UMA HISTÓRIA DA JOVENS ESCRIBAS – Parte 03 – É Tudo Mentira e os 40 leiautes!

abril 12, 2018

 

6 Capa É Tudo Mentira FECHADA

Quando finalmente chegou a hora de publicar o segundo livro da coleção de 4 obras lançadas via lei de incentivo, eu já havia terminado de escrever um segundo volume de crônicas.

Só relembrando um pouco: a ideia original era que os livros de estreia de Patrício, Daniel Minchoni, Thiago de Góes e meu fossem lançados dentro de uma mesma coleção. Porém, devido à demora natural do processo de inscrição, aprovação, captação e execução do projeto, acabei bancando meu primeiro livro (“Verão Veraneio”) com investimento próprio e a coleção já saiu com meu segundo livro fazendo parte.

A coleção, então ficaria:

– Lítio – Patrício | – É Tudo Mentira – Carlos Fialho | – Contos Bregas – Thiago de Góes (falarei sobre no próximo texto) | – Escolha o título – Daniel Minchoni (falarei sobre em texto posterior)

O nome escolhido para o livro foi “É Tudo Mentira! – Histórias Inverídicas de um Autor Falso e Fingido”. Coloquei este título porque muita gente não havia entendido que as histórias narradas em “Verão Veraneio” eram ficção, acreditando tratar-se não só de causos reais como ainda por cima ocorridos comigo. Então, as pessoas chegavam pra mim perguntando com quem tinha ocorrido determinada história, qual amigo ou conhecido havia protagonizado tal episódio ou como eu reagi quando aconteceu dado infortúnio narrado nas crônicas. Em face disto, acreditei que nomeando o livro como “É Tudo Mentira!” já estaria resolvendo um problema na fonte.

Os textos que compunham o livro eram frutos da empolgação resultante do lançamento de “Verão Veraneio”. No período compreendido entre os dois lançamentos, de fevereiro de 2004 a fevereiro de 2006, mergulhei de cabeça na leitura e na descoberta de novas referências literárias, acabando por me sentir muitíssimo estimulado a escrever novas crônicas e contos. Para se ter uma ideia, no ano de 2005, li exatos 50 livros.

A leitura incessante é, sem sombra de dúvidas, o melhor combustível para um escritor. Se forem assimilados os conteúdos de bons livros, processados de acordo com a compreensão de cada um, os autores destas obras se tornam as maiores fontes de inspiração para um jovem autor produzir ele próprio suas narrativas curtas e longas. A boa leitura funciona como uma torneira aberta, enchendo fartamente nossas mentes de possibilidades de escrita. Se mantivermos o fluxo da água, em algum momento é inevitável que transborde, derramando sobre uma tela ou folha em branco tudo o que estava esperando para vir ao mundo.

Essa compulsão pela leitura de bons livros foi decisiva na melhoria da qualidade dos meus textos com relação ao livro de estreia. Podia até não transparecer, mas bebi muito em textos de escritores que conheci naquele intervalo de 2 anos. De Douglas Adams, passando por João Ubaldo Ribeiro, Monty Python e Rubem Fonseca, tudo o que eu absorvia acabava compondo os textos que produzia.

O resultado foi um livro que me dava orgulho de ter escrito: era divertido, sagaz, inventivo e repleto de personagens muito bem acabados. Não que eu já não gostasse de “Verão Veraneio”, mas eu me sentia feliz por perceber um avanço tão nítido. O primeiro era um bom livro de fundação da carreira e o segundo reunia o que de melhor eu era capaz de escrever à época.

Terminada a escrita, era preciso cuidar da capa. A ideia era representar o máximo de situações presentes nas crônicas em estilo cartoon como nos livros da série “Onde está Wally?”. O ilustrador escolhido foi um jovem publicitário e artista promissor que depois acabaria virando médico ortopedista: José Gercino Cabral. O trabalho ficou perfeito, primoroso até, exatamente como havia sido imaginado.

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Ilustração Original de Dr. José Gercino Cabral

A direção de arte do livro marcaria o início de uma parceria duradoura, ficando a cargo do designer Danilo Medeiros. E a revisão foi feita pela jornalista Mariana do Vale que acabaria se consagrando como fotógrafa. Enquanto Danilo e Mariana trabalhavam no livro, fui cuidar da campanha de divulgação. Eu havia pensando numa ação bastante ousada (e trabalhosa) que precisava ser colocada em prática imediatamente para ser executada.

Naquele tempo, eu havia me convertido em um dedicado profissional da área de criação publicitária. Trabalhava na Art&C e acumulava prêmios de criatividade, além do apreço dos meus colegas de profissão em função de uma série de competências essenciais que iam de trabalhar bem em equipe até conceber campanhas eficazes e entregues no prazo. A reputação gerou sondagens de outras empresas e até propostas para me tornar diretor de algumas delas, todas recusadas, uma vez que eu estava feliz no emprego que tinha. Trabalhava até tarde costumeiramente e fazia serão nos fins de semana sem reclamar. Fazia questão de participar de reuniões com clientes para ajudar na aprovação das campanhas, também ia pros sets de filmagem ver a produção dos comerciais ou nas produtoras de áudio para orientar as gravações de spots.

Eu gostava daquilo, respirava trabalho e queria fazer bem feito. A recompensa vinha não só através da remuneração, mas na oportunidade que a profissão de publicitário me deu para conhecer toda uma infinidade de pessoas multi-talentosas. Dentro de uma agência, você conhece pessoas que têm habilidade para se expressar (executivos de conta), conhecimento de números (departamento financeiro), estatísticas e dados (mídia), resolvedores de problemas (produção), artistas visuais (diretores de arte) e gente que sabe escrever bem (redatores). Sem falar nos terceirizados: músicos, diretores de filmes, atores, toda uma infinidade de pessoas interessantíssimas que lhe trazem novos aprendizados e tornam esta profissão em algo muitíssimo compensador.

