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UMA HISTÓRIA DA JOVENS ESCRIBAS – Parte 02 – Lítio – Cru, polêmico e indigesto.

janeiro 17, 2018

3 Capa Lítio FECHADA

Conheci Patrício Jr. por intermédio de Modrack Freire, o diretor de arte que criou o logotipo da Jovens Escribas. Eles haviam sido dupla de criação em agência de propaganda e agora trabalhavam em empresas distintas. Naquele tempo, tínhamos 23 anos, eu andava pesquisando escritores jovens para tentar formar um coletivo e viabilizar publicações de nossos livros de estreia. Patrício, segundo me havia dito Modrack, tinha escrito um romance. Nos encontramos em um bar muito popular à época segundo o critério do nosso poder aquisitivo: o “Filé Miau”. Era um bar de espetinhos anterior à era da “Gourmetização”.

O livro que Patrício escrevera era um romance. Pelo que descrevia, era uma história bastante instigante, de jovens que passavam tempos difíceis, às voltas com angústias próprias do seu tempo, inseguranças mil e clara tendência à autodestruição. Havia também um envolvimento afetivo entre um casal de protagonistas, além de ter o suicídio como tema constante em toda a narrativa. O título da obra seria “Lítio”, medicamento utilizado por quem apresenta flutuações de humor típicas de transtorno bipolar.

Nos dias seguintes, passei a acessar o blog recém-publicado de Patrício (PLOG) e percebi que, de fato, o autor escrevia muito bem. Se juntássemos o estilo do texto ao enredo que ele havia exposto na mesa do bar, percebi que o tal “Lítio” seria um livraço, perfeito para compor a coleção que se iniciaria com o volume de crônicas “Verão Veraneio”, de minha autoria.

Inscrevi um projeto na Lei Municipal Djalma Maranhão de incentivo à Cultura. A ideia era conseguir financiamento, via renúncia fiscal, para publicar livros de 4 autores, de estilos literários diferentes: crônicas, romance, contos e poesia.

No entanto, percebi que uma das maiores virtudes de quem trabalha com publicação de livros é a paciência. O dinheiro proveniente da lei de incentivo, cujo patrocinador foi a agência Art&C, caía mensalmente, mas demoraria muitos meses para que tivéssemos capital suficiente para produzir algum livro. Nesse meio tempo, acabei publicando meu “verão veraneio” com dinheiro próprio e o de Patrício, que seria o segundo da fila de publicações patrocinadas, veio para a dianteira.

Com o patrocínio caindo em conta-gotas na conta do projeto, o escritor teve que exercitar sua temperança. Para que se tenha uma ideia, “Verão Veraneio” foi publicado com recursos próprios e, por isso, foi lançado em fevereiro de 2004. Já “Lítio”, tendo que esperar a grana da lei, veio ao mundo em dezembro de 2005, quase dois anos depois. Só a captação de verba levou 18 meses para ser concluída. Numa das conversas que tive com Patrício, diante de minha sugestão de que poderia ser uma boa adiar o lançamento para depois do carnaval, argumentando que diminuiria a concorrência com eventos de fim de ano e lançando mão da boa e velha cartada “já esperou até agora, espera um pouco mais”, ele respondeu: “se eu esperar mais, vou acabar botando um ovo”.

O livro saiu em dezembro. O ovo, felizmente, não.

2009 – Imagem 14 – Lançamento Lítio Patrício

Patrício clicado por Drika Silveira.

O tempo de espera, no entanto, acabou sendo positivo por outro motivo. Graças a ele, pudemos elaborar melhor outra iniciativa: a Jovens Escribas. Patrício trouxe bastante energia e empolgação, agregando novos nomes ao nosso grupo em formação. Logo, ele, eu, Minchoni e Thiago de Góes estávamos conhecendo nomes como Márcio Benjamin, Daniel Liberalino, Lucílio Barbosa, Ruy Rocha, Pablo Capistrano e Clotilde Tavares, entre muitos outros nomes que compuseram um coletivo de autores a compartilhar seus assuntos em comum por e-mail. Além das mensagens trocadas num grupo de mensagens (o que hoje seria equivalente a um grupo de WhatsApp), começamos a nos encontrar e nos conhecer pessoalmente. Foi um tempo de muita alegria, descoberta e a sensação de que estávamos iniciando algo importante no cenário cultural local. Muitas tertúlias regadas a cerveja e planos de sucesso, animadas por trocas de referências culturais e literárias. Um tempo feliz em cuja principal motivação daqueles jovens promissores, ainda na primeira metade dos 20 e poucos anos, se baseava na possibilidade de acumular o máximo de leituras possível.

3MegaCam

Uma das primeiras reuniões dos Jovens Escribas originais.

O “Plog”, página mantida por Patrício, revelou-se o ponto de aglutinação da turma, como um veículo oficial a impulsionar e transmitir tudo o que conversávamos na lista de discussão. Tudo foi tentado: um romance coletivo em que cada autor convidado escrevia um capítulo, um diário em que Patrício falava sua opinião sobre cada um de nós, colaborações semanais de outros escritores para o conteúdo do Plog. Lembro que Pilar Fazito, autora mineira que morava em Natal naquele ano era mais uma habituê de nossos encontros e vivia conosco aquele clima de efervescência. Outro forasteiro, Luiz Benevides, do Rio de Janeiro, também acompanhava tudo à distância. E todos nós estávamos absolutamente encantados por Patrício e sua personalidade magnética e agregadora. Eu enxergava nele, assim como em Minchoni, dois potenciais líderes que dividiriam comigo a responsabilidade e os louros da Jovens Escribas comigo.

Voltando ao livro, o diretor de arte que trabalharia nele seria o mesmo de “Verão Veraneio” e do próprio logo da editora, Modrack. A capa (mostrando um personagem sem face) seria clicada novamente por Giovanni Sérgio com tratamento de imagem e montagem realizadas por Fabrício Cavalcante, que no futuro seria a mente por trás da “Camaleão Imagem”.

Com o trabalho do livro em andamento, era hora de elaborar uma campanha de divulgação. O próprio autor se encarregou de criar uma campanha com títulos sagazes fazendo referência à trama do romance, cheios de ironia e bastante adequados à história. O conceito dado por Patrício chamou a atenção. Ele dizia que seu livro era “cru, polêmico e indigesto”, anunciando que ele incomodaria muitos leitores, que veio para mexer com os sentimentos e revirar estômagos mais sensíveis. Em postagens no seu Plog, Patrício complementava os anúncios, descrevendo o quanto dele mesmo estava no texto transformado em obra de estreia. Relatava que trechos inteiros foram escritos com o teclado banhado em lágrimas, ou que muitas de suas angústias, inseguranças e mistérios pessoais embalaram os capítulos da história. Para completar, ele ainda escolhia a dedo os parágrafos que publicava na divulgação, partes que contivessem palavrões ou desabafos verborrágicos e ofensivos do autoconfiante protagonista em momentos de extrema excitação.

Essa atmosfera criada pelo autor atraiu bastante atenção para o livro. Foi algo meio “A Bruxa de Blair”. Muita gente dizendo que não iria querer ler o livro, pois devia conter um conteúdo pesado demais. Outros afirmavam que, apesar de ser um livro “pra chocar”, tinham bastante curiosidade em saber do que se tratava e iriam comprar a obra. Enfim, a campanha estava sendo muito eficaz em mostrar às pessoas que o conteúdo era “cru, polêmico e indigesto”.

As peças foram amplamente divulgadas pela rede mundial de computadores e Patrício usou sua extensa relação de amigos, colegas e conhecidos para potencializar a promoção. Contamos ainda com matérias bem bacanas nos principais veículos da época.

Lítio Capitalismo e Suicídio

Lítio Chacina

Lítio Cinema

Lítio Cicuta

Repetimos algumas estratégias do primeiro lançamento da editora para facilitar a assimilação do público e fidelizar leitores que já haviam ido ao lançamento do meu primeiro livro (“Verão Veraneio”), no ano anterior. Lançamos novamente na AS Livros, no Praia Shopping e contamos com a ajuda dos mesmos formadores de opinião que nos deram força no outro lançamento.

Lítio Cultura

Lítio Herói

Lítio Poço

O lançamento de Patrício contou ainda com um trunfo adicional: como ocorreu numa época em que os Jovens Escribas já estavam mais consolidados como um grupo, tanto eu, como Minchoni e Thiago de Góes divulgamos como pudemos o lançamento de Patrício, convidando nossos amigos a comparecerem com o argumento de que aquele não era apenas o lançamento do livro de um escritor amigo nosso, mas o resultado de um trabalho do qual nós também fazíamos parte. Era como se o livro de Patrício fosse também um pouco nosso.

E deu certo!

Apareceram muitos amigos, não só de Patrício, mas dos outros autores. Patrício ficou lá assinando os livros, enquanto Minchoni e eu fizemos as vezes de anfitriões, recebendo e distraindo os convidados. No fim da noite, um sucesso de vendas. Patrício até que estava feliz, mas se mostrava muito mais nervoso. Sorria amarelo, respondia aos parabéns com um obrigado tímido, não parecia nada à vontade.

Lítio Vilão

Lítio Liminar

Lítio Prozac

Lítio Hoje

Foram vendidos cerca de 70 exemplares da tiragem de 300 que havíamos impresso. Depois do lançamento, fomos tomar umas cervas no Gringo’s Bar. Não esticamos muito, uma vez que trabalhávamos no outro dia. Cheguei em casa e decidi ler o livro com mais atenção, uma vez que na fase de preparação, li apenas alguns trechos principais.

