto diz: “Aqui ninguém suporta o sucesso alheio. Esta é a cidade da inveja e do olho gordo. Se o vizinho comprar algum objeto de desejo, se alguém adquirir algo grandioso, se alguém se destacar, passa a ser motivo de ódio dos demais. O ditado diz que ninguém é profeta em sua terra. Isto, em Natal, ganha proporções desérticas… É uma cidade amordaçada. Seus filhos mais ilustres são como profetas que pregam no deserto para gafanhotos indiferentes.”

O próprio personagem principal se viu como vítima de fofocas: “Jonas percebia o olhar jocoso por trás das palavras falsamente respeitosas que lhe dirigiam. Fingia não dar atenção, mas por dentro estava nascendo um rancor tão refinado que poucos iriam perceber o quanto iria odiar as pessoas da sua cidade nos anos vindouros.”

Apesar de ter vividos os dissabores e decepções comuns à grande maioria de nós, Jonas prosperou como comerciante, desfrutando de uma vida plena e confortável. Tinha a sorte dos predestinados. Tudo lhe favorecia nos momentos em que mais precisava. Mesmo quando sofria um forte revés, logo o destino lhe presenteava com um golpe de sorte. Graças a isso, não passou grandes apertos com dinheiro. Os maiores sobressaltos vividos por ele se relacionavam ao contexto histórico vivido, fosse a 2ª Guerra Mundial ou a estúpida Ditadura Militar. Tanto que o narrador opta por eliminar a figura de um vilão central, antagonista do “herói”. Um dos personagens que apresentou potencial para ser esta encarnação do mal, que temperaria a trama e criaria conflito suficiente para dar uma maior complexidade à ficção, não se desenvolve para se converter neste malfeitor clássico. Esse expediente (de condicionar as ações do personagem a fatores externos) permitiu ao narrador dar maior enfoque à história de Natal sem maiores distrações.

Mesmo sendo um homem à moda antiga, como a grande maioria da população de Natal, o negociante, diferentemente de nossa elite empresarial e política, formada basicamente por ignorantes endinheirados, amava a literatura e devotava enorme admiração por Câmara Cascudo. Esta é outra tacada certeira do autor. Por meio dessa preferência do protagonista, o autor nos conduz pelas vidas e obras de Auta de Souza, Henrique Castriciano, Zila Mamede e Cascudo, entre outros, citando os livros lançados com o passar dos anos. Os lançamentos de Cascudo, por exemplo, são introduzidos na história com muita naturalidade, entremeando a narrativa marcada por sucessões de governos e a passagem do tempo para Jonas. Com isso, os leitores têm a oportunidade de compartilhar do conhecimento de Carlão acerca de nossos grandes autores.

Tal apreço de Jonas Camarão pela vida intelectual contrasta com muitos dos seus colegas empresários locais, tão indiferentes a todos os assuntos que não se relacionem a dinheiro. Sobre isso, o narrador se questiona: “Como seria a vida de alguém assim, cuja única diversão é ganhar dinheiro? Que tipo de vazio poderia ser preenchido apenas com o ato mecânico de faturar mais? Que almas abrigam espíritos tão embrutecidos?” Em certo momento, também relata um comportamento frequente entre a elite natalense: “Enquanto se é rico, todas as atenções lhe são prestadas. Quando se é pobre, todos viram as costas. Você vale o que possui.” A conclusão a que chega é que, em face à forma desumana com que os empregadores tratam seus funcionários, “Aqui, a revolução industrial chegou com atraso”.

O livro de Carlos de Souza é indispensável a todos aqueles que pretendem aprender sobre Natal, o Rio Grande do Norte e, por extensão, sobre si próprios. Recomendo. 

Marvel Comics: a história de quem fez história contando histórias

março 19, 2014

Marvel

Adquira já o seu nas melhores casas do ramo.

Li mês passado o livro “Marvel Comics – A História Secreta” do jornalista americano Sean Howe. Um livraço que conta em detalhes toda a trajetória da editora de quadrinhos mais popular do mundo desde a sua fundação até o estrondoso sucesso do Marvel Studios. Em muitos momentos, fã devoto que sou, senti-me como um religioso ao descobrir as (muitas) faltas daqueles que comandam os destinos de sua fé.

A Marvel foi desde sempre o lar de algumas das mentes mais brilhantes e produtivas de suas gerações, porém também viveu muitas controvérsias, foi palco de disputas agressivas e deu lugar a atitudes bastante questionáveis (para dizer o mínimo). Tantos foram os problemas enfrentados que é supreendente que tenha chegado tão longe e transformado suas histórias complexas e entrelaçadas (o chamado “Universo Marvel”) em um fenômeno de popularidade de escala mundial. Por outro lado, tantas (e acreditem: foram muitas) trapalhadas explicam o porquê de a empresa ter chegado tão tardiamente aos cinemas de maneira satisfatória.