E, no meu caso, trazia também muitas amizades e rede de contatos que seria imprescindível para que os lançamentos de livros bombassem. Como eu era solteiro, também costumava frequentar muitos eventos do mercado, aniversários de colegas, confraternizações de fornecedores, forjando laços mais fortes de amizades lubrificados com cerveja e reforçados com demonstrações de admiração mútua.

Aliás, posso dizer que tudo na minha rotina profissional influenciava a nova realidade de escritor. A atividade diária de redator tornava o ato de escrever muito natural e eu acabava por produzir textos em boa quantidade; o reconhecimento profissional por parte de colegas e chefes me davam autoconfiança que me levavam a perder o medo de expor minha obra, publicar livros, etc; e as muitas amizades adquiridas também seriam importantes para que houvesse leitores.

A tal da ideia ousada que tive para a campanha de lançamento de “É Tudo Mentira!” se prevalecia desta boa rede de relacionamentos estabelecida. Consistia basicamente em pedir favores a 40 amigos diretores de arte. Cada um deles receberia o trecho de uma crônica do livro e faria um leiaute que tivesse a informação: “É Tudo Mentira! – crônicas de Carlos Fialho – Lançamento em 10 de fevereiro de 2006”.

E assim foi feito. Todos os profissionais convidados aceitaram o pedido. Fiz um cronograma de envio das artes por e-mail para minha lista de contatos, além de postar nas embrionárias redes sociais de então. Para aproveitar todas as artes, tive que começar a divulgação uns 2 meses antes do lançamento. O buzz causado, sobretudo no mercado publicitário natalense foi ótimo para deixar o livro, o evento e o autor em evidência. Como se tratavam de artes assinadas por profissionais reconhecidos, as pessoas ficavam curiosas para saber quem seria o artista do dia seguinte. Vários destinatários colecionavam as artes e salvavam em pastas de seus discos rígidos. Era um dos assuntos mais legais das rodas de conversa, atraindo interessados pelo livro que seria lançado dali a algumas semanas.

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Arte de Daniel Duarte

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Arte de George Rodrigo

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Arte de Joca Soares

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Arte de Renato Quaresma

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Arte de Sílvio Augusto

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Arte de Simone Lagares

A meta era vender mais que os 163 exemplares comercializados na estreia, quando “Verão veraneio” atingiu tal índice. Com a repercussão da campanha, eu acreditava piamente na superação desta marca.

Deu certo.

Houve um pequeno aumento, mas suficiente para me deixar feliz: 170 livros vendidos.

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Mais um sucesso construído a muitas mãos, impulsionado pelas dezenas de diretores de arte que contribuíram e realizado pelos profissionais que tornaram o livro possível, além da Art&C e da Lei Djalma Maranhão que bancaram a brincadeira.

O “É Tudo Mentira!” abriu muitas portas para este autor. Foi lançado em Mossoró, São Paulo, Belo Horizonte e João Pessoa, além de responsável por convites para eventos literários como o Encontro Natalense de Escritores (RN), Fliporto (PE) e Balada Literária (SP).

O livro também foi muito bem aceito pelo público, aumentando minha base de leitores para além dos limites da amizade e parentesco, mudança que eu sentiria nitidamente no lançamento do meu livro posterior, 3 anos depois. Muitos jovens e adultos adoraram os textos.

Porém, a despeito do nome, o que mais aconteceu foi gente que chegou pra mim dizendo: “entendi sua jogada. O nome do livro, “É Tudo Mentira!”, é uma ironia porque o conteúdo que está lá é todo verdade, né?”

Eu não dizia nada. Respirava fundo e sorria. Fazer o quê?

NO PRÓXIMO TEXTO: CONTOS BREGAS – A MPB DE THIAGO DE GÓES

UMA HISTÓRIA DA JOVENS ESCRIBAS – Parte 02 – Lítio – Cru, polêmico e indigesto.

janeiro 17, 2018

3 Capa Lítio FECHADA

Conheci Patrício Jr. por intermédio de Modrack Freire, o diretor de arte que criou o logotipo da Jovens Escribas. Eles haviam sido dupla de criação em agência de propaganda e agora trabalhavam em empresas distintas. Naquele tempo, tínhamos 23 anos, eu andava pesquisando escritores jovens para tentar formar um coletivo e viabilizar publicações de nossos livros de estreia. Patrício, segundo me havia dito Modrack, tinha escrito um romance. Nos encontramos em um bar muito popular à época segundo o critério do nosso poder aquisitivo: o “Filé Miau”. Era um bar de espetinhos anterior à era da “Gourmetização”.

O livro que Patrício escrevera era um romance. Pelo que descrevia, era uma história bastante instigante, de jovens que passavam tempos difíceis, às voltas com angústias próprias do seu tempo, inseguranças mil e clara tendência à autodestruição. Havia também um envolvimento afetivo entre um casal de protagonistas, além de ter o suicídio como tema constante em toda a narrativa. O título da obra seria “Lítio”, medicamento utilizado por quem apresenta flutuações de humor típicas de transtorno bipolar.

Nos dias seguintes, passei a acessar o blog recém-publicado de Patrício (PLOG) e percebi que, de fato, o autor escrevia muito bem. Se juntássemos o estilo do texto ao enredo que ele havia exposto na mesa do bar, percebi que o tal “Lítio” seria um livraço, perfeito para compor a coleção que se iniciaria com o volume de crônicas “Verão Veraneio”, de minha autoria.

Inscrevi um projeto na Lei Municipal Djalma Maranhão de incentivo à Cultura. A ideia era conseguir financiamento, via renúncia fiscal, para publicar livros de 4 autores, de estilos literários diferentes: crônicas, romance, contos e poesia.

No entanto, percebi que uma das maiores virtudes de quem trabalha com publicação de livros é a paciência. O dinheiro proveniente da lei de incentivo, cujo patrocinador foi a agência Art&C, caía mensalmente, mas demoraria muitos meses para que tivéssemos capital suficiente para produzir algum livro. Nesse meio tempo, acabei publicando meu “verão veraneio” com dinheiro próprio e o de Patrício, que seria o segundo da fila de publicações patrocinadas, veio para a dianteira.