2005 – Imagem 04 – Lançamento Lítio Patrício

Surpresa: o texto polêmico, pesado ou mesmo difícil. Pelo contrário, era fluído, divertido, envolvente, empolgante, trazia elementos metalinguísticos que convertiam o leitor em cúmplice, inseria lembranças e “flashbacks” que nos transportavam até as vidas pregressas dos narradores, nos fazendo embarcar em seus pontos de vista, compreendendo a posição de cada lado da conversa telefônica que conduz a narrativa, trazia ainda um ritmo ficcional quase audiovisual de tão frenético. Era, conforme eu já havia concluído, um livraço.

Cheguei ao trabalho na manhã seguinte e mandei uma mensagem pra Minchoni: “Li 60 páginas do livro de Patrício antes do café-da-manhã”, ao que ele respondeu: “Li 160!”.

O livro não era cru, não era polêmico. E, acima de tudo, não era nada indigesto!

NO PRÓXIMO TEXTO: É TUDO MENTIRA E OS 40 LEIAUTES!

 

UMA HISTÓRIA DA JOVENS ESCRIBAS – Parte 01 – Verão Veraneio – O livro da estação.

janeiro 16, 2018

1 Capa Verão Veraneio FECHADA

Enquanto as conversas com os outros 3 autores caminhavam para o surgimento do selo Jovens Escribas, eu continuei escrevendo crônicas de humor para compor o meu primeiro livro. Já havia decidido qual nome dar à iminente publicação: “Verão Veraneio – Crônicas de uma cidade ensolarada”.

Fui reunindo textos e fazendo, empiricamente, o trabalho de auto-edição que, mal sabia eu, marcaria bastante minha vida dali pra frente. Quando Modrack Freire, diretor de arte que já havia concluído o logotipo do selo, se ofereceu para fazer o livro, começamos a imaginar como poderia ser a capa. Logo criamos uma imagem em nossa tempestade cerebral: a foto de um baldinho de criança à beira mar sendo utilizado para gelar cerveja, unindo a inocência presente na leveza das crônicas com a irreverência do humor também bastante característico nos textos. Na quarta capa, haveria outra foto: uma trave de “mirim” deixada de lado com o chão impecável em torno dela. Como se os jogadores tivessem algo melhor para fazer naquele dia (beber, paquerar, curtir) do que jogar futebol. O fotógrafo convidado a fazer os cliques foi Giovanni Sérgio, mago das lentes, ídolo de longa data.

Giovanni e eu

O fotógrafo Giovanni Sérgio – lindo e competente.

Com a direção de arte, diagramação e fotos garantidas, precisava batalhar agora um nome relevante que topasse assinar as orelhas da obra. Tinha que ser alguém reconhecido na literatura, de forma que o livro chegasse às pessoas com algum respaldo importante. Meu pai, em conversa com François Silvestre, chegou à conclusão que eu poderia procurar Nei Leandro de Castro, uma vez que eram muito amigos desde os tempos em que foram perseguidos e presos pela Ditadura Militar algumas décadas antes. Procuramos Nei que, num primeiro contato por e-mail, disse-me com sinceridade que só escreveria se gostasse do que lesse. Fiquei muito animado com a possibilidade e lhe entreguei o material impresso e encadernado em mãos, numa de suas vindas a Natal, naquele ano de 2003.

Teaser 10 anos - Nei Leandro

Nei Leandro de Castro

Menos de uma semana depois, Nei Leandro me escreveu. Sua mensagem veio repleta de elogios e terminava com sua concordância em escrever a orelha. Em mais alguns dias, o texto estava em minha caixa de entrada de e-mail. Em alguns trechos mais lisonjeiros, Nei dizia o seguinte:

Carlos Fialho me surpreende. Primeiro, por sua precocidade. Segundo, porque as suas crônicas são bem escritas, docemente sacanas, inteligentes, e nos dá a certeza de um escritor, que não há de ficar nos limites da crônica.

Os textos deste livro têm a idade e a linguagem  de um garotão bem resolvido com ele mesmo. Os temas  – gírias regionais, porres, rock, vídeo-game, paqueras, Natal, cinema, carnatais, carnavais, etc. – são tratados com graça e ironia, leveza e fino senso de humor.

Carlos Fialho, cronista, precoce, publicitário, devorador de livros, autor das crônicas deliciosas deste Verão veraneio, vai chegar lá. Esse garoto vai longe.

Além de Nei, procurei um autor adequado para o prefácio. Não precisava ser famoso, mas que tivesse um estilo mordaz e bom humor, de forma a combinar com o conteúdo do livro. Escolhi meu ex-colega de faculdade, George Wilde, que fez um texto preciso, de acordo com o que eu pretendia. Destaco uma pequena parte:

Fialho e George

George Wilde – o homem do prefácio

Ao ler o livro, descobri que dentro de Fialho existe algo grandioso: a sua percepção em relação ao nosso dia a dia. Afinal, poucas pessoas conseguem sair do círculo da rotina para perceber o verdadeiro circo em que vivemos.”

A campanha publicitária foi elaborada com alguns títulos bem humorados, bem ao estilo do livro. A assessoria de imprensa contou com indicações de colegas do curso de Jornalismo da UFRN.

anuncio verissimo

2004 - VV - Anúncio Art&C

Anúncio que a Art&C, agência onde eu trabalhava, fez no dia do lançamento.

Minha primeira entrevista foi concedida a Marcílio Amorim (Jornal de Hoje) e a segunda a Hayssa Pachêco do Diário de Natal. Mas a maior responsável pela divulgação do meu primeiro lançamento não era a imprensa nem a publicidade. Quem promoveu o evento a ponto de transformá-lo em sucesso foi minha mãe, Lurdete.

2004 - VV - JH1 2004 - VV - DN

Quando percebeu que era sério mesmo “essa história de livro”, arregaçou as mangas e telefonou pra cada parente, cada amiga, cada conhecido, reforçando bastante a frequência de presentes na noite de Verão Veraneio. O local escolhido foi a AS Livros do Praia Shopping, uma livraria acolhedora que tinha como gerente Cícero, um cara que dava bastante espaço a autores locais. O saldo da noite foi um estrondoso sucesso (163 livros vendidos) num ambiente preenchido de amigos, parentes e colegas de trabalho. Só a partir do segundo livro, essa frequência seria reforçada por leitores.

foto 27

Minha mãe, Lurdete, a maior promotora de lançamentos de livro que este autor já conheceu.

A noite foi tão agradável que Patrício Jr., que escrevia um blog, publicou uma postagem falando de como fora legal o evento (a qual reproduzo no fim desta publicação). Foi um belo cartão de visitas, indicativo do que estaria por vir num futuro não tão distante e também das possibilidades de crescimento e expansão que o então selo editorial acabaria por aproveitar com o passar dos anos.

2004 - VV

Quanta gente veio ver!

“Verão Veraneio – Crônicas de uma cidade ensolarada” trazia 5 capítulos. No primeiro, “Galado e outras palavras”, havia temáticas mais gerais. Entre elas, alguns textos merecem destaque como “Galado” que me notabilizou em muitos rincões da Internet e “A Loja de Inconveniência” que até hoje se mantém como um dos meus preferidos. No segundo capítulo, “Cruvinel – o bom de bola”, apresento um personagem que me acompanhou com o passar dos anos e que ganhou livro próprio em 2014 (“o nome disso é spin-off”). No terceiro, “Mano Celo”, nascia o protagonista de outro dos meus livros, este de 2009. Em seguida, vinha “Vi e gostei” com crônicas sobre cinema. Para fechar, o capítulo mais legal do livro: “Aconteceu no verão” com as histórias pertinentes ao tal “Verão Veraneio” que dá título ao livro.

E assim foi dado o pontapé inicial para a, hoje decana, editora JOVENS ESCRIBAS.

NO PRÓXIMO TEXTO: LÍTIO – CRU, POLÊMICO E INDIGESTO

***

BÔNUS: POST DE PATRÍCIO NO SEU BLOG PESSOAL – O PLOG

06/02/2004
há vida inteligente
no mercado publicitário

Quem trabalha com publicidade sabe: de tempos em tempos, tem uma “festa do mercado”. Tais eventos, sempre patrocinados por veículos, fornecedores, clientes ou ambos, têm por maior finalidade embebedar todo mundo, calar a boca de quem está perscrutando que o ano foi ruim e, por residual, reunir profissionais para um bate-papo informal. Pois é, parece um paraíso, mas tais “festas do mercado” haviam se tornado um verdadeiro transtorno. Passo o dia todo numa sala falando/fazendo/refazendo/desfazendo/tentando fazer publicidade. A última coisa de que preciso é estender esta missão ao meu happy-hour. Como prova de que nem tudo está perdido, houve esta semana o lançamento do livro de Fialho, “Verão Veraneio”, que não pretendia ser uma “festa de mercado”, mas acabou sendo por reunir exatamente as mesmas carinhas de sempre. O que me surpreendeu foram os temas das conversas. Ninguém, por exemplo, me perguntou “Como é que está la’?”. Ok, tudo bem, uma pessoas me perguntou isto, mas o assunto morreu quando eu respondi “Lá onde?”. Uma pessoa a noite inteira. Nada mal. Em outras “festas de mercado”, a famigerada pergunta “Como é que está lá?” é dita antes mesmo do “Tudo bem, broder?”. Já é, praticamente, sinônimo de oi. No lançamento de “Verão Veraneio”, porém, tudo foi diferente. Fialho conseguiu a façanha de reunir as mesmas pessoas de sempre fazendo, no entanto, com que todas soassem inéditas. Não sei se foi o fato de estarmos todos na AS Livros, rodeados de Dickens e Saramago e Proust e Pessoa e Machado e Camus. Birita? Claro que teve. Buffet? Sim, impecável. Bêbados chatos? Uh, nossa, e como! Mas estava tudo agradabilíssimo, tudo soando como um lançamento deve soar. Os temas conversados iam de autores consagrados a bandas de rock obscuras, sempre com tiradas inteligentes, observações pertinentes, risos na medida certa. Um éden para amantes do bom e velho papo construtivo como eu. Nunca gostei tanto das “pessoas do mercado”. O livro, graças aos céus, vendeu bem. Fialho, coitado, deve estar cheio de bolhas nos dedos de tantas dedicatórias escritas. E eu, exemplar autografado na mão, cheio de riso a caminho do estacionamento, concluí que a melhor das “festas do mercado” que eu já fui na minha vida foi o lançamento do livro do meu bróder. Mesmo que não tenha sido uma “festa de mercado”.