O livro conta como empresários inescrupulosos que não davam a mínima para  quadrinhos, os personagens, a coerência criativa das histórias e, sobretudo, para os seus criadores contratados, comandaram a empresa durante décadas sucessivas, quase arruinando para sempre esta indústria cultural que ganhou dos fãs a carinhosa alcunha de “Casa das Ideias”. Também houve inúmeros editores egocêntricos, diretores arrogantes, artistas instáveis e brigas, muitas brigas. Nem o cânone Stan Lee escapa de graves acusações feitas por alguns dos seus principais parceiros (Jack Kirby e Steve Ditko), que criaram junto com ele heróis icônicos do imaginário pop atual.

Em meio a todos esses conflitos, nomes que fizeram (e fazem) a história das HQs pipocam na narrativa, contribuindo com toda a riqueza que fez da Marvel o que ela é hoje no inconsciente coletivo do mundo do entretenimento: John Byrne, Frank Miller, Chris Claremond, Jack (King) Kirby, Steve Ditko e, claro, Stan Lee.

Recomendo fortemente a leitura. Vale cada página, cada nota de rodapé. Destaque ainda para a tradução impecável do jornalista Érico Assis.

10 anos de JOVENS ESCRIBAS – Parte 01 – Verão Veraneio – O livro da estação.

março 18, 2014

1 Capa Verão Veraneio FECHADA

Verão Veraneio – O livro da estação.

Enquanto as conversas com os outros 3 autores caminhavam para o surgimento do selo Jovens Escribas, eu continuei escrevendo crônicas de humor para compor o meu primeiro livro. Já havia decidido qual nome dar à iminente publicação: “Verão Veraneio – Crônicas de uma cidade ensolarada”.

Fui reunindo textos e fazendo, empiricamente, o trabalho de auto-edição que, mal sabia eu, marcaria bastante minha vida dali pra frente. Quando Modrack Freire, diretor de arte que já havia concluído o logotipo do selo, se ofereceu para fazer o livro, começamos a imaginar como poderia ser a capa. Logo criamos uma imagem em nossa tempestade cerebral: a foto de um baldinho de criança à beira mar sendo utilizado para gelar cerveja, unindo a inocência presente na leveza das crônicas com a irreverência do humor também bastante característico nos textos. Na quarta capa, haveria outra foto: uma trave de “mirim” deixada de lado com o chão impecável em torno dela. Como se os jogadores não tivessem algo melhor para fazer naquele dia (beber, paquerar, curtir) do que jogar futebol. O fotógrafo convidado a fazer os cliques foi Giovanni Sérgio, mago das lentes, ídolo de longa data.

O fotógrafo Giovanni Sérgio - lindo e competente.

O fotógrafo Giovanni Sérgio – lindo e competente.

Com a direção de arte, diagramação e fotos garantidas, precisava batalhar agora um nome relevante que topasse assinar as orelhas da obra. Tinha que ser alguém reconhecido na literatura, de forma que o livro chegasse às pessoas com algum respaldo importante. Meu pai, em conversa com François Silvestre, chegou à conclusão que eu poderia procurar Nei Leandro de Castro, uma vez que eram muito amigos desde os tempos em que a Ditadura Militar os perseguira e prendera algumas décadas antes. Procuramos Nei que, num primeiro contato por e-mail, disse-me com sinceridade que só escreveria se gostasse do que lesse. Fiquei muito animado com a possibilidade e lhe entreguei o material impresso e encadernado em mãos, numa de suas vindas a Natal, naquele ano de 2003.

Nei Leandro de Castro

Nei Leandro de Castro

Menos de uma semana depois, Nei Leandro me escreveu. Sua mensagem veio repleta de elogios e terminava com sua concordância em escrever a orelha. Em mais alguns dias, o texto estava em minha caixa de entrada de e-mail. Em alguns trechos mais lisonjeiros, Nei dizia o seguinte:

Carlos Fialho me surpreende. Primeiro, por sua precocidade. Segundo, porque as suas crônicas são bem escritas, docemente sacanas, inteligentes, e nos dá a certeza de um escritor, que não há de ficar nos limites da crônica.

Os textos deste livro têm a idade e a linguagem  de um garotão bem resolvido com ele mesmo. Os temas  – gírias regionais, porres, rock, vídeo-game, paqueras, Natal, cinema, carnatais, carnavais, etc. – são tratados com graça e ironia, leveza e fino senso de humor.

Carlos Fialho, cronista, precoce, publicitário, devorador de livros, autor das crônicas deliciosas deste Verão veraneio, vai chegar lá. Esse garoto vai longe.

Além de Nei, procurei um autor adequado para o prefácio. Não precisava ser famoso, mas que tivesse um estilo mordaz e bom humor, de forma a combinar com o conteúdo do livro. Escolhi meu ex-colega de faculdade, George Wilde, que fez um texto preciso, de acordo com o que eu pretendia. Destaco uma pequena parte:

Ao ler o livro, descobri que dentro de Fialho existe algo grandioso: a sua percepção em relação ao nosso dia-a-dia. Afinal, poucas pessoas conseguem sair do círculo da rotina para perceber o verdadeiro circo em que vivemos.”