Com o patrocínio caindo em conta-gotas na conta do projeto, o escritor teve que exercitar sua temperança. Para que se tenha uma ideia, “Verão Veraneio” foi publicado com recursos próprios e, por isso, foi lançado em fevereiro de 2004. Já “Lítio”, tendo que esperar a grana da lei, veio ao mundo em dezembro de 2005, quase dois anos depois. Só a captação de verba levou 18 meses para ser concluída. Numa das conversas que tive com Patrício, diante de minha sugestão de que poderia ser uma boa adiar o lançamento para depois do carnaval, argumentando que diminuiria a concorrência com eventos de fim de ano e lançando mão da boa e velha cartada “já esperou até agora, espera um pouco mais”, ele respondeu: “se eu esperar mais, vou acabar botando um ovo”.

O livro saiu em dezembro. O ovo, felizmente, não.

2009 – Imagem 14 – Lançamento Lítio Patrício

Patrício clicado por Drika Silveira.

O tempo de espera, no entanto, acabou sendo positivo por outro motivo. Graças a ele, pudemos elaborar melhor outra iniciativa: a Jovens Escribas. Patrício trouxe bastante energia e empolgação, agregando novos nomes ao nosso grupo em formação. Logo, ele, eu, Minchoni e Thiago de Góes estávamos conhecendo nomes como Márcio Benjamin, Daniel Liberalino, Lucílio Barbosa, Ruy Rocha, Pablo Capistrano e Clotilde Tavares, entre muitos outros nomes que compuseram um coletivo de autores a compartilhar seus assuntos em comum por e-mail. Além das mensagens trocadas num grupo de mensagens (o que hoje seria equivalente a um grupo de WhatsApp), começamos a nos encontrar e nos conhecer pessoalmente. Foi um tempo de muita alegria, descoberta e a sensação de que estávamos iniciando algo importante no cenário cultural local. Muitas tertúlias regadas a cerveja e planos de sucesso, animadas por trocas de referências culturais e literárias. Um tempo feliz em cuja principal motivação daqueles jovens promissores, ainda na primeira metade dos 20 e poucos anos, se baseava na possibilidade de acumular o máximo de leituras possível.

3MegaCam

Uma das primeiras reuniões dos Jovens Escribas originais.

O “Plog”, página mantida por Patrício, revelou-se o ponto de aglutinação da turma, como um veículo oficial a impulsionar e transmitir tudo o que conversávamos na lista de discussão. Tudo foi tentado: um romance coletivo em que cada autor convidado escrevia um capítulo, um diário em que Patrício falava sua opinião sobre cada um de nós, colaborações semanais de outros escritores para o conteúdo do Plog. Lembro que Pilar Fazito, autora mineira que morava em Natal naquele ano era mais uma habituê de nossos encontros e vivia conosco aquele clima de efervescência. Outro forasteiro, Luiz Benevides, do Rio de Janeiro, também acompanhava tudo à distância. E todos nós estávamos absolutamente encantados por Patrício e sua personalidade magnética e agregadora. Eu enxergava nele, assim como em Minchoni, dois potenciais líderes que dividiriam comigo a responsabilidade e os louros da Jovens Escribas comigo.

Voltando ao livro, o diretor de arte que trabalharia nele seria o mesmo de “Verão Veraneio” e do próprio logo da editora, Modrack. A capa (mostrando um personagem sem face) seria clicada novamente por Giovanni Sérgio com tratamento de imagem e montagem realizadas por Fabrício Cavalcante, que no futuro seria a mente por trás da “Camaleão Imagem”.

Com o trabalho do livro em andamento, era hora de elaborar uma campanha de divulgação. O próprio autor se encarregou de criar uma campanha com títulos sagazes fazendo referência à trama do romance, cheios de ironia e bastante adequados à história. O conceito dado por Patrício chamou a atenção. Ele dizia que seu livro era “cru, polêmico e indigesto”, anunciando que ele incomodaria muitos leitores, que veio para mexer com os sentimentos e revirar estômagos mais sensíveis. Em postagens no seu Plog, Patrício complementava os anúncios, descrevendo o quanto dele mesmo estava no texto transformado em obra de estreia. Relatava que trechos inteiros foram escritos com o teclado banhado em lágrimas, ou que muitas de suas angústias, inseguranças e mistérios pessoais embalaram os capítulos da história. Para completar, ele ainda escolhia a dedo os parágrafos que publicava na divulgação, partes que contivessem palavrões ou desabafos verborrágicos e ofensivos do autoconfiante protagonista em momentos de extrema excitação.

Essa atmosfera criada pelo autor atraiu bastante atenção para o livro. Foi algo meio “A Bruxa de Blair”. Muita gente dizendo que não iria querer ler o livro, pois devia conter um conteúdo pesado demais. Outros afirmavam que, apesar de ser um livro “pra chocar”, tinham bastante curiosidade em saber do que se tratava e iriam comprar a obra. Enfim, a campanha estava sendo muito eficaz em mostrar às pessoas que o conteúdo era “cru, polêmico e indigesto”.

As peças foram amplamente divulgadas pela rede mundial de computadores e Patrício usou sua extensa relação de amigos, colegas e conhecidos para potencializar a promoção. Contamos ainda com matérias bem bacanas nos principais veículos da época.

Lítio Capitalismo e Suicídio

Lítio Chacina

Lítio Cinema

Lítio Cicuta

Repetimos algumas estratégias do primeiro lançamento da editora para facilitar a assimilação do público e fidelizar leitores que já haviam ido ao lançamento do meu primeiro livro (“Verão Veraneio”), no ano anterior. Lançamos novamente na AS Livros, no Praia Shopping e contamos com a ajuda dos mesmos formadores de opinião que nos deram força no outro lançamento.