Patrício Jr.

UMA HISTÓRIA DA JOVENS ESCRIBAS – Parte 00 – Não existe escritor jovem!

dezembro 25, 2017
Patrício Mincha Fialho 2006

Patrício, Minchoni e Fialho, jovens e viçosos.

No dia 05 de fevereiro de 2018, a Editora Jovens Escribas completará 14 anos de existência oficial. Tá uma moça, como dizem os mais velhos. Já são mais de 150 títulos publicados, muito aprendizado e inúmeras amizades adquiridas, além de, claro, ótimas histórias pra contar. Bem, comecemos do princípio.

Em fins dos anos 90, eu fazia duas faculdades de Comunicação Social. Pela manhã, fazia Jornalismo na UFRN e, à noite, Publicidade na UnP. Ainda encontrava tempo para estagiar à tarde e, nas horas vagas, para ver filmes, jogos e ler alguns livros legais. Naquele tempo, incentivado pela leitura de crônicas de Luís Fernando Veríssimo, decidi tentar escrever textos curtos e criativos, leves e bem humorados, sobre qualquer assunto, o mundo em geral e o cotidiano em particular. Passei a colaborar com o zine, AZ Revista que revelou grandes nomes da comunicação como Caio Vitoriano, George Rodrigo, Paulo Celestino e Cristiano Medeiros.

Já na década seguinte, em 2001, fui passar uma temporada no Rio de Janeiro, para fazer um curso de especialização em redação publicitária. Nos primeiros tempos de Rio, eu frequentava a ESPM à noite e tinha o dia inteiro livre, pois só vim estagiar seriamente quando faltavam uns 4 meses para voltar a Natal. Dediquei-me então à leitura e à escrita de crônicas como exercício criativo.

Neste contexto, escrevi uma crônica chamada “Galado” que versava sobre este tão pitoresco termo do coloquialismo natalense. Envie o texto por e-mail para alguns amigos e, para minha surpresa, fez um estrondoso sucesso. Logo, o e-mail foi reenviado incontáveis vezes e minha autoria se perdeu pelo caminho. Senti, então, a necessidade de “registrar” meus escritos de alguma maneira. A princípio, procurei os jornais locais, mas ninguém queria publicar os textos de um estudante. Ainda mais um que tinha um palavrão por título. Tomei então uma decisão importante, que mudaria minha vida anos mais tarde: publicaria um livro com minhas crônicas.

Entre 2001 e 2003, reuni e selecionei cerca de 50 textos. Submeti-lhes à leitura sempre cuidadosa e sincera de Nei Leandro de Castro, que pediu para ler antes de aceitar (ou não) escrever a orelha. No fim do ano, o arquivo com o livro já estava sendo trabalhado pelo diretor de arte Modrack Freire. Neste meio tempo, porém, uma questão me veio à mente. Quando, em conversas informais, as pessoas sabiam que eu estava preparando um livro de minha autoria, costumavam dizer: “Que legal! Não existem escritores jovens, né?”

Comecei a pesquisar e percebi que as pessoas tinham razão. Os jovens estavam publicando em blogs, sites, fanzines e outras mídias populares na época, mas não livros. Procurei outros caras da minha idade (tinha uns 23 anos) que tivessem escritos em volume suficiente para se tornarem também livros. Dessa forma, com a ajuda da lei municipal de incentivo à cultura e de alguma empresa que pagasse bom volume de ISS, lançaríamos uma série de livros sob a égide de uma mesma marca, um selo editorial que legitimasse nossa coleção de publicações.

O nome criado, JOVENS ESCRIBAS, remetia à junção do novo ao antigo, remetendo à infante energia cheia de vida e disposição dos jovens empreendedores da jornada e também à verve tradicionalista que não se satisfazia com as novas mídias, com os canais proporcionados pelo advento da Internet, mas que queriam sim ver suas criações impressas em papel, num formato padrão encapado, colado e costurado. O logotipo elaborado por Modrack Freire alude ao nascimento de novos escritos, pois traz um pingo de tinta como uma gota de esperma com o nome do selo editorial em seu interior.

O recrutamento dos companheiros de jornada não seria fácil. Era importante que nossa coleção de 4 livros tivesse gêneros distintos. Eu escrevia crônicas, então precisávamos de um contista, um poeta e, se possível, um romancista. O contista foi mais fácil, pois eu conhecia Thiago de Góes desde o colegial e sabia que ele andava escrevendo contos populares, influenciado pela leitura de autores brasileiros como Rubem Fonseca. Quando entrei em contato, ele me falou sobre um projeto que estava trabalhando que era a confecção de contos baseados em canções bregas. Gostei da ideia.

O poeta e o romancista surgiram por indicação. Um amigo publicitário, Renato Quaresma me disse certa vez que um colega chamado Daniel Minchoni andava declamando poesias de sua autoria pelos calçadões de Ponta Negra. Procurei Mincha para falar do selo e perguntar se ele tinha interesse em publicar.

Por fim, Modrack me apresentou a Patrício Jr., um grande amigo seu que tinha acabado de escrever um romance que se chamaria “Lítio”.

Nos encontramos Daniel, Patrício e eu (Thiago mora em Fortaleza e quase nunca estava em nossas reuniões) e topamos construir o projeto juntos. No início, achávamos que publicaríamos aqueles livros de estreia e pararíamos por aí. Ou que até continuaríamos, mas com os livros seguintes lançados por outras editoras, grandes, do sudeste. Não tínhamos ideia de como este universo editorial do eixo Rio-SãoPaulo era fechado a poucos. Nem percebíamos que tínhamos acabado de conceber uma ideia muito mais forte e duradoura do que um simples e passageiro selo editorial. O simples fato de termos decidido fazer algo coletivo, juntando vários autores em torno de um objetivo em comum daria à Jovens Escribas uma força extra que se tornou o segredo de boa parte do nosso sucesso.

Thiago de Góes - Dia do escritor 2013

Thiago de Góes

Por essas falhas de avaliação inicial, pode-se perceber o quanto éramos, de fato, jovens e ingênuos. Com isso, é possível compreender inclusive o nome de batismo do então selo editorial, que não levava em consideração que envelheceríamos rápido, que um dia publicaríamos autores já bem entrados nos enta e que nossa marca duraria bem mais do que uma embrionária coleção de 4 livros.

NO PRÓXIMO TEXTO: VERÃO VERANEIO – O LIVRO DA ESTAÇÃO

 

Coluna do Novo Jornal – 114 – 10.11.2012 – Foca, Ana e o Festival Dosol

julho 23, 2014

Esta é uma “crônica exaltação”, uma espécie de elogio em forma de texto que sempre faço a pessoas que realizam trabalhos edificantes e valiosos, ilhas de empreendedorismo cultural e humano em meio a todo um oceano de mediocridade que insiste em nos rodear e pilhar quaisquer indícios civilizatórios com um tsunami de chorume e burrice endêmica.

Ana e Foca não são assim.

ainda bem.

***

Foca, Ana e o Festival Dosol

Ana e Foca

Foca e Ana na frente do Centro Cultural Dosol – foto Tribuna do Norte.

Hoje é um dia muito importante no meu calendário pessoal, cultural e de lazer. Terá início em Natal mais uma edição do Festival Dosol, celebração musical que vai além do mero entretenimento vazio de outros eventos anuais que recebem vultosos investimentos públicos sem oferecer à cidade seque ruma mísera fração do que o Dosol nos devolve em contrapartida a sua realização. Em dois dias de apresentações, dezenas de bandas, muitas delas locais, passarão pelos 2 palcos da Rua Chile.

Vários dos rapazes e moças munidos de guitarras, baquetas ou simplesmente de suas vozes foram doutrinados e tiveram suas bandas “incubadas” a partir da estrutura e estratégia montada pelo casal à frente do Dosol, Ana Morena Tavares e Ânderson Foca. A combinação selo musical, estúdio para ensaio e gravação, Centro Cultural para apresentações e um longevo e respeitado festival anual, promovendo intercâmbio com bandas de outros lugares, além da oportunidade de tocarem para uma plateia ampla, faz com que surjam novos grupos, gente tocando e compondo música autoral, dando vazão a todo um potencial criativo represado e que encontra no Dosol uma maneira de extravasar seus dotes artísticos de uma forma mais construtiva do que simplesmente pegando uma latinha e batendo uma na outra: tchá, tchá!

 

ATENÇÃO: INTERROMPEMOS ESTA COLUNA PARA UMA BREVE REFLEXÃO!