George Wilde - o homem do prefácio

George Wilde – o homem do prefácio

A campanha publicitária foi elaborada com alguns títulos bem humorados, bem ao estilo do livro.

anuncio verissimo

Anúncio que a Art&C, agência onde eu trabalhava, fez no dia do lançamento.

Anúncio que a Art&C, agência onde eu trabalhava, fez no dia do lançamento.

 

A assessoria de imprensa contou com indicações de colegas do curso de Jornalismo da UFRN. Minha primeira entrevista foi concedida a Marcílio Amorim (Jornal de Hoje) e a segunda a Hayssa Pachêco do Diário de Natal.

2004 - VV - JH1

Mas a maior responsável pela divulgação do meu primeiro lançamento não era a imprensa nem a publicidade. Quem promoveu o evento a ponto de transformá-lo em sucesso foi minha mãe, Lurdete. Quando percebeu que era sério mesmo “essa história de livro”, arregaçou as mangas e telefonou pra cada parente, cada amiga, cada conhecido, reforçando bastante a frequência de presentes na noite de Verão Veraneio. O local escolhido foi a AS Livros do Praia Shopping, uma livraria acolhedora que tinha como gerente Cícero, um cara que dava bastante espaço a autores locais. O saldo da noite foi um estrondoso sucesso (163 livros vendidos) num ambiente preenchido de amigos, parentes e colegas de trabalho. Só a partir do segundo livro, essa frequência seria reforçada por leitores.

Quanta gente veio ver!

Quanta gente veio ver!

A noite foi tão agradável que Patrício Jr., que escrevia um blog, publicou uma postagem falando de como fora legal o evento (a qual reproduzo no fim desta publicação). Foi um belo cartão de visitas, indicativo do que estaria por vir num futuro não tão distante e também das possibilidades de crescimento e expansão que o então selo editorial acabaria por aproveitar com o passar dos anos.

“Verão Veraneio – Crônicas de uma cidade ensolarada” trazia 5 capítulos. No primeiro, “Galado e outras palavras”, havia temáticas mais gerais. Entre elas, alguns textos merecem destaque como “Galado” que me notabilizou em muitos rincões da Internet e “A Loja de Inconveniência” que até hoje se mantém como um dos meus preferidos. No segundo capítulo, “Cruvinel – o bom de bola”, apresento um personagem que me acompanhou com o passar dos anos e que, mês que vem, ganhará livro próprio. No terceiro, “Mano Celo”, nascia o protagonista do meu livro mais vendido até hoje e que, ano que vem, ganhará mais uma publicação caprichada com todas as suas histórias reescritas. Em seguida, vinha “Vi e gostei” com crônicas sobre cinema. Para fechar, o capítulo mais legal do livro: “Aconteceu no verão” com as histórias pertinentes ao tal “Verão Veraneio” que dá título ao livro.

E assim foi dado o pontapé inicial para a, hoje decana, editora JOVENS ESCRIBAS. Continuem acompanhando aqui nossa história. Detalhe: o livro esgotou sua primeira tiragem em apenas 4 meses. 

NO PRÓXIMO TEXTO: LÍTIO – PATRÍCIO À FLOR DA PELE

***

BÔNUS: POST DE PATRÍCIO NO SEU BLOG PESSOAL – O PLOG

06/02/2004 

há vida inteligente
no mercado publicitário

Quem trabalha com publicidade sabe: de tempos em tempos, tem uma “festa do mercado”. Tais eventos, sempre patrocinados por veículos, fornecedores, clientes ou ambos, têm por maior finalidade embebedar todo mundo, calar a boca de quem está perscrutando que o ano foi ruim e, por residual, reunir profissionais para um bate-papo informal. Pois é, parece um paraíso, mas tais “festas do mercado” haviam se tornado um verdadeiro transtorno. Passo o dia todo numa sala falando/fazendo/refazendo/desfazendo/tentando fazer publicidade. A última coisa de que preciso é estender esta missão ao meu happy-hour. Como prova de que nem tudo está perdido, houve esta semana o lançamento do livro de Fialho, “Verão Veraneio”, que não pretendia ser uma “festa de mercado”, mas acabou sendo por reunir exatamente as mesmas carinhas de sempre. O que me surpreendeu foram os temas das conversas. Ninguém, por exemplo, me perguntou “Como é que está la’?”. Ok, tudo bem, uma pessoas me perguntou isto, mas o assunto morreu quando eu respondi “Lá onde?”. Uma pessoa a noite inteira. Nada mal. Em outras “festas de mercado”, a famigerada pergunta “Como é que está lá?” é dita antes mesmo do “Tudo bem, broder?”. Já é, praticamente, sinônimo de oi. No lançamento de “Verão Veraneio”, porém, tudo foi diferente. Fialho conseguiu a façanha de reunir as mesmas pessoas de sempre fazendo, no entanto, com que todas soassem inéditas. Não sei se foi o fato de estarmos todos na AS Livros, rodeados de Dickens e Saramago e Proust e Pessoa e Machado e Camus. Birita? Claro que teve. Buffet? Sim, impecável. Bêbados chatos? Uh, nossa, e como! Mas estava tudo agradabilíssimo, tudo soando como um lançamento deve soar. Os temas conversados iam de autores consagrados a bandas de rock obscuras, sempre com tiradas inteligentes, observações pertinentes, risos na medida certa. Um éden para amantes do bom e velho papo construtivo como eu. Nunca gostei tanto das “pessoas do mercado”. O livro, graças aos céus, vendeu bem. Fialho, coitado, deve estar cheio de bolhas nos dedos de tantas dedicatórias escritas. E eu, exemplar autografado na mão, cheio de riso a caminho do estacionamento, concluí que a melhor das “festas do mercado” que eu já fui na minha vida foi o lançamento do livro do meu bróder. Mesmo que não tenha sido uma “festa de mercado”.