Lítio Cultura

Lítio Herói

Lítio Poço

O lançamento de Patrício contou ainda com um trunfo adicional: como ocorreu numa época em que os Jovens Escribas já estavam mais consolidados como um grupo, tanto eu, como Minchoni e Thiago de Góes divulgamos como pudemos o lançamento de Patrício, convidando nossos amigos a comparecerem com o argumento de que aquele não era apenas o lançamento do livro de um escritor amigo nosso, mas o resultado de um trabalho do qual nós também fazíamos parte. Era como se o livro de Patrício fosse também um pouco nosso.

E deu certo!

Apareceram muitos amigos, não só de Patrício, mas dos outros autores. Patrício ficou lá assinando os livros, enquanto Minchoni e eu fizemos as vezes de anfitriões, recebendo e distraindo os convidados. No fim da noite, um sucesso de vendas. Patrício até que estava feliz, mas se mostrava muito mais nervoso. Sorria amarelo, respondia aos parabéns com um obrigado tímido, não parecia nada à vontade.

Lítio Vilão

Lítio Liminar

Lítio Prozac

Lítio Hoje

Foram vendidos cerca de 70 exemplares da tiragem de 300 que havíamos impresso. Depois do lançamento, fomos tomar umas cervas no Gringo’s Bar. Não esticamos muito, uma vez que trabalhávamos no outro dia. Cheguei em casa e decidi ler o livro com mais atenção, uma vez que na fase de preparação, li apenas alguns trechos principais.

2005 – Imagem 04 – Lançamento Lítio Patrício

Surpresa: o texto polêmico, pesado ou mesmo difícil. Pelo contrário, era fluído, divertido, envolvente, empolgante, trazia elementos metalinguísticos que convertiam o leitor em cúmplice, inseria lembranças e “flashbacks” que nos transportavam até as vidas pregressas dos narradores, nos fazendo embarcar em seus pontos de vista, compreendendo a posição de cada lado da conversa telefônica que conduz a narrativa, trazia ainda um ritmo ficcional quase audiovisual de tão frenético. Era, conforme eu já havia concluído, um livraço.

Cheguei ao trabalho na manhã seguinte e mandei uma mensagem pra Minchoni: “Li 60 páginas do livro de Patrício antes do café-da-manhã”, ao que ele respondeu: “Li 160!”.

O livro não era cru, não era polêmico. E, acima de tudo, não era nada indigesto!

NO PRÓXIMO TEXTO: É TUDO MENTIRA E OS 40 LEIAUTES!

 

UMA HISTÓRIA DA JOVENS ESCRIBAS – Parte 01 – Verão Veraneio – O livro da estação.

janeiro 16, 2018

1 Capa Verão Veraneio FECHADA

Enquanto as conversas com os outros 3 autores caminhavam para o surgimento do selo Jovens Escribas, eu continuei escrevendo crônicas de humor para compor o meu primeiro livro. Já havia decidido qual nome dar à iminente publicação: “Verão Veraneio – Crônicas de uma cidade ensolarada”.

Fui reunindo textos e fazendo, empiricamente, o trabalho de auto-edição que, mal sabia eu, marcaria bastante minha vida dali pra frente. Quando Modrack Freire, diretor de arte que já havia concluído o logotipo do selo, se ofereceu para fazer o livro, começamos a imaginar como poderia ser a capa. Logo criamos uma imagem em nossa tempestade cerebral: a foto de um baldinho de criança à beira mar sendo utilizado para gelar cerveja, unindo a inocência presente na leveza das crônicas com a irreverência do humor também bastante característico nos textos. Na quarta capa, haveria outra foto: uma trave de “mirim” deixada de lado com o chão impecável em torno dela. Como se os jogadores tivessem algo melhor para fazer naquele dia (beber, paquerar, curtir) do que jogar futebol. O fotógrafo convidado a fazer os cliques foi Giovanni Sérgio, mago das lentes, ídolo de longa data.

Giovanni e eu

O fotógrafo Giovanni Sérgio – lindo e competente.

Com a direção de arte, diagramação e fotos garantidas, precisava batalhar agora um nome relevante que topasse assinar as orelhas da obra. Tinha que ser alguém reconhecido na literatura, de forma que o livro chegasse às pessoas com algum respaldo importante. Meu pai, em conversa com François Silvestre, chegou à conclusão que eu poderia procurar Nei Leandro de Castro, uma vez que eram muito amigos desde os tempos em que foram perseguidos e presos pela Ditadura Militar algumas décadas antes. Procuramos Nei que, num primeiro contato por e-mail, disse-me com sinceridade que só escreveria se gostasse do que lesse. Fiquei muito animado com a possibilidade e lhe entreguei o material impresso e encadernado em mãos, numa de suas vindas a Natal, naquele ano de 2003.

Teaser 10 anos - Nei Leandro

Nei Leandro de Castro

Menos de uma semana depois, Nei Leandro me escreveu. Sua mensagem veio repleta de elogios e terminava com sua concordância em escrever a orelha. Em mais alguns dias, o texto estava em minha caixa de entrada de e-mail. Em alguns trechos mais lisonjeiros, Nei dizia o seguinte:

Carlos Fialho me surpreende. Primeiro, por sua precocidade. Segundo, porque as suas crônicas são bem escritas, docemente sacanas, inteligentes, e nos dá a certeza de um escritor, que não há de ficar nos limites da crônica.

Os textos deste livro têm a idade e a linguagem  de um garotão bem resolvido com ele mesmo. Os temas  – gírias regionais, porres, rock, vídeo-game, paqueras, Natal, cinema, carnatais, carnavais, etc. – são tratados com graça e ironia, leveza e fino senso de humor.

Carlos Fialho, cronista, precoce, publicitário, devorador de livros, autor das crônicas deliciosas deste Verão veraneio, vai chegar lá. Esse garoto vai longe.

Além de Nei, procurei um autor adequado para o prefácio. Não precisava ser famoso, mas que tivesse um estilo mordaz e bom humor, de forma a combinar com o conteúdo do livro. Escolhi meu ex-colega de faculdade, George Wilde, que fez um texto preciso, de acordo com o que eu pretendia. Destaco uma pequena parte:

Fialho e George

George Wilde – o homem do prefácio

Ao ler o livro, descobri que dentro de Fialho existe algo grandioso: a sua percepção em relação ao nosso dia a dia. Afinal, poucas pessoas conseguem sair do círculo da rotina para perceber o verdadeiro circo em que vivemos.”