Aqui cabe uma reflexão que não me canso de propor. O trabalho colaborativo do Dosol tem beneficiado a cultura local ao promover a formação de público para a música autoral, dar a oportunidade de artistas amadurecerem e desenvolverem suas habilidades. Tudo isso numa região da cidade que permite não infernizar a vida de nenhum dos seus habitantes. Em resumo: os benefícios gerados são divididos entre muitos. Em contraponto, o que foi que o Carnatal gerou além do enriquecimento de alguns empresários como Paulinho Freire e os donos da Destaque? Alguém conhece uma banda local surgida a partir do evento festivo puxado por trios elétricos? E nem me venham com a história de que ele gera trabalho e renda, pois as migalhas que acabam caindo nas mãos do povo são pouco menos que uma mísera esmola diante dos milhões em dinheiro público embolsados pelas empresas promotoras. Isso num evento que cobra centenas de reais por cada dia de folia, altamente rentável e, certamente, autossustentável. Na boa, o maior legado dos 4 dias de folia é o cheiro de mijo que impregna nossos narizes na segunda pós-evento.

AGORA VOLTAMOS A NOSSA COLUNA NORMAL.

 

O grande mérito do festival ribeirinho é não sucumbir à armadilha fácil que captura 9 entre 10 natalenses, o lugar-comum do “se dar bem sozinho”, do “farinha pouca meu pirão primeiro” e do egoísmo de ocasião (qualquer ocasião) que impera na cidade. O voluntarismo da trupe roqueira não é exclusiva deles. Podemos perceber também em iniciativas admiráveis como a Casa da Ribeira, o Clowns de Shakespeare e diversas outras. É esse perfil generoso e colaborativo que está por trás do crescimento do evento e da expansão para Mossoró, Caicó e São Paulo de Piratininga. Obviamente, tudo é fruto de muito trabalho e de uma persistência quase obsessiva que percorreu os anos. Posso afirmar com conhecimento de causa, uma vez que fui testemunha ocular da história de Foca desde que ele era apenas um esforçado pegador de ondas vindo do Pará.

Conheci Ânderson através de dois amigos em comum, Caio Vitoriano e Leonardo Medeiros, em um dezembro qualquer dos anos 1990. Naquela estranha e derradeira década do milênio passado, ele era um dos caras que proporcionaram com que se pudesse sair por aí para ouvir algo além do ritmo preferido dos natalenses, o forró-pagode-axé. Eram anos estranhos e algumas válvulas de escape pop respondiam por “Banda Officina” e “Inácio Toca Trumpete” (de Karol Polsadski), além dos ótimos “Mad Dogs” dos ídolos supremos de várias gerações: Paulo Sarkis e Fernando Suassuna.

Quem também fazia parte da “Officina” era Ana Morena. Em meio a uma cidade monocultora por convicção, o casal e seus colegas de banda conseguiam viver de Pop-Rock com bons vencimentos a cada mês. Isso mostrava um lado empreendedor bastante apurado e uma firmeza de propósitos de quem realmente queria atingir seus objetivos. Em que pese eu acompanhar os shows como amigo dos vocalistas, o que me converteu em fã de ambos foi o trabalho árduo à frente do Dosol, iniciado anos depois. Foi ali que eles me convenceram da importância do que faziam, ganhando pontos e estrelas no boletim hipotético no qual emitimos notas mentais e julgamos todas as pessoas que conhecemos em nosso inconsciente.

Com a abnegação, sacrifícios e conquistas obtidas, Ana e Foca evoluíram na classificação de amigos para essas pessoas que a gente tem orgulho em conhecer. Subiram o elevador no meu conceito em virtude de um trabalho notável, colocando Natal entre as cidades onde acontecem coisas boas, que recebem bons concertos de cultura alternativa, por onde passam bandas legais que gostaríamos de ver ao vivo.

Todo mundo deve ter alguém com história semelhante. Um cara que se conhece há tempos e que prospera, vence, se destaca, faz e acontece, nos deixando felizes, como se também fizéssemos parte, de alguma forma, das façanhas empreendidas. Em mim, gera uma sensação boa, pois gosto de verdade de acompanhar o êxito dos amigos. Como fiquei em 2007, quando o festival perdeu o patrocínio devido às jogadas do Governo do Estado e da Fundação José Augusto e mesmo assim ele realizou o festival com mais de 50 bandas, muitas tocando de graça, na brodagem, pra ajudar diante da situação difícil. Vários grupos hospedados em casas de amigos.

E agora chegamos a 2012. Mais uma edição do Festival Dosol tem início. É hora de celebrar o fato de um trabalho persistente, bem feito, prospere e faça tão bem à cidade e sua cena cultural. Todas as iniciativas do Dosol representam uma vitória contra o marasmo, a mesmice, a mediocridade e a estagnação. O sucesso da dupla organizadora e de suas invenções é também uma prova que boas coisas nascem, crescem e prosperam nesta acéfala e ensolarada capital potiguar.

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Lançamento da JOVENS ESCRIBAS no Rio de Janeiro – 25.03.2014

março 24, 2014

Lanç RJ - Fialho

Amanhã (terça – 25 de março de 2014), a Editora Jovens Escribas vai lançar os livros de 3 autores no Rio de Janeiro. São Eles, Leonardo Panço, Nei Leandro de Castro e Carlos Fialho. O evento faz parte da nossa turnê pelo sudeste em comemoração aos 10 anos de atividades empreendidas por nossa editora e pelo coletivo de autores que arregimentamos em torno dela.

Após um bem sucedido evento em BH no sábado, agora é a vez dos leitores cariocas receberem nossa visita.

Serão levados ao Rio, os livros “Esporro” e “Caras dessa idade já não leem manuais” de Leonardo Panço; “As Dunas Vermelhas”, “Pássaro sem sono”, “O Dia das Moscas” e “50 anos de poesia” de Nei Leandro de Castro; “As maiores mentiras do verão” e “Não basta ser Playboy. Tem que ser DJ!” de Carlos Fialho.

Quem estiver no Rio nesta terça, dá uma passada lá no bar e restaurante DESACATO, no Leblon. Vários escritores e amigos da editora residentes na cidade estarão lá pra prestigiar.

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E quem quiser aproveitar, poderá adquirir os vários livros lançados e vendidos na noite por preços promocionais.

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Coluna do Novo Jornal – 108– 29.09.2012 – Jonas Camarão

março 20, 2014

Em 2012, li um romance muito legal: “Cidade dos Reis” (FJA-2012) de Carlão de Souza. Gostei tanto que escrevi a respeito e publiquei em minha coluna no Novo Jornal.

Boa leitura! E, se puderem, leiam também o livro que é bom à beça.

***

Jonas Camarão

Carlão de Souza. Foto: Elisa Elsie

Carlão de Souza. Foto: Elisa Elsie

Por que somos do jeito que somos? Qual a razão de nos comportarmos desta ou daquela forma? Qual a explicação para reagirmos assim ou assado diante das mais variadas situações cotidianas que a vida nos prepara? Quando um de nós vai a um psicólogo em busca de respostas, as perguntas sobre nosso passado são pequenas pistas que o analista dispõe sobre a mesa do inconsciente para desvendar o grande mistério que vem a ser a nossa vida. O que ocorreu conosco durante o nosso crescimento, e mesmo em tempos recentes, pode explicar muito sobre nós. Os traumas, as escolhas, as experiências, influências mil que compõem a complexa personagem de cada um, protagonistas que somos de nossas infinitas narrativas em primeira pessoa.

Lendo o mais recente romance de Carlos de Souza, “Cidade dos Reis” (FJA-2012), concluí que este raciocínio poder ser aplicado também a uma cidade. Tudo porque Carlão resolveu nos contar a sua versão da história de Natal nos últimos 100 anos. Começando pelo 1º dia do século passado e concluindo a história na derradeira folha do calendário de 2000, a vida de Natal e mesmo do RN é revelada aos felizes leitores desta obra altamente recomendável a todos que tenham o mínimo de curiosidade a respeito do que aconteceu nesta metrópole com alma de província ou quer encontrar respostas de como viemos a ser como somos.

Jonas Camarão nasceu em 1º de janeiro de 1901. Era descendente direto do herói duvidoso Felipe Camarão, homem de caráter questionável a ilustrar os livros de história do nosso Estado. Jonas viveu exatamente um século e, como nunca saiu do RN, a não ser para umas tantas e rápidas idas a Recife a fim de fechar negócios, acompanhou de perto todos os acontecimentos políticos, sociais, econômicos e as transformações ocorridas em Natal e arredores. Viu as mudanças de governos, a evolução nos hábitos e costumes, a chegada do automóvel, as alterações urbanas da cidade (incluindo o plano Palumbo), a vinda (e depois partida) dos americanos entre tantos outros acontecimentos relevantes.

O protagonista, em que pese a origem humilde, devido ao grande esforço dos pais, estudou no Atheneu, acabando por se tornar um comerciante de sucesso. Ou, como ele próprio dizia: “Comerciante não. Negociante!” Tornou-se um típico cidadão da capital potiguar. Pacato, de índole dócil e conservador. Tanto que lhe causava profunda contrariedade a maneira como os empresários locais faziam questão de derrubar edificações clássicas para construir caixas horrendas em seus lugares, não importando a relevância do que se destruía. Sobre isso, o narrador declara: “Uma cidade se diminui quando elimina seu passado. Natal está sempre sujeita a sucumbir a qualquer ilusão de modernidade. Os poderosos, verdadeiros donos desta cidade, estão sempre dispostos a destruir qualquer bela construção para erguer algo novo no lugar. É uma cidade sem memória.”