 

Coluna do Novo Jornal – 101– 11.08.2012 – Três tempos – Parte 3 – Texto silencioso

fevereiro 24, 2014

Este texto foi baseado numa de minhas músicas preferidas, “Enjoy the silence” do Depeche Mode. Aqui, interpretada pelo Keane.

Enjoy!

***

Texto silencioso

Eu queria prestar uma homenagem a todos aqueles que sabem dar valor ao silêncio, que percebem quando calar é melhor que falar, que enxergam a expressividade dos olhares, a grandeza dos gestos, que não caem na fácil armadilha verborrágica, que conseguem a proeza de bastar-se por instantes que seja.

Hoje quero direcionar a luz para essas abnegadas almas, humildes em sua renúncia por atenção alheia, generosas em nos permitir contemplar o mundo sem maiores ruídos, sem a obrigação de ouvir o que não queremos, o que não pedimos, o que não precisamos.

Um texto dedicado aos tímidos, aos intimistas, aos introspectivos. Aos seres evoluídos que não se deixam trair pelo vazio das palavras soltas, desconexas. Homens e mulheres que só se manifestam quando têm algo de edificante a ser dito, algo que acrescente ao mundo e aos outros.

Quero chamar a atenção e apontar os poucos privilegiados na multidão de falastrões que nossa sociedade narcísea e carente produziu. Vou dar meus parabéns a todos os não adeptos do auto-elogio deliberado, à crítica cáustica e gratuita. Expressarei meu muito obrigado aos que nunca me perguntaram quais são as novas ou comentaram como está o clima. Nós, os silenciosos, não gostamos de meteorologistas de elevador e nem de saber se fulana está mais gorda. Acredite: isso não vai mudar nada.

Eu quero produzir uma ode ao inaudível, à harmonia presente na ausência de sons, aos últimos pacifistas, aqueles que realmente deixam os outros em paz.

É que palavras erradas, verbalizadas em momento impróprio podem ferir, quebrar o precioso silêncio de nosso pequeno mundo de paz. Palavras são imperfeitas e desnecessárias frente a sentimentos tão intensos.

Este texto é para todos aqueles que sorriem em silêncio. 

Coluna do Novo Jornal – 101– 11.08.2012 – Três tempos – Parte 2 – Texto rápido

fevereiro 24, 2014

Numa certa manhã, dopado de cafeína, cometi esta segunda parte da trilogia de textos.

Que aproveitem!

***

Texto rápido

Eu queria escrever um texto rápido, acelerado, frenético, num ritmo de hoje em dia, de qualquer dia, de dia-a-dia, cheio de correria. Um texto que tivesse stress e prazos a cumprir e um chefe bem chato, exigente, malcriado e insuportável, pressionando para que ficasse pronto, para que ficasse ótimo, para que você ficasse até mais tarde.

Eu queria escrever um texto pra ontem, logo, que avançasse ligeiro, como dos segundos o ponteiro, que inspirasse grande expectativa, que não admitisse uma segunda tentativa, que tivesse muito em jogo, que fosse de grande responsabilidade e lido em alta velocidade, como o avançar da idade, ao som de carros acelerados e ensadecidos buzinaços.

Eu queria escrever um texto com pressa, no sufoco, que a partir do momento em que começa já tivesse urgência de chegar ao final, como a fuga desesperada de um animal, correndo pra longe, escapando, sobrevivendo. Cada letra cairía veloz sobre linhas impacientes, pois o prazo apertado, atroz, chegaria brevemente.

Eu queria escrever um texto sem pensar, pá-pum!, dopado de cafeína, ideal para ler na esquina, em meio ao caos da cidade, indo de um lugar a outro, sem muita facilidade, no intervalo do almoço, na pausa do café, no meio de uma aula, para ler no caminho, na esteira da academia, no calçadão, correndo pela via.