A campanha publicitária foi elaborada com alguns títulos bem humorados, bem ao estilo do livro. A assessoria de imprensa contou com indicações de colegas do curso de Jornalismo da UFRN.

anuncio verissimo

2004 - VV - Anúncio Art&C

Anúncio que a Art&C, agência onde eu trabalhava, fez no dia do lançamento.

Minha primeira entrevista foi concedida a Marcílio Amorim (Jornal de Hoje) e a segunda a Hayssa Pachêco do Diário de Natal. Mas a maior responsável pela divulgação do meu primeiro lançamento não era a imprensa nem a publicidade. Quem promoveu o evento a ponto de transformá-lo em sucesso foi minha mãe, Lurdete.

2004 - VV - JH1 2004 - VV - DN

Quando percebeu que era sério mesmo “essa história de livro”, arregaçou as mangas e telefonou pra cada parente, cada amiga, cada conhecido, reforçando bastante a frequência de presentes na noite de Verão Veraneio. O local escolhido foi a AS Livros do Praia Shopping, uma livraria acolhedora que tinha como gerente Cícero, um cara que dava bastante espaço a autores locais. O saldo da noite foi um estrondoso sucesso (163 livros vendidos) num ambiente preenchido de amigos, parentes e colegas de trabalho. Só a partir do segundo livro, essa frequência seria reforçada por leitores.

foto 27

Minha mãe, Lurdete, a maior promotora de lançamentos de livro que este autor já conheceu.

A noite foi tão agradável que Patrício Jr., que escrevia um blog, publicou uma postagem falando de como fora legal o evento (a qual reproduzo no fim desta publicação). Foi um belo cartão de visitas, indicativo do que estaria por vir num futuro não tão distante e também das possibilidades de crescimento e expansão que o então selo editorial acabaria por aproveitar com o passar dos anos.

2004 - VV

Quanta gente veio ver!

“Verão Veraneio – Crônicas de uma cidade ensolarada” trazia 5 capítulos. No primeiro, “Galado e outras palavras”, havia temáticas mais gerais. Entre elas, alguns textos merecem destaque como “Galado” que me notabilizou em muitos rincões da Internet e “A Loja de Inconveniência” que até hoje se mantém como um dos meus preferidos. No segundo capítulo, “Cruvinel – o bom de bola”, apresento um personagem que me acompanhou com o passar dos anos e que ganhou livro próprio em 2014 (“o nome disso é spin-off”). No terceiro, “Mano Celo”, nascia o protagonista de outro dos meus livros, este de 2009. Em seguida, vinha “Vi e gostei” com crônicas sobre cinema. Para fechar, o capítulo mais legal do livro: “Aconteceu no verão” com as histórias pertinentes ao tal “Verão Veraneio” que dá título ao livro.

E assim foi dado o pontapé inicial para a, hoje decana, editora JOVENS ESCRIBAS.

NO PRÓXIMO TEXTO: LÍTIO – CRU, POLÊMICO E INDIGESTO

***

BÔNUS: POST DE PATRÍCIO NO SEU BLOG PESSOAL – O PLOG

06/02/2004
há vida inteligente
no mercado publicitário

Quem trabalha com publicidade sabe: de tempos em tempos, tem uma “festa do mercado”. Tais eventos, sempre patrocinados por veículos, fornecedores, clientes ou ambos, têm por maior finalidade embebedar todo mundo, calar a boca de quem está perscrutando que o ano foi ruim e, por residual, reunir profissionais para um bate-papo informal. Pois é, parece um paraíso, mas tais “festas do mercado” haviam se tornado um verdadeiro transtorno. Passo o dia todo numa sala falando/fazendo/refazendo/desfazendo/tentando fazer publicidade. A última coisa de que preciso é estender esta missão ao meu happy-hour. Como prova de que nem tudo está perdido, houve esta semana o lançamento do livro de Fialho, “Verão Veraneio”, que não pretendia ser uma “festa de mercado”, mas acabou sendo por reunir exatamente as mesmas carinhas de sempre. O que me surpreendeu foram os temas das conversas. Ninguém, por exemplo, me perguntou “Como é que está la’?”. Ok, tudo bem, uma pessoas me perguntou isto, mas o assunto morreu quando eu respondi “Lá onde?”. Uma pessoa a noite inteira. Nada mal. Em outras “festas de mercado”, a famigerada pergunta “Como é que está lá?” é dita antes mesmo do “Tudo bem, broder?”. Já é, praticamente, sinônimo de oi. No lançamento de “Verão Veraneio”, porém, tudo foi diferente. Fialho conseguiu a façanha de reunir as mesmas pessoas de sempre fazendo, no entanto, com que todas soassem inéditas. Não sei se foi o fato de estarmos todos na AS Livros, rodeados de Dickens e Saramago e Proust e Pessoa e Machado e Camus. Birita? Claro que teve. Buffet? Sim, impecável. Bêbados chatos? Uh, nossa, e como! Mas estava tudo agradabilíssimo, tudo soando como um lançamento deve soar. Os temas conversados iam de autores consagrados a bandas de rock obscuras, sempre com tiradas inteligentes, observações pertinentes, risos na medida certa. Um éden para amantes do bom e velho papo construtivo como eu. Nunca gostei tanto das “pessoas do mercado”. O livro, graças aos céus, vendeu bem. Fialho, coitado, deve estar cheio de bolhas nos dedos de tantas dedicatórias escritas. E eu, exemplar autografado na mão, cheio de riso a caminho do estacionamento, concluí que a melhor das “festas do mercado” que eu já fui na minha vida foi o lançamento do livro do meu bróder. Mesmo que não tenha sido uma “festa de mercado”.

Patrício Jr.