Jonas também nunca se conformou com determinados traços flagrantes de miudeza da alma que faziam o povo potiguar se comportar de forma a voltar-se uns contra os outros. Indignava-se sobretudo com a maledicência do povo e a mania de maltratar os conterrâneos, principalmente os que ganham algum destaque, diminuindo seus méritos e desvalorizando seu trabalho, comportamento típico de gente invejosa, cujas janelas permanecem sempre abertas para a vida alheia. Em dado trecho, referindo-se a grandes artistas que não obtiveram o reconhecimento devido por essas plagas, o texto diz: “Aqui ninguém suporta o sucesso alheio. Esta é a cidade da inveja e do olho gordo. Se o vizinho comprar algum objeto de desejo, se alguém adquirir algo grandioso, se alguém se destacar, passa a ser motivo de ódio dos demais. O ditado diz que ninguém é profeta em sua terra. Isto, em Natal, ganha proporções desérticas… É uma cidade amordaçada. Seus filhos mais ilustres são como profetas que pregam no deserto para gafanhotos indiferentes.”

O próprio personagem principal se viu como vítima de fofocas: “Jonas percebia o olhar jocoso por trás das palavras falsamente respeitosas que lhe dirigiam. Fingia não dar atenção, mas por dentro estava nascendo um rancor tão refinado que poucos iriam perceber o quanto iria odiar as pessoas da sua cidade nos anos vindouros.”

Apesar de ter vividos os dissabores e decepções comuns à grande maioria de nós, Jonas prosperou como comerciante, desfrutando de uma vida plena e confortável. Tinha a sorte dos predestinados. Tudo lhe favorecia nos momentos em que mais precisava. Mesmo quando sofria um forte revés, logo o destino lhe presenteava com um golpe de sorte. Graças a isso, não passou grandes apertos com dinheiro. Os maiores sobressaltos vividos por ele se relacionavam ao contexto histórico vivido, fosse a 2ª Guerra Mundial ou a estúpida Ditadura Militar. Tanto que o narrador opta por eliminar a figura de um vilão central, antagonista do “herói”. Um dos personagens que apresentou potencial para ser esta encarnação do mal, que temperaria a trama e criaria conflito suficiente para dar uma maior complexidade à ficção, não se desenvolve para se converter neste malfeitor clássico. Esse expediente (de condicionar as ações do personagem a fatores externos) permitiu ao narrador dar maior enfoque à história de Natal sem maiores distrações.

Mesmo sendo um homem à moda antiga, como a grande maioria da população de Natal, o negociante, diferentemente de nossa elite empresarial e política, formada basicamente por ignorantes endinheirados, amava a literatura e devotava enorme admiração por Câmara Cascudo. Esta é outra tacada certeira do autor. Por meio dessa preferência do protagonista, o autor nos conduz pelas vidas e obras de Auta de Souza, Henrique Castriciano, Zila Mamede e Cascudo, entre outros, citando os livros lançados com o passar dos anos. Os lançamentos de Cascudo, por exemplo, são introduzidos na história com muita naturalidade, entremeando a narrativa marcada por sucessões de governos e a passagem do tempo para Jonas. Com isso, os leitores têm a oportunidade de compartilhar do conhecimento de Carlão acerca de nossos grandes autores.

Tal apreço de Jonas Camarão pela vida intelectual contrasta com muitos dos seus colegas empresários locais, tão indiferentes a todos os assuntos que não se relacionem a dinheiro. Sobre isso, o narrador se questiona: “Como seria a vida de alguém assim, cuja única diversão é ganhar dinheiro? Que tipo de vazio poderia ser preenchido apenas com o ato mecânico de faturar mais? Que almas abrigam espíritos tão embrutecidos?” Em certo momento, também relata um comportamento frequente entre a elite natalense: “Enquanto se é rico, todas as atenções lhe são prestadas. Quando se é pobre, todos viram as costas. Você vale o que possui.” A conclusão a que chega é que, em face à forma desumana com que os empregadores tratam seus funcionários, “Aqui, a revolução industrial chegou com atraso”.

O livro de Carlos de Souza é indispensável a todos aqueles que pretendem aprender sobre Natal, o Rio Grande do Norte e, por extensão, sobre si próprios. Recomendo. 

Marvel Comics: a história de quem fez história contando histórias

março 19, 2014

Marvel

Adquira já o seu nas melhores casas do ramo.

Li mês passado o livro “Marvel Comics – A História Secreta” do jornalista americano Sean Howe. Um livraço que conta em detalhes toda a trajetória da editora de quadrinhos mais popular do mundo desde a sua fundação até o estrondoso sucesso do Marvel Studios. Em muitos momentos, fã devoto que sou, senti-me como um religioso ao descobrir as (muitas) faltas daqueles que comandam os destinos de sua fé.

A Marvel foi desde sempre o lar de algumas das mentes mais brilhantes e produtivas de suas gerações, porém também viveu muitas controvérsias, foi palco de disputas agressivas e deu lugar a atitudes bastante questionáveis (para dizer o mínimo). Tantos foram os problemas enfrentados que é supreendente que tenha chegado tão longe e transformado suas histórias complexas e entrelaçadas (o chamado “Universo Marvel”) em um fenômeno de popularidade de escala mundial. Por outro lado, tantas (e acreditem: foram muitas) trapalhadas explicam o porquê de a empresa ter chegado tão tardiamente aos cinemas de maneira satisfatória.

O livro conta como empresários inescrupulosos que não davam a mínima para  quadrinhos, os personagens, a coerência criativa das histórias e, sobretudo, para os seus criadores contratados, comandaram a empresa durante décadas sucessivas, quase arruinando para sempre esta indústria cultural que ganhou dos fãs a carinhosa alcunha de “Casa das Ideias”. Também houve inúmeros editores egocêntricos, diretores arrogantes, artistas instáveis e brigas, muitas brigas. Nem o cânone Stan Lee escapa de graves acusações feitas por alguns dos seus principais parceiros (Jack Kirby e Steve Ditko), que criaram junto com ele heróis icônicos do imaginário pop atual.

Em meio a todos esses conflitos, nomes que fizeram (e fazem) a história das HQs pipocam na narrativa, contribuindo com toda a riqueza que fez da Marvel o que ela é hoje no inconsciente coletivo do mundo do entretenimento: John Byrne, Frank Miller, Chris Claremond, Jack (King) Kirby, Steve Ditko e, claro, Stan Lee.

Recomendo fortemente a leitura. Vale cada página, cada nota de rodapé. Destaque ainda para a tradução impecável do jornalista Érico Assis.

10 anos de JOVENS ESCRIBAS – Parte 00 – Não existem escritores jovens!

fevereiro 20, 2014

10 anos

Parece que foi semana passada. E, na verdade, foi. Semana passada, a Editora Jovens Escribas completou 10 anos de atuação. Hoje, são mais de 50 títulos lançados, muitas amizades adquiridas e algumas boas histórias pra contar. Pra começar, iniciemos do princípio.

Em fins dos anos 90, eu fazia duas faculdades de Comunicação Social. Pela manhã, fazia Jornalismo na UFRN e, à noite, Publicidade na UnP. Ainda encontrava tempo para estagiar à tarde e, nas horas vagas, para ver filmes, jogos e ler alguns livros legais. Naquele tempo, incentivado pela leitura de crônicas de Luís Fernando Veríssimo, decidi tentar escrever textos curtos e criativos, leves e bem humorados, sobre qualquer assunto, o mundo em geral e o cotidiano em particular. Passei a colaborar com o zine, AZ Revista que revelou grandes nomes da comunicação como Caio Vitoriano, George Rodrigo, Paulo Celestino e Cristiano Medeiros.

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Já na década seguinte, em 2001, fui passar uma temporada no Rio de Janeiro, para fazer um curso de especialização em redação publicitária. Nos primeiros tempos de Rio, eu frequentava a ESPM à noite e tinha o dia inteiro livre, pois só vim estagiar seriamente quando faltavam uns 4 meses para voltar a Natal. Dediquei-me então à leitura e à escrita de crônicas como exercício criativo.

Neste contexto, escrevi uma crônica chamada “Galado” que versava sobre este tão pitoresco termo do coloquialismo natalense. Envie o texto por e-mail para alguns amigos e, para minha surpresa, fez um estrondoso sucesso. Logo, o e-mail foi reenviado incontáveis vezes e minha autoria se perdeu pelo caminho. Senti, então, a necessidade de “registrar” meus escritos de alguma maneira. A princípio, procurei os jornais locais, mas ninguém queria publicar os textos de um estudante. Ainda mais um que tinha um palavrão por título. Tomei então uma decisão importante, que mudaria minha vida anos mais tarde: publicaria um livro com minhas crônicas.

Entre 2001 e 2003, reuni e selecionei cerca de 50 textos. Submeti-lhes à leitura sempre cuidadosa e sincera de Nei Leandro de Castro, que pediu para ler antes de aceitar (ou não) escrever a orelha. No fim do ano, o arquivo com o livro já estava sendo trabalhado pelo diretor de arte Modrack Freire. Neste meio tempo, porém, uma questão me veio à mente. Quando, em conversas informais, as pessoas sabiam que eu estava preparando um livro de minha autoria, costumavam dizer: “Que legal! Não existem escritores jovens, né?”