Eu queria escrever um texto e fazer dele, símbolo de nossa intensa atividade, dos tempos atuais, e dessa tão falada modernidade. Um texto que fosse breve, que tivesse curta duração, como tudo o que é efêmero, prazeroso e vão. Que ele penetrasse em sua mente, preciso, implacável, num momento de distração e, antes que você pudesse concluir se gostou, se deparasse com o fato de que o texto acabou. 

Coluna do Novo Jornal – 101– 11.08.2012 – Três tempos – Parte 1 – Texto lento

fevereiro 24, 2014

Na coluna do Novo Jornal de número 100, publiquei uma retrospectiva de todas as colunas anteriores, nada mais que um mini-catálogo de títulos autorreferencial e bastante pessoal. Enfim, achei meio bobo republicar aqui. Por isso, decidi pular para a coluna 101, na qual publiquei 3 textos curtos chamados “Texto lento”, “Texto rápido” e “Texto silencioso”. Publicarei todos hoje. Eis o texto lento. Boa leitura!

***

Texto lento

Eu queria escrever uma crônica lenta, cadenciada, suave, sem pressa, gritaria, histeria e dia-a-dia. Uma crônica marcada, compassada, como uma valsa, um pra lá, dois pra cá, um pra lá, dois pra cá. Não seria triste, nem melancólica, apenas teria um ritmo diferente do que tenho visto por aí. Seria feliz, mas de uma alegria contida, autêntica, bela. Algo bucólico, com cheiro de chuva, de grama molhada, suja de areia, queimada de sol, impregnada de sal.

Eu queria escrever um texto gostoso como um abraço demorado, agradável como um fim de tarde entre amigos, necessário como um poema, revigorante como uma sesta. Um texto que provocasse bem-estar com o efeito multiplicador de um sorriso, a espontaneidade de um elogio sincero e desinteressado, o impacto de uma surpresa boa.

Eu queria escrever algo que fosse um elogio ao ócio, um tratado do descanso, um manifesto do direito sagrado da preguiça dominical ou do sono fora de hora. Um documento sobre o pôr-do-sol no Potengi ou o nascer da lua em Ponta Negra, que transmitisse em poucas linhas o silêncio reconfortante, a leveza de um carinho, a sensação de liberdade que só uma rede na sombra pode dar.

Uma crônica para ser lida em câmera lenta. Que despertasse reações serenas, mas duradouras. Queria ordenar palavras de tal maneira, com tal maestria que elas ganhassem o sabor daquele beijo que você tanto batalhou, muito ansiou e finalmente conquistou.

Eu queria escrever um texto bonito. Um lava-jato da alma como uma boa ação, um gol no finalzinho, um telefonema inesperado no meio da noite. Eu queria escrever uma crônica que pudesse dar sua modestíssima contribuição para que, por uma minúscula fração de tempo, um instante que seja, provoque a ligeira sensação de tornar o seu dia um pouquinho melhor.

Eu queria.

Juro que queria.

Mas como não consegui, acho bom você se contentar com esse mesmo.

10 anos de JOVENS ESCRIBAS – Parte 00 – Não existem escritores jovens!

fevereiro 20, 2014

10 anos

Parece que foi semana passada. E, na verdade, foi. Semana passada, a Editora Jovens Escribas completou 10 anos de atuação. Hoje, são mais de 50 títulos lançados, muitas amizades adquiridas e algumas boas histórias pra contar. Pra começar, iniciemos do princípio.

Em fins dos anos 90, eu fazia duas faculdades de Comunicação Social. Pela manhã, fazia Jornalismo na UFRN e, à noite, Publicidade na UnP. Ainda encontrava tempo para estagiar à tarde e, nas horas vagas, para ver filmes, jogos e ler alguns livros legais. Naquele tempo, incentivado pela leitura de crônicas de Luís Fernando Veríssimo, decidi tentar escrever textos curtos e criativos, leves e bem humorados, sobre qualquer assunto, o mundo em geral e o cotidiano em particular. Passei a colaborar com o zine, AZ Revista que revelou grandes nomes da comunicação como Caio Vitoriano, George Rodrigo, Paulo Celestino e Cristiano Medeiros.

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Já na década seguinte, em 2001, fui passar uma temporada no Rio de Janeiro, para fazer um curso de especialização em redação publicitária. Nos primeiros tempos de Rio, eu frequentava a ESPM à noite e tinha o dia inteiro livre, pois só vim estagiar seriamente quando faltavam uns 4 meses para voltar a Natal. Dediquei-me então à leitura e à escrita de crônicas como exercício criativo.