UMA HISTÓRIA DA JOVENS ESCRIBAS – Parte 00 – Não existe escritor jovem!

dezembro 25, 2017
Patrício Mincha Fialho 2006

Patrício, Minchoni e Fialho, jovens e viçosos.

No dia 05 de fevereiro de 2018, a Editora Jovens Escribas completará 14 anos de existência oficial. Tá uma moça, como dizem os mais velhos. Já são mais de 150 títulos publicados, muito aprendizado e inúmeras amizades adquiridas, além de, claro, ótimas histórias pra contar. Bem, comecemos do princípio.

Em fins dos anos 90, eu fazia duas faculdades de Comunicação Social. Pela manhã, fazia Jornalismo na UFRN e, à noite, Publicidade na UnP. Ainda encontrava tempo para estagiar à tarde e, nas horas vagas, para ver filmes, jogos e ler alguns livros legais. Naquele tempo, incentivado pela leitura de crônicas de Luís Fernando Veríssimo, decidi tentar escrever textos curtos e criativos, leves e bem humorados, sobre qualquer assunto, o mundo em geral e o cotidiano em particular. Passei a colaborar com o zine, AZ Revista que revelou grandes nomes da comunicação como Caio Vitoriano, George Rodrigo, Paulo Celestino e Cristiano Medeiros.

Já na década seguinte, em 2001, fui passar uma temporada no Rio de Janeiro, para fazer um curso de especialização em redação publicitária. Nos primeiros tempos de Rio, eu frequentava a ESPM à noite e tinha o dia inteiro livre, pois só vim estagiar seriamente quando faltavam uns 4 meses para voltar a Natal. Dediquei-me então à leitura e à escrita de crônicas como exercício criativo.

Neste contexto, escrevi uma crônica chamada “Galado” que versava sobre este tão pitoresco termo do coloquialismo natalense. Envie o texto por e-mail para alguns amigos e, para minha surpresa, fez um estrondoso sucesso. Logo, o e-mail foi reenviado incontáveis vezes e minha autoria se perdeu pelo caminho. Senti, então, a necessidade de “registrar” meus escritos de alguma maneira. A princípio, procurei os jornais locais, mas ninguém queria publicar os textos de um estudante. Ainda mais um que tinha um palavrão por título. Tomei então uma decisão importante, que mudaria minha vida anos mais tarde: publicaria um livro com minhas crônicas.

Entre 2001 e 2003, reuni e selecionei cerca de 50 textos. Submeti-lhes à leitura sempre cuidadosa e sincera de Nei Leandro de Castro, que pediu para ler antes de aceitar (ou não) escrever a orelha. No fim do ano, o arquivo com o livro já estava sendo trabalhado pelo diretor de arte Modrack Freire. Neste meio tempo, porém, uma questão me veio à mente. Quando, em conversas informais, as pessoas sabiam que eu estava preparando um livro de minha autoria, costumavam dizer: “Que legal! Não existem escritores jovens, né?”

Comecei a pesquisar e percebi que as pessoas tinham razão. Os jovens estavam publicando em blogs, sites, fanzines e outras mídias populares na época, mas não livros. Procurei outros caras da minha idade (tinha uns 23 anos) que tivessem escritos em volume suficiente para se tornarem também livros. Dessa forma, com a ajuda da lei municipal de incentivo à cultura e de alguma empresa que pagasse bom volume de ISS, lançaríamos uma série de livros sob a égide de uma mesma marca, um selo editorial que legitimasse nossa coleção de publicações.

O nome criado, JOVENS ESCRIBAS, remetia à junção do novo ao antigo, remetendo à infante energia cheia de vida e disposição dos jovens empreendedores da jornada e também à verve tradicionalista que não se satisfazia com as novas mídias, com os canais proporcionados pelo advento da Internet, mas que queriam sim ver suas criações impressas em papel, num formato padrão encapado, colado e costurado. O logotipo elaborado por Modrack Freire alude ao nascimento de novos escritos, pois traz um pingo de tinta como uma gota de esperma com o nome do selo editorial em seu interior.

O recrutamento dos companheiros de jornada não seria fácil. Era importante que nossa coleção de 4 livros tivesse gêneros distintos. Eu escrevia crônicas, então precisávamos de um contista, um poeta e, se possível, um romancista. O contista foi mais fácil, pois eu conhecia Thiago de Góes desde o colegial e sabia que ele andava escrevendo contos populares, influenciado pela leitura de autores brasileiros como Rubem Fonseca. Quando entrei em contato, ele me falou sobre um projeto que estava trabalhando que era a confecção de contos baseados em canções bregas. Gostei da ideia.

O poeta e o romancista surgiram por indicação. Um amigo publicitário, Renato Quaresma me disse certa vez que um colega chamado Daniel Minchoni andava declamando poesias de sua autoria pelos calçadões de Ponta Negra. Procurei Mincha para falar do selo e perguntar se ele tinha interesse em publicar.

Por fim, Modrack me apresentou a Patrício Jr., um grande amigo seu que tinha acabado de escrever um romance que se chamaria “Lítio”.

Nos encontramos Daniel, Patrício e eu (Thiago mora em Fortaleza e quase nunca estava em nossas reuniões) e topamos construir o projeto juntos. No início, achávamos que publicaríamos aqueles livros de estreia e pararíamos por aí. Ou que até continuaríamos, mas com os livros seguintes lançados por outras editoras, grandes, do sudeste. Não tínhamos ideia de como este universo editorial do eixo Rio-SãoPaulo era fechado a poucos. Nem percebíamos que tínhamos acabado de conceber uma ideia muito mais forte e duradoura do que um simples e passageiro selo editorial. O simples fato de termos decidido fazer algo coletivo, juntando vários autores em torno de um objetivo em comum daria à Jovens Escribas uma força extra que se tornou o segredo de boa parte do nosso sucesso.