Os 4 SP

Comecei a pesquisar e percebi que as pessoas tinham razão. Os jovens estavam publicando em blogs, sites, fanzines e outras mídias populares na época, mas não livros. Procurei outros caras da minha idade (tinha uns 23 anos) que tivessem escritos em volume suficiente para se tornarem também livros. Dessa forma, com a ajuda da lei municipal de incentivo à cultura e de alguma empresa que pagasse bom volume de ISS, lançaríamos uma série de livros sob a égide de uma mesma marca, um selo editorial que legitimasse nossa coleção de publicações. 

O nome criado, JOVENS ESCRIBAS, remetia à junção do novo ao antigo, remetendo à infante energia cheia de vida e disposição dos jovens empreendedores da jornada e também à verve tradicionalista que não se satisfazia com as novas mídias, com os canais proporcionados pelo advento da Internet, mas que queriam sim ver suas criações impressas em papel, num formato padrão encapado, colado e costurado. O logotipo elaborado por Modrack Freire alude ao nascimento de novos escritos, pois traz um pingo de tinta como uma gota de esperma com o nome do selo editorial em seu interior.

O recrutamento dos companheiros de jornada não seria fácil. Era importante que nossa coleção de 4 livros tivesse gêneros distintos. Eu escrevia crônicas, então precisávamos de um contista, um poeta e, se possível, um romancista. O contista foi mais fácil, pois eu conhecia Thiago de Góes desde o colegial e sabia que ele andava escrevendo contos populares, influenciado pela leitura de autores brasileiros como Rubem Fonseca. Quando entrei em contato, ele me falou sobre um projeto que estava trabalhando que era a confecção de contos baseados em canções bregas. Gostei da ideia.

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O poeta e o romancista surgiram por indicação. Um amigo publicitário, Renato Quaresma me disse certa vez que um colega chamado Daniel Minchoni andava declamando poesias de sua autoria pelos calçadões de Ponta Negra. Procurei Mincha para falar do selo e perguntar se ele tinha interesse em publicar.

Por fim, Modrack me apresentou a Patrício Jr., um grande amigo seu que tinha acabado de escrever um romance que se chamaria “Lítio”.

Nos encontramos Daniel, Patrício e eu (Thiago mora em Fortaleza e quase nunca estava em nossas reuniões) e topamos construir o projeto juntos. No início, achávamos que publicaríamos aqueles livros de estreia e pararíamos por aí. Ou que até continuaríamos, mas com os livros seguintes lançados por outras editoras, grandes, do sudeste. Não tínhamos ideia de como este universo editorial do eixo Rio-SãoPaulo era fechado a poucos. Nem percebíamos que tínhamos acabado de conceber uma ideia muito mais forte e duradoura do que um simples e passageiro selo editorial. O simples fato de termos decidido fazer algo coletivo, juntando vários autores em torno de um objetivo em comum daria à Jovens Escribas uma força extra que se tornou o segredo de boa parte do nosso sucesso.

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Por essas falhas de avaliação iniciais, pode-se perceber o quanto éramos, de fato, jovens e ingênuos. Com isso, é possível compreender inclusive o nome de batismo do então selo editorial, que não levava em consideração que envelheceríamos rápido, que um dia publicaríamos autores já bem entrados nos enta e que nossa marca duraria bem mais do que uma embrionária coleção de 4 livros.

NO PRÓXIMO TEXTO: VERÃO VERANEIO  

Ação Leitura 2013 – Abertura e Comerciais

maio 13, 2013

Começa hoje mais uma edição da AÇÃO LEITURA. Esta noite, teremos Clotilde Tavares e Pablo Capistrano em um bate-papo bem legal na abertura que ocorre na UnP da Floriano Peixoto.

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Para quem ainda não viu na TV, aproveito para dividir com vocês os 3 comerciais de divulgação do evento criados pelo Comitê Criativo r produzidos pela ZAM House e Janilson Lima.

 

 

AÇÃO LEITURA 2013 – Mais que aprender, leitura é lazer!

maio 10, 2013

AÇÃO LEITURA 2013: SESC e Jovens Escribas realizam terceira edição do evento.

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Em outubro de 2011, foi realizada a primeira edição da AÇÃO LEITURA por iniciativa da editora Jovens Escribas. A ideia era promover um evento destinado ao incentivo à leitura, tendo como público preferencial os estudantes (mas aberto ao público em geral). O evento trazia uma mensagem simples: “Ler pode ser muito divertido.” No primeiro ano, foram contempladas diversas escolas públicas e particulares, além de algumas instituições de ensino superior, que receberam autores contemporâneos para transmitir aos alunos o prazer na leitura.

Em maio de 2012, desta vez com realização do SESC, ocorreu a segunda edição. O número de escolas foi ampliado, bem como o de parceiros que proporcionaram um maior número de atividades. Além dos bate-papos com os autores, foram realizadas duas oficinas literárias gratuitas e bastante disputadas com os autores mineiros Sérgio Fantini e Ana Elisa Ribeiro. Estiveram presentes durante os 5 dias de evento mais de 2.000 pessoas.

Em 2013, o evento vem ainda melhor. Ocorrerá no período 13 a 17 de maio e teve o número de instituições atendidas ampliado em relação a 2012. Autores como Clotilde Tavares, Pablo Capistrano e Daniel Galera irão a escolas e universidades para conversar com estudantes sobre suas trajetórias como leitores e, consequentemente, escritores. Todos levarão consigo a mensagem do evento deste ano, trabalhada nas peças de divulgação: “Mais que aprender, leitura é lazer.”

Método de trabalho

A AÇÃO LEITURA traz consigo um método utilizado em outros eventos literários Brasil afora que se mostraram bastante exitosos em longo prazo, como a Jornada Literária de Passo Fundo (RS). As ações promovidas seguem a seguinte sequência: primeiro, são enviados textos dos autores que visitarão cada escola para serem trabalhados em sala de aula pelos professores; segundo, os autores visitam as escolas e conversam com os estudantes; terceiro, livros dos autores são deixados nas bibliotecas das escolas para serem lidos pelos alunos. Esta metodologia foi responsável por fazer da cidade de Passo Fundo a primeira colocada nos índices de leitura do Brasil, elevando consideravelmente o nível educacional do município.

Autores

Este ano, a AÇÃO LEITURA terá os seguintes convidados: Clotilde Tavares, Pablo Capistrano, Patrício Jr., Daniel Minchoni, Carlos Fialho, Sinhá, Ruy Rocha, Márcio Benjamin, Carito, Thiago de Góes, Milena Azevedo, Daniel Galera (RS), Ana Elisa Ribeiro (MG), Sérgio Fantini (MG) e Carlos Henrique Schroeder (SC).

Programação

De segunda (13/05) a sexta (17/05) os autores vão falar para estudantes de ensino fundamental, médio e superior. Haverá diversos eventos noturnos e abertos ao público, dando oportunidade para que leitores possam ter um contato mais próximo com os convidados. Parcerias com grupos e produtores culturais da cidade, como Clowns de Shakespeare, o Dosol e a Casa da Ribeira permitem oferecer uma maior variedade de atrações, associando a leitura a atividades lúdicas e divertidas.

Os eventos dentro da AÇÃO LEITURA:

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Abertura oficial – segunda-feira – 13/05 – 19h

Bate-papo com Clotilde Tavares e Pablo Capistrano

UnP – Floriano Peixoto – Auditório grande

 

Menor Slam do Mundo – O maior menor torneio de poetas do mundo, agora em Natal.

Casa da Ribeira – 14/05 – 19h – Acesso gratuito

 

Clowns Escribas – Leituras dramáticas

Autores e escritores (quase) em cena.

Barracão do Clowns – 15/05 – 19h – Acesso gratuito

 

Poesia Esporte Clube – A volta, a revolta, a reviravolta.

Casa da Ribeira – 16/05 – 19h – Acesso gratuito

 

IapoisPoesia Especial.

Parque das Dunas – Bosque dos Namorados – 17/05 – 14h – Acesso gratuito

 

Lançamento do livro “Barba Ensopada de Sangue” de Daniel Galera.

Livraria Nobel da Salgado Filho – 17/05 – 19h – Acesso gratuito

 

A programação completa está no site: (www.jovensescribas.com.br/acaoleitura).

 

Oficinas

Este ano, as oficinas já realizadas pelos autores Sérgio Fantini e Ana Elisa Ribeiro serão reeditadas, mas também estão sendo oferecidas outras 3 alternativas para os interessados.

Oficina de produção de cordel com Clotilde Tavares – 25 vagas – Inscrições gratuitas

Dias 15 e 16 de maio – das 14h às 17h.

Oficina de produção de contos com Daniel Galera – 15 vagas – Inscrições gratuitas

Dias 15 e 16 de maio – das 19h às 21h.

Oficina de criação para quadrinhos com Carlos Henrique Schroeder – 15 vagas – Inscrições gratuitas

Dia 16 de maio – das 14h30 às 17h30 e das 19h às 21h.

Oficina de produção de crônicas com Ana Elisa Ribeiro – 25 vagas – Inscrições gratuitas

Dias 15 e 16 de maio – das 19h às 21h.

Oficina de leitura de contos com Sérgio Fantini – 25 vagas – Inscrições gratuitas

Dias 15 e 16 de maio – das 19h às 21h.