Neste contexto, escrevi uma crônica chamada “Galado” que versava sobre este tão pitoresco termo do coloquialismo natalense. Envie o texto por e-mail para alguns amigos e, para minha surpresa, fez um estrondoso sucesso. Logo, o e-mail foi reenviado incontáveis vezes e minha autoria se perdeu pelo caminho. Senti, então, a necessidade de “registrar” meus escritos de alguma maneira. A princípio, procurei os jornais locais, mas ninguém queria publicar os textos de um estudante. Ainda mais um que tinha um palavrão por título. Tomei então uma decisão importante, que mudaria minha vida anos mais tarde: publicaria um livro com minhas crônicas.

Entre 2001 e 2003, reuni e selecionei cerca de 50 textos. Submeti-lhes à leitura sempre cuidadosa e sincera de Nei Leandro de Castro, que pediu para ler antes de aceitar (ou não) escrever a orelha. No fim do ano, o arquivo com o livro já estava sendo trabalhado pelo diretor de arte Modrack Freire. Neste meio tempo, porém, uma questão me veio à mente. Quando, em conversas informais, as pessoas sabiam que eu estava preparando um livro de minha autoria, costumavam dizer: “Que legal! Não existem escritores jovens, né?”

Os 4 SP

Comecei a pesquisar e percebi que as pessoas tinham razão. Os jovens estavam publicando em blogs, sites, fanzines e outras mídias populares na época, mas não livros. Procurei outros caras da minha idade (tinha uns 23 anos) que tivessem escritos em volume suficiente para se tornarem também livros. Dessa forma, com a ajuda da lei municipal de incentivo à cultura e de alguma empresa que pagasse bom volume de ISS, lançaríamos uma série de livros sob a égide de uma mesma marca, um selo editorial que legitimasse nossa coleção de publicações. 

O nome criado, JOVENS ESCRIBAS, remetia à junção do novo ao antigo, remetendo à infante energia cheia de vida e disposição dos jovens empreendedores da jornada e também à verve tradicionalista que não se satisfazia com as novas mídias, com os canais proporcionados pelo advento da Internet, mas que queriam sim ver suas criações impressas em papel, num formato padrão encapado, colado e costurado. O logotipo elaborado por Modrack Freire alude ao nascimento de novos escritos, pois traz um pingo de tinta como uma gota de esperma com o nome do selo editorial em seu interior.

O recrutamento dos companheiros de jornada não seria fácil. Era importante que nossa coleção de 4 livros tivesse gêneros distintos. Eu escrevia crônicas, então precisávamos de um contista, um poeta e, se possível, um romancista. O contista foi mais fácil, pois eu conhecia Thiago de Góes desde o colegial e sabia que ele andava escrevendo contos populares, influenciado pela leitura de autores brasileiros como Rubem Fonseca. Quando entrei em contato, ele me falou sobre um projeto que estava trabalhando que era a confecção de contos baseados em canções bregas. Gostei da ideia.

2012_05_22 Jovens Escribas Sinhá Casa da Ribeira Noite-55

O poeta e o romancista surgiram por indicação. Um amigo publicitário, Renato Quaresma me disse certa vez que um colega chamado Daniel Minchoni andava declamando poesias de sua autoria pelos calçadões de Ponta Negra. Procurei Mincha para falar do selo e perguntar se ele tinha interesse em publicar.

Por fim, Modrack me apresentou a Patrício Jr., um grande amigo seu que tinha acabado de escrever um romance que se chamaria “Lítio”.

Nos encontramos Daniel, Patrício e eu (Thiago mora em Fortaleza e quase nunca estava em nossas reuniões) e topamos construir o projeto juntos. No início, achávamos que publicaríamos aqueles livros de estreia e pararíamos por aí. Ou que até continuaríamos, mas com os livros seguintes lançados por outras editoras, grandes, do sudeste. Não tínhamos ideia de como este universo editorial do eixo Rio-SãoPaulo era fechado a poucos. Nem percebíamos que tínhamos acabado de conceber uma ideia muito mais forte e duradoura do que um simples e passageiro selo editorial. O simples fato de termos decidido fazer algo coletivo, juntando vários autores em torno de um objetivo em comum daria à Jovens Escribas uma força extra que se tornou o segredo de boa parte do nosso sucesso.

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Por essas falhas de avaliação iniciais, pode-se perceber o quanto éramos, de fato, jovens e ingênuos. Com isso, é possível compreender inclusive o nome de batismo do então selo editorial, que não levava em consideração que envelheceríamos rápido, que um dia publicaríamos autores já bem entrados nos enta e que nossa marca duraria bem mais do que uma embrionária coleção de 4 livros.

NO PRÓXIMO TEXTO: VERÃO VERANEIO  

Visita ao IFRN – São Gonçalo do Amarante

fevereiro 18, 2014
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Ótimo papo com os alunos do IFRN de São Gonçalo.

Fui convidado pelo professor Milson dos Santos para uma visita ao IFRN de São Gonçalo do Amarante. O professor havia trabalhado o gênero crônica em sala de aula. Entre grandes autores como Paulo Mendes Campos e Luís Fernando Veríssimo, acabei sendo um dos autores trabalhados. Aceitei na hora e no último dia 12 de fevereiro, estive no instituto conversando com os estudantes.