Thiago de Góes - Dia do escritor 2013

Thiago de Góes

Por essas falhas de avaliação inicial, pode-se perceber o quanto éramos, de fato, jovens e ingênuos. Com isso, é possível compreender inclusive o nome de batismo do então selo editorial, que não levava em consideração que envelheceríamos rápido, que um dia publicaríamos autores já bem entrados nos enta e que nossa marca duraria bem mais do que uma embrionária coleção de 4 livros.

NO PRÓXIMO TEXTO: VERÃO VERANEIO – O LIVRO DA ESTAÇÃO

 

Oi, sumidos!

dezembro 24, 2017

Tá bom, tá bom, eu sei. Não dei o “C do cabimento” a vocês. Andei ocupado, espero que entendam. Trabalhei em uns livros aí, tive uma empresa de publicidade que acabou sendo adquirida por outra, escrevi colunas semanais para um jornal da cidade, e as finanças não ajudaram muito. Por isso, precisei me dedicar à correria de viabilizar projetos que gerassem alguma grana.

OI sumido

Mas agora, em 2018, decidi enveredar pela criação de conteúdo para Internet, tão poluída que anda pelo fluxo ininterrupto de bobagens que assolam as redes sociais. Uma das iniciativas é atualizar este espaço virtual com frequência, outra é iniciar a colaboração com o site de jornalismo SAIBA MAIS e a terceira é gravar vídeos sobre cultura, literatura e atualidades num canal de Youtube que está em gestação.

Vou atualizando vocês por aqui e cada nova peripécia concretizada será anunciada pelo Twitter @cfialho ou pelo Facebook.

Espero que gostem.

E para celebrar de vez, a nossa volta e amizade eterna, tenho a alegria de postar o clipe da música “Companheiro” do Dominó. Porque a boa MPB nunca envelhece!

 

REBOOT

dezembro 23, 2017

marvel-poster-2007

Nos quadrinhos de heróis, aquelas historinhas coloridas que a gente começou a ler quando criança, seguiu lendo adolescente com o pretexto de que havia conflitos humanos sérios por trás daquelas malhas coloridas e capas esvoaçantes e que seguimos comprando adultos, agora com a desculpa de que são narrativas históricas e encadernadas em capas duras, passando a ter outro valor como itens de colecionador, além de embasar boa parte da cine-dramaturgia da indústria pop atual, sempre há os “reboots”.

Um “reboot” é como se fosse um botão de “reset” do universo, um ponto final seguido de recomeço. É como a representação da carta da morte no Tarô que, na verdade, significa paradoxalmente renascimento, nova oportunidade, etc. O reboot é um artifício utilizado pelos roteiristas para encerrar um ciclo e começar outro do zero, arrumar toda a bagunça feita até ali, seguir em frente sem precisar olhar pra trás ou se importar com as consequências do que se fez no passado. É um indulto, um perdão, uma absolvição geral e irrestrita de quaisquer absurdos que se tenha cometido. E também uma nova e auspiciosa chance para que se possa cometer novos erros e, vá lá, acertos também. Enfim, uma folha em branco para se contar histórias originais e até requentar as histórias antigas, com detalhes alterados, melhorias aqui e ali.

Reboot é recomeço.

Foi com esse pensamento que resolvi retomar este blog, espaço virtual criado no início de 2009, com intuito de divulgar os trabalhos literários que vinha desenvolvendo na época e que acabou virando uma oportunidade de compartilhar com as pessoas todo e qualquer conteúdo que eu julgasse interessante.

Vou começar de novo, com o jogo zerado, tal qual a leitura de um livro que interrompemos no meio e que decidimos reler desde o princípio. Vamos em frente, publicar novidades, repostar conteúdos anteriores com as devidas atualizações e dar reset neste universo particular que é todo nosso!

Em breve, haverá um novo cabeçalho ali em cima, os links de sites parceiros serão atualizados e as novas postagens já se tornarão uma rotina para vocês.

Bem-vindos!

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Coluna do Novo Jornal – 115 – 17.11.2012 – Pinto & Rêgo Advogados Associados: o pleito da OAB.

julho 25, 2014

Em 2010, criei os personagens Giovanni de Sousa Pinto e Adriano Sérgio Rêgo, os orgulhosos sócios do escritório “Pinto&Rêgo Advogados Associados”. A ideia era fazer uma sátira ao universo do Direito e a uma certa tendência ao tecnicismo que leva muitos advogados e juristas a desenvolverem a arte de “falar, falar e não dizer nada”. Na época em que publiquei esta crônica, houve até quem se ofendesse, um senhor que me seguia no Twitter, de nome Carlos Lineu, quis rodar a baiana, promovendo um mini-escândalo em 140 caracteres, mas sua meia dúzia de seguidores não lhe deu ouvidos.

Até porque, o escritório “Pinto&Rêgo Advogados Associados” veio pra ficar, construindo uma história bem sucedida de êxitos jurídicos (quer dizer, nem tanto, mas pelo menos eles disfarçam para manter a boa reputação).

***

Pinto & Rêgo Advogados Associados: o pleito da OAB.

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Caiu como uma bomba no meio jurídico a notícia de que Giovanni de Sousa Pinto e Adriano Sérgio Rêgo, os orgulhosos sócios do escritório “Pinto&Rêgo Advogados Associados”, os mais destacados e brilhantes advogados da cidade formariam uma chapa a fim de pleitear a presidência da OAB. Mesmo com outros dois grupos na disputa, já formados há tempos, com suas candidaturas consolidadas e estratégias em progresso, eles resolveram arriscar, afinal de contas, a presidência da entidade confere a seu ocupante um status de autoridade na sociedade civil, alguém a ser consultado, ouvido e muito respeitado pelos cidadãos. Faz bem à imagem projetada junto ao público externo e também à imprensa, massageia o ego, atrai atenções e olhares, pode gerar novos negócios e muitas oportunidades. Ah, e tem também o fato de fazer bem aos demais, lutar pelos direitos e prezar pelo cumprimento das leis e tal e coisa. Aliás, pelo que andam dizendo, foi mais por essa parte de praticar boas ações e beneficiar a sociedade que os bem sucedidos homens da lei decidiram abraçar mais essa causa. Nada a ver com todo esse lance de poder e vaidade.