Todas as inscrições deverão ser feitas pelos formulários contidos no site:

www.jovensescribas.com.br/acaoleitura

Escolas

Serão contempladas nesta edição: Escola SESC, Escola Estadual Castro Alves, Escola Municipal 4º Centenário, Escola Municipal Celestino Pimentel, Escola Municipal Francisco Varela, Escola Municipal Ulisses de Góis, Colégio das Neves, CEI Romualdo Galvão, Contemporâneo, Marista, Escola Doméstica, Henrique Castriciano, IFRN Zona Norte e instituições superiores como UnP e UNI-RN.

Abertura Oficial – Autor homenageado

Na abertura oficial do evento, que ocorrerá na UnP da Floriano Peixoto, às 19h da segunda-feira (13/05), haverá um bate-papo com os autores Clotilde Tavares e Pablo Capistrano. Na ocasião, será entregue um prêmio em homenagem ao escritor Nei Leandro de Castro, grande homenageado do evento deste ano. Nei, que estará em Natal devido ao lançamento do seu novo livro, receberá a primeira edição do PRÊMIO PARÁGRAFO, oferecido pelo SESC e pelos Jovens Escribas.

Encerramento Festivo  – Lançamento de Daniel Galera – Show com Simona Talma

Na sexta-feira (17/05) haverá o encerramento festivo. Todos os autores do evento se reunirão para confraternizar na livraria Nobel da Salgado Filho a partir das 19h. Será lançado o livro “Barba ensopada de sangue de Daniel Galera” ao som da cantora Simona Talma.

AÇÃO POTIGUAR DE INCENTIVO À LEITURA:

Realização: SESC e Jovens Escribas.

Patrocínio: Assembleia Legislativa, Cabo Telecom e Comitê Criativo.

Apoios e parceiros: InterTV Cabugi, Restaurantes Camarões, Dosol, Clowns de Shakespeare, Casa da Ribeira, IDE, Garagem Hermética, Ribeira Território Criativo.

 

Porta-voz do evento:

Patrício Jr.

e-mail:

pittjr7@gmail.com

 

É HOJE! Lançamento de “Pássaro sem sono”.

maio 9, 2013

Vamos todos? Quem é lindo vai!

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Lançamento de Pássaro sem sono – Nei Leandro de Castro – Orelha

maio 7, 2013

Sobre “Pássaro sem sono” – Nei Leandro de Castro

Conforme já anunciei ontem, teremos o lançamento do novo livro de Nei Leandro de Castro nesta quinta-feira. Para aquecer um pouco e despertar a curiosidade de alguns, publico a orelha do livro e um breve perfil do autor com sua bibliografia de ficção.

Cartaz

 

Orelha de Pássaro sem sono:

O conto é um dos mais fascinantes estilos literários. Segundo Julio Cotazar, o que difere um romance de um conto é que no primeiro se vence por pontos, enquanto num conto, a vitória é por nocaute. Inapelável. Talvez tenha sido a sede de tornar-se vitorioso em outra seara que incentivou Nei Leandro de Castro, autor de tantos e memoráveis romances, a arriscar-se no terreno das narrativas breves e nos brindar com os contos deste “Pássaro sem sono”.

Nas histórias aqui reunidas, um ponto em comum: o erotismo. É a sensualidade utilizada como importante recurso a estabelecer tensão entre os personagens. O termo “erótico” vem do grego (Erotikós) e significa “relativo ao amor ou inspirado por ele”. O erotismo expressa, portanto, a naturalidade do desejo sexual, conforme pode-se notar nas histórias aqui reunidas. Nelas, o desejo, a vontade, os impulsos incontidos de cada um não são gratuitos, mas partes de um enredo que transmite valor literário às histórias magistralmente contadas pelo autor.

A publicação de “Pássaro sem sono”, aliás, vem em muito boa hora. Num momento em que a literatura comercial explora o erotismo de forma tão penosa e vulgar, este livro vem cumprir a nobre missão de redimir um estilo tão desvalorizado e vítima dos mais vis preconceitos. Os contos deste livro se diferem de algumas publicações recentes por não sofrerem de uma nefasta fixação pelo secundário. Pelo contrário, eles se valem primeiramente de histórias bem contadas, narrativas bem escritas, personagens interessantes.

Cabe agora a você, amigo leitor, apreciar a leitura dos contos a seguir e testemunhar de perto a vitória por nocaute de Nei Leandro de Castro.

***

Nei Leandro de Castro

20.10.2011 - Mais Siciliano Midway (13)

Nei Leandro ao centro, entre Pablo Capistrano e eu.

Nei Leandro de Castro nasceu em Caicó (RN), em 1940. Viveu em Natal e no Rio de Janeiro, onde reside atualmente. Trabalhou como redator e diretor de criação em algumas das principais agências de propaganda do país. Foi colaborador do semanário “O Pasquim” e escreveu resenhas literárias para “O Globo” e “Jornal do Brasil”.

Publicou os romances “O dia das moscas” (1983, com reedição em 2008), “As pelejas de Ojuara” (1986, com reedições em 1991, 2002 e 2006, adaptado para o cinema no filme “O home que desafiou o diabo”), “As dunas vermelhas” (2003, com reedição em 2013) e “A fortaleza dos vencidos” (2009).

Na poesia, lançou os livros “O pastor e a flauta” (1961), “Voz Geral” (1964), “Romance da cidade de Natal” (1975, com reedição em 2004), “Feira livre” (1975), “Canto contra canto” (1981), “Zona erógena” (1981), “50 sonetos de forno e fogão” (1982, em parceria com Celso Japiassu), “Musa de verão” (1984), “Era uma vez Eros” (1993), “Diário íntimo da palavra” (2000) e “Autobiografia” (2008).

Também publicou o livro de ensaio “João Guimarães Rosa – Universo e vocabulário do Grande Sertão” (1970, com reedição em 1982, vencedor do prêmio de melhor ensaio concedido pelo Instituto Nacional do Livro) e a coletânea de crônicas “Rua da estrela” (2010).

Coluna do Novo Jornal – 086 – Algumas verdades sobre Alex Nascimento – 21.04.2012

maio 5, 2013

Algumas verdades sobre Alex Nascimento

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Alex é o do centro ou, para facilitar a identificação, o mais bonito dos 3.

Em 2005, o fotógrafo Giovanni Sérgio, um dos homens mais cultos de sua geração, perguntou-me de chofre: “Você já leu Alex Nascimento?” Diante de minha negativa, arrebatou rápido e preciso, como se empunhasse uma objetiva e a apontasse para mim: “Ali sim é um escritor.” Jovem e petulante que era, ainda acometido da arrogância natural dos que pouco conhecem, interpretei a preciosa dica literária de Giovanni como mais uma de suas mordazes pilhérias, tão comuns a este pícaro e pictórico profissional das lentes, mago das imagens estáticas, príncipe da Rua Chile. Entretanto, anos mais tarde, tive a oportunidade de conhecer o texto de Alex Nascimento. Depois, assisti à peça do coletivo “Atores à deriva” baseada no livro “Recomendações a todos”. Por fim, li a lendária obra que originou a peça em que Alex discorre com especial sarcasmo e a dose certa de ironia a Natal de 1982, sua sociedade, seus hábitos, costumes e peculiaridades. Obviamente, encantei-me pelo texto e a sagacidade do autor.

Desde que me deparei com tal obra, com tamanha qualidade e estilo inigualável, decidi que quero escrever o mais parecido possível com o meu novo ídolo das letras. Sei que é impossível, mas, diante das circunstâncias, contento-me em ser uma imitação barata e oportunista. A partir desta formidável descoberta compreendi que o bom Giovanni Sérgio nunca quis desmerecer por oposição minhas surradas frases. Na verdade, sua intenção, como a de um tutor, era me orientar no sentido de uma das melhores leituras que a cena contemporânea de autores natalenses viu surgir.

Passado mais algum tempo, conheci também o autor. Gente finíssima, que carrega consigo um permanente e contagiante bom humor cultivado por seu inabalável espírito jovial. Do pouco que convivi com ele até agora (para minha sorte, segundo me confidenciaram alguns dos amigos da mais íntima seara), pude reunir alguns episódios da mais autêntica veracidade que tenho a honra de compartilhar com vocês:

– Existem dois grupos de mulheres em Natal: as apaixonadas por Alex Nascimento e as que não o conhecem.

– Um dia Alex Nascimento foi convidado a ser padrinho de casamento de um amigo. Pediu para fazer um discurso saudando os noivos e declarou: “Todo mundo tem direito a ser feliz. Casa porque quer.”

–  Costuma pegar no pau dos amigos, mas sem viadagem. Trata-se apenas de uma inspeção rotineira, pura conferência preventiva, para averiguar se o seu continua sendo o maior membro da cidade. Após a constatação de que continua tudo como antes e a bandeira do seu mastro segue tremulando mais alto que as outras, respira aliviado e sorri satisfeito.

– Ele esteve internado na enfermaria de um manicômio e lembra de tudo com a nitidez de um Cartier-Bresson.

– Se Alex Nascimento pudesse encontrar-se frente a frente com Freud dizer-lhe-ia umas verdades, pois o ‘pai da psicanálise’ deu ao mundo “muito cabimento e poucas condições”.

– É um homem acima da média e, como tal, incapaz de fazer média com ninguém, pois média, até mesmo em matemática, sempre lhe cheirou a “acordo de partes”.

– Trata-se de um iconoclasta atrevido, um quebrador de paradigmas incorrigível. Para ele, é uma idiotice aquela história de que um homem tem que plantar uma árvore, escrever um livro e fazer um filho.

– Aliás, Alex sempre considerou que a melhor parte da fabricação de um filho é o contato do operário com a fábrica.