Crônicas minhas foram trabalhadas em sala de aula.

O professor trabalhou crônicas minhas com a turma

A experiência foi encantadora. O trabalho do professor Milson e seus alunos são um exemplo de como um bom professor, estimulado e dedicado pode transformar a vida de jovens através do incentivo à leitura. Além de lerem os autores e relatarem suas impressões, os estudantes foram exigidos a produzirem crônicas que seguissem os estilos dos autores trabalhados em sala de aula. O grupo que ficou com minhas crônicas desenvolveu diversos textos a respeito do cotidiano do campus onde estudam. O resultado é impressionante e, no meu caso, emocionante. Aqueles jovens conseguiram reproduzir textos que em muito se parecem com minhas crônicas.

A turma também produziu textos simulando o meu estilo de escrever crônicas.

A turma também produziu textos simulando o meu estilo de escrever crônicas.

A cada leitura em voz alta dos textos, a sala explodia em gargalhada. A qualidade do que foi escrito é de cair o queixo. Espero que tenha sido tão divertido para eles escreverem quanto foi para todos que leram. Se isso tiver ocorrido, acredito que tenham sido despertadas algumas vocações literárias, ou de novos autores ou, pelo menos, bons leitores. Estão de parabéns os estudantes e o professor Milson. Pedi permissão a todos e publicarei aqui os textos do grupo que mimetizou meus escritos para que vocês possam ter uma boa ideia do que a boa educação é capaz de fazer.

 

O grupo que produziu textos inspirados nos meus.

O grupo que produziu textos inspirados nos meus.

Professor Milson dos Santos, que me deixou muito feliz e honrado com o trabalho realizado com os estudantes.

Professor Milson dos Santos, que me deixou muito feliz e honrado com o trabalho realizado.

Turma do 2º ano do Ensino Médio do IFRN de São Gonçalo. Valeu mesmo!

Turma do 2º ano do Ensino Médio do IFRN de São Gonçalo. Valeu mesmo!

Obrigado a todos o IFRN – São Gonçalo pela excelente recepção e, mais uma vez, parabéns pelo trabalho de vocês.

 

Coluna do Novo Jornal – 088 – Beleza Interior – Versão Novo Jornal – 05.05.2012

junho 20, 2013

Beleza interior 

Texto original publicado em "É Tudo Mentira!" Esta versão foi especialmente editada para o Novo Jornal.

Texto original publicado em “É Tudo Mentira!” Esta versão foi especialmente editada para o Novo Jornal.

Ela era linda por dentro. Desde o momento que a conheci, vi logo que era. E pra mim, isso é muito mais importante, sabe? O que a gente tem dentro da gente, a nossa essência, o nosso âmago, a nossa índole, a força de caráter em cada um, a personalidade. Porque tudo é efêmero, finito, passageiro e insignificante, exceto o que a gente leva dentro. Casas podem ruir, carros enferrujam, ou se espatifam em postes e ficam mais amassados que um maracujá, ou que a pele da minha avó, propriedades podem deixar de ser de quem são, dinheiro se acaba. Aliás, eu costumo dizer sempre: dinheiro é papel. O importante é o que tá aqui, ó (e aponto para o coração). As pessoas sempre concordam com isso. É batata. E também ficam enternecidas como se estivessem vendo um daqueles comerciais que passam no Natal. De panetone ou de banco, não importa. E também criam uma empatia comigo sempre que digo isso. Tem sido muito bom pra me socializar melhor com as pessoas, me tornar mais popular, virar um boa praça. Mas não é só fingimento ou atuação canastrona não. Eu realmente acredito nisso e repito com toda a convicção: “Dinheiro é papel. O importante é o que tá aqui ó (mão no coração)”.

Quando minha mãe conheceu a Sabrina, disse logo: “Ela é linda por fora e por dentro”. Quase fui às lágrimas com a aprovação materna. Juro por Deus que fiquei emocionado. As mães sabem mesmo das coisas. Passei a me dedicar totalmente a Sabrina. Era uma devoção irrefreável. Preocupava-me demais com ela. Tanto que, por vezes, meu excesso de zelo causava certa estranheza nela. Dizia que eu era superprotetor, que estava exagerando e essas coisas que a gente diz quando está se sentindo sufocado. Mas eu não podia me conter. Amava cada parte do corpo daquela mulher. Essa é a verdade. E só essa é a verdade.

Mas Sabrina era realmente encantadora. Tudo bem que eu tive lá meus motivos para me envolver com ela, mas qualquer um seria facilmente atraído por ela. Sabrina era única. Era uma dessas mulheres que podia conseguir tudo, tudo mesmo, com um simples sorriso. Seu charme era arrebatador e jamais perdia o encanto, nem ao se sujar de molho rosê comendo um sanduíche, nem mesmo ao cortar as unhas dos pés. Linda pra valer. Morena dos olhos verdes. Fenótipo perfeito, genótipo promissor.

No entanto, e apesar de todas as evidências, passei seis meses com ela para ter certeza. Sou um homem cauteloso, cuidadoso, metódico, perfeccionista. Por isso, convivi seis prazerosos meses antes de me decidir. Preparei tudo para o “nosso” momento. Tinha que ser perfeito. Afinal, seria um momento único na vida dela. Seria num apartamento à meia luz, aliás, iluminado por velas. A comida seria de primeira e um champanhe genuinamente francês temperaria nossa noite. A louça utilizada no jantar também seria a que eu sempre guardo para ocasiões especiais e usaria um terno de corte italiano. Flores ornamentariam todo o ambiente e o nosso fundo musical seria de canções instrumentais suaves e românticas, cuidadosamente gravadas para criarem um clima crescente até chegar ao ápice que marcaria a hora mágica da grande noite.

Eu estava muito excitado e, por conseguinte, com muita fome. A ansiedade é pródiga em me abrir o apetite. Estava com tanta fome que até meio Big Mac dormido esquecido na geladeira me faria salivar. Mas havia lagosta e um suflê tão chique que seu nome era impronunciável para um homem rude como eu. Ao chegar, Sabrina disse nunca ter me visto tão elegante. Fiquei lisonjeado e convidei-a a entrar. Ela se encantou com o ambiente que eu criei. Todo pensado nos mínimos detalhes. Tudo que já relatei e mais o perfume de bálsamo que se sentia no ar a fizeram perceber que aquela noite seria diferente de todas as outras que passamos juntos.

Conversamos animadamente durante o jantar. Comemos a lagosta, tomamos o champanhe e beliscamos o suflê. Mas ela estava mesmo era curiosa para saber o motivo daquela produção toda. O que estava por trás daquilo, afinal? Não sou um cara cruel. Tenho mesmo o coração mole. Por isso, não fiz muito suspense. A certa altura, propus um brinde. Um brinde ao instante definitivo que viveríamos naquela noite. Ela sorriu, seus olhos brilharam e sorveu o conteúdo de sua taça lentamente como que se deliciando com cada gole, tentando fazer com que seu champanhe durasse para sempre. Ela era mesmo muito meiga. Nem mesmo quando terminou de beber sua taça e caiu com a cara na mesa deixou de ser linda. Sorte eu ser um homem atento, pois pude aparar seu rosto com o guardanapo de linho que havia providenciado para a ocasião e ela não sofreu nenhum dano.

Assoviei e os paramédicos vieram do quarto. Carregamos seu corpo adormecido para a banheira cheia de gelo. As extrações foram rápidas, apesar de não haver necessidade de pressa. O sonífero que eu colocara em sua taça era do bom. Modéstia à parte, sou especialista em “Boa Noite, Cinderela”. Os rins, fígado e coração iriam para a África do Sul, pra transplante. 38 mil Dólares pelos rins, 43 mil pelo fígado e 50 mil doletas pelo coração. O cérebro e os pulmões iriam para a suíça, ser estudados em uma renomada universidade. Nesse caso o pagamento era em Euros. A pele ia pra Paris. Estilistas utilizavam em modelos conceito de novas coleções. Casacos de pele humana são o que há. 100 mil Euros por uma couraça de responsa como a de Sabrina. As córneas iriam pra São Paulo, também pra transplante. 60 mil Reais. Precinho camarada pros amigos brasileiros. Pensei muito no que ela me disse sobre sua vontade de conhecer o mundo. Ela tinha paixão por viajar. E eu a ajudaria a realizar esse sonho. E o que é melhor, de uma vez só.

Fiquei lá, olhando e esperando os doutores terminarem a operação enquanto eu comia o resto do jantar. Pronto. Missão cumprida. Agora é só despachar o material e pagar os parceiros envolvidos. Falando assim, aparece até meio frio, mas na verdade não é. Eu sou bastante profissional, admito, mas a verdadeira razão disso é que eu sou um apaixonado pelo que faço. Amo minha atividade que, por acaso, também é bastante rentável. Mas mesmo que eu não recebesse um tostão por isso, continuaria traficando órgãos. Pois dinheiro é papel. O que vale é o que tá aqui ó (e aponto para o coração).

Eu também sou muito bonito por dentro.

Ação Leitura 2013 – Abertura e Comerciais

maio 13, 2013

Começa hoje mais uma edição da AÇÃO LEITURA. Esta noite, teremos Clotilde Tavares e Pablo Capistrano em um bate-papo bem legal na abertura que ocorre na UnP da Floriano Peixoto.

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Para quem ainda não viu na TV, aproveito para dividir com vocês os 3 comerciais de divulgação do evento criados pelo Comitê Criativo r produzidos pela ZAM House e Janilson Lima.