A inscrição da candidatura foi feita com êxito. Chapa 3. O embate seria travado contra as de número 1 e 2 e o desafio seria convencer a maioria dos que contavam com registros na entidade a optar por eles. A tarefa não parecia tão árdua se levarmos em conta que os sócios são verdadeiramente admirados pelos inúmeros jovens advogados recém formados. É prudente dizer que o enorme contingente de egressos dos cursos de Direito da cidade, algo equivalente à metade da população universitária natalense, votaria em peso nos doutores Giovanni e Adriano. Afinal, existe praticamente uma faculdade de Direito por esquina, pelo menos nos principais bairros ou nos cruzamentos mais movimentados. Cada uma delas com centenas de alunos encantados pelo charme e capacidade destes autênticos ídolos profissionais.

No entanto, os prolixos e abnegados candidatos não contariam com esta consagradora adesão eleitoral, já que pouquíssimos daqueles formandos conseguiam a aprovação no exame da ordem, que concede o direito a votar nas eleições da entidade. A saída, portanto, seria persuadir os advogados mais experientes a optar por eles e não por nenhuma das chapas cujas campanhas já se encontravam a todo vapor em articulações de bastidores e conversas reservadas nos muitos escritórios e antessalas, nas comarcas, nos corredores dos tribunais e, é claro: nas varas.

Mais uma vez, nossos destemidos protagonistas tinham diante de si um árduo desafio e contavam com sua mais mordaz habilidade para superá-lo: a retórica. Gastariam saliva para reverter situação tão desfavorável, mas estavam prontos e dispostos para enfrentar a difícil caminhada rumo à consagradora vitória final. Na entrevista em que anunciou ser candidato, o Dr. Pinto, com o Dr. Rêgo à sua retaguarda, declarou: “A fim de que não imperem as iniquidades e que não se perpetuem as nulidades vis e abjetas, não me resta outra opção que não seja negar-me a permanecer em estado de negação, inércia e comodismo extremos, enquanto a necessidade premente de minha classe clama por ação e iniciativa da parte daqueles em cuja confiança deve ser depositada, não obstante os imensuráveis muros que se erguem pelo caminho, convertendo-se em quase intransponíveis obstáculos contra os que lutam sem cessar pela justiça e exercício pleno da cidadania junto à coletividade e à comunidade advocatícia, provocando, no entanto, nada mais que o irrefreável ânimo dos que lutam por um ideal, conservam evoluído espírito público e aceitam de bom grado travar o justo combate, ontem, hoje e sempre. Data vênia!”

O jornalista Carlos Viktor Duarte Assunção escolheu como título para a matéria: “Datíssima Vênia!” No texto da matéria, cheio de picardia e a malemolência do jornalismo moleque brasileiro, escreveu que o postulante a presidente “não disse nada, mas falou bonito.” Muitos advogados que leram as páginas do jornal riram do pobre periodista que não contava com suficiente envergadura intelectual para alcançar o elevado vocabulário do reputado jurista nem conhecimento que bastasse para compreender em toda sua amplitude a levemente complexa e bem articulada linguagem utilizada pelo colega Giovanni. O que os homens e mulheres das leis evitavam comentar entre si, por pura vergonha, era que eles próprios não haviam entendido nada das palavras do candidato, mas ficava feio admitir. Alguns se sentiam, inclusive, inclinados a votarem na Chapa 3 com medo de, caso não o fizessem, as pessoas pensassem que eles não haviam compreendido a declaração, mesmo o voto sendo secreto.

Para dar conta da campanha, uma boa assessoria de imprensa e reconhecida agência de propaganda foram contratadas. Não havia jornal sem anúncio da Chapa 3, nem colunista sem notas (com duplo sentido, faz favor) a registrar ou blogueiro sem postagem positiva e elogiosa. A cidade também foi amplamente ornada com adesivos que ocupavam os vidros traseiros de ônibus e carros. As redes sociais, como Twitter e Facebook, também entraram no clima de campanha, com os usuários (muitos alunos das faculdades onde eles lecionavam e estagiários do escritório) divulgando os enormes dotes de Pinto e a impenetrável firmeza de Rêgo.

A estratégia de discurso seguia duas linhas distintas e complementares: além de alardear aos eleitores suas muitas e evidentes qualidades, que lhes conferiam (ou deveriam) inegáveis vantagens, uma tática que se fez usual foi o ataque aos adversários diretos, no caso, os componentes das outras chapas. Valia tudo. Se alguém descobrisse que o candidato a diretor de recreação de uma das outras chapas nunca havia logrado êxito em promover festas e que, numa malfadada despedida de solteiro que organizara para um amigo de infância, a coisa mais gostosa que os convidados comeram foi uma pizza de calabresa do Habib’s, já pipocavam as denúncias “anônimas” por e-mail e as postagens maliciosas nas redes virtuais e blogue$ amigo$. O raciocínio era de que uma pequena sujeira na imagem dos adversários funcionariam como uma mão de cera extra em suas já brilhantes e irretocáveis reputações.

O clima anda quente entre os profissionais da área. A data do pleito se aproxima e este é aguardado com grande ansiedade por toda a classe. É verdade que eles imaginam que tal expectativa contagia toda a cidade, mas sabe-se que, entre as pessoas comuns, que não cursaram Direito nem vivem o dia a dia da mais chata e insípida das carreiras, os advogados valem tanto quanto qualquer outro cidadão. Com ou sem repercussão, no entanto, a eleição se aproxima e, segundo os mais confiáveis institutos de pesquisa da capital, a Chapa 3 desponta como uma das favoritas (no mínimo, fica em terceiro). É esperar para ver. Comenta-se que eles negociam acordos de bastidores para retirar a candidatura na véspera da votação em favor de uma das outras duas concorrentes. Mas “tudo dentro da mais estrita legalidade e total lisura, imbuídos de genuíno espírito cívico, democrático e republicano.”, disse o candidato a vice, Adriano