– Na enfermaria do manicômio onde esteve internado, Alex conheceu um homem que se imaginava presidente da república. Seu maior medo era ser derrubado do cargo enquanto fosse ao banheiro. Por isso, costumava se cagar e mijar todo. Conclusão do autor: “O medo de perder o poder leva o poder leva o homem às mais descabidas sujeiras”.

– As pretensões acadêmicas do genial escritor residem em entrar lentamente para a Academia de Letras para que de lá seja expulso rapidamente.

– Alex Nascimento, ainda bebê, quis saber dos filmes de Visconti, das obras de Michelângelo, do disco novo de Oscar Peterson, dos rumos políticos de sua terra, dos pensamentos de Millôr e de outras coisas que as boutiques não vendiam. Obviamente, não obteve êxito. Nasceu em Natal o pobrezinho.

– Uma madame olhou para o bebê Alex e, com afetação de analista formada na escola mundana de maledicência diagnosticou: “o menino tinha cara de chato, pretensioso, arrogante e intelectual”. O infante autor respondeu de bate e pronto: “Chato é camelo de deserto pubiano, pretensioso é economista que trabalha pro governo, arrogante é irmão de gente famosa, e intelectual é a puta que a pariu!”

– Alex Nascimento acha que Natal está cheia de ricos se fazendo de bestas e bestas se fazendo de ricos.

– É possível, e até provável, que o escritor esteja fungando no seu cangote neste exato momento em que você lê este texto.

– Se você olhar pra trás, ele vai perguntar: “Foi bom pra você, querido?”

Essa, e apenas essa, é A VERDADE SOBRE ALEX NASCIMENTO! Quem quiser que invente outra. Seguirei buscando me aprofundar (com o devido respeito) mais na obra do autor. Certamente, depois do sucesso da nova edição de “Recomendação…” haverá outros lançamentos. E o que não sair de novo, buscarei nos sebos. Recomendo que façam o mesmo. Recomendo a todos.

 

Coluna do Novo Jornal – 084 – Esporro – A cultura do underground – 31.03.2012

abril 26, 2013

Esporro – A cultura do underground

18 Capa Esporro FECHADA

Em 1998, num show de rock na Ribeira, conheci uma banda carioca de hardcore chamada Jason. Seus integrantes, Flávio Flock, Vital e Leonardo Panço viajavam pelo Brasil em longas turnês e o nordeste era uma das regiões mais frequentadas pelos músicos. As músicas do grupo, que misturavam bom humor e ferinas críticas sociais logo conquistaram a mim e um grupo de amigos próximos, convertendo-nos em fãs e levando-nos a voltar à Ribeira sempre que a banda vinha dar com os costados em Natal.

Anos depois, em 2004, por citar a banda em meu primeiro livro, “Verão Veraneio”, o guitarrista Leonardo Panço, que também é jornalista e escritor, quis me conhecer pessoalmente no recém-inaugurado Centro Cultural Dosol, na Rua Chile. Trocamos livros. Dei-lhe um exemplar do “Verão” e ele me deu o “2001: uma odisseia na Europa” com os relatos de uma turnê de 60 shows que o Jason fizera pelo velho continente. Papo vai, papo vem, a confluência de trabalhos e as correspondências trocadas nos anos seguintes nos levaram a cogitar que seu próximo livro fosse lançado pela Jovens Escribas, editora que mantenho desde 2004 com outros autores amigos.

Em 2008, Panço publicou o livro de crônicas “Caras dessa idade já não leem manuais.” Infelizmente, sem a participação da nossa editora, pois passávamos por um ano de poucos lançamentos e não tivemos capital para bancar a publicação, ainda que em parte. Quando li o livro depois de pronto, o arrependimento bateu forte. “Caras dessa idade…” é um excelente livro de crônicas, escrito por um autor fora do esquema de grandes editoras, dono de um pensamento claro e articulado, propondo reflexões e ideias sobre a vida, o cotidiano e as escolhas que fazemos. Ainda tive a oportunidade de escrever a orelha do livro e assumi o compromisso com o Panço de ajudá-lo no seu próximo livro, o “Esporro”, um relato sobre o underground carioca do início dos anos 90.

O livro saiu há alguns meses, no final de 2011, e a Jovens Escribas ajudou a pagar a edição, além de contribuir com alguns trechos da turnê de lançamentos do livro, ocorridos em 26 cidades de todo o Brasil. Afirmo com segurança que esta foi uma das publicações mais importantes dos 7 anos da nossa editora. A obra promove um registro histórico de uma época em que a cultura alternativa fervia no Rio de Janeiro, mas longe dos holofotes, criando as condições ideais para o surgimento de uma nova cena roqueira brasileira, cujos maiores expoentes, “O Rappa” e “Planet Hemp”, ganharam fama e fortuna.

“Esporro” conta a histórias de bandas como o “Gangrena Gasosa”, “Poindexter”, “Soutien Xiita”, “Piu piu e sua banda”, “Funk Fuckers”, “Zumbi do mato” e várias outras que viveram intensamente aquela primeira metade de década, lutando com todas as armas contra as intempéries da vida de artista no Brasil, ainda mais para músicos underground, deixando um enorme rosário de histórias não contadas e que precisavam de um narrador à altura que as reunisse e trouxesse ao conhecimento público.

Graças ao livro, todos podem agora conhecer a trajetória da banda “Gangrena Gasosa” formada por metaleiros que concluíram que muito melhor do que falar do Diabo em suas letras, poderiam citar nomes da cultura afro-brasileira como exu-caveira, pomba gira e diversos elementos do Candoblé, Umbanda e outras crenças. A banda tinha o hábito de roubar despachos de macumba e jogar no público durante os shows. Algumas de suas canções como “Saravá Metal”, “Welcome to terreiro” e “Se Deus é 10, Satanás é 666” já chamam a atenção a partir do título. Sátiras a fortes referências roqueiras como “Toops of Olodum” (o “Sepultura” tem a música “Troops of doom”), “Benzer até morrer” (“Beber até morrer” do “Ratos de porão”) e “Smells like a tenda espírita” (nome de um CD que fazia alusão à canção “Smells like teen spirit” do Nirvana).

A banda não obteve a projeção que muitos esperavam. B Negão e Marcelo D2 afirmam no livro que a ficha caiu de que eles estavam ficando famosos num dia em que foram citados pelo vocalista do Gangrena, Ronaldo Chorão, num show no Circo Voador. Porém, a carreira de músicos bem sucedidos não se tornou uma realidade para aquele grupo. Como se sabe, além de competência e talento, para alcançar a fama é preciso uma boa dose de sorte. E sorte é tudo o que não se deve esperar quando se rouba despachos de macumba para jogar nas pessoas.

Outro intrépido conjunto que aprontou muito naqueles primórdios de década foi “Piu Piu e sua banda” que, além de tocar um rock doidão que explorava os limites da irreverência, aliava o som a performances memoráveis em que nada era excessivo e tudo, absolutamente tudo era permitido. Os integrantes sempre se fantasiavam de forma esdrúxula. Certa vez, Piu Piu se vestiu de baiana e distribuiu “docinhos” envolvidos em papel laminado para o público. Ao abrirem o mimo, os enojados fãs perceberam que os quitutes eram, na verdade, cocô de cachorro.

Em outra oportunidade, o grupo levou um bode e um ganso para o palco. O bode fez xixi e o ganso saiu atacando as pessoas. Aliás, por falar em xixi, havia uma música em que o vocalista mijava num copo e bebia o produto de tal ação ali mesmo, na frente de todos. Também era normal que ele tirasse toda a roupa e promovesse espetáculos pirotécnicos nos quais ateava fogo numa guitarra e até no próprio corpo. Piu Piu nunca alcançou qualquer projeção que fosse muito além da zona sul do Rio, mas suas peripécias inacreditáveis estão agora registradas pelo contemporâneo de palcos, Leonardo Panço.

As muitas viagens de bandas como o “Beach Lizards” e o advento da “Família Hemp”, espécie de irmandade que abrangia “Funk Fuckers”, “O Rappa”, “Planet Hemp”, entre outras, além do início da carreira artística de Marcelo D2 em tempos de vacas muito magras também constam no livro. Entre os palcos nos quais os jovens se apresentavam, o “Canecão” e o “Circo Voador” figuram em alguns trechos, mas o grande cenário que serviu de incubadora para as bandas foi o lendário “Garage”, citado em boa parte do livro como o grande trampolim de toda aquela turma para as suas pequenas (ou grandes) conquistas. Para se ter uma ideia, D2 chegou mesmo a morar no lugar, dormindo no palco e trabalhando como vendedor de camisetas.

A publicação de “Esporro” pela editora inaugurou um ciclo feliz de publicações roqueiras. Em 2012, deveremos publicar a história do coletivo “Dosol” contada pelo produtor Ânderson Foca. As histórias contadas por Leonardo Panço mostraram o quão é importante para a memória cultural do país que tais episódios sejam escritos. Fico muito feliz em ter ajudado a tornar este livro uma realidade e espero que muitos outros tão divertidos quanto ele possam surgir. É o velho e bom Rock and Roll nos brindando com os melhores causos do show business, mesmo que nem sempre role tanto business assim.

Lançamento: Escribas em Cena – Nesta quinta-feira – 04.04.2013

abril 2, 2013

Será nesta quinta, pessoal. No Solar Bela Vista a partir das 19h.

Livros a R$ 10.

Clowns de Shakespeare +  Clotilde Tavres + Cláudia Magalhães.

Só alegria!

Cliquem na imagem abaixo para verem em tamanho decente:

Cartaz-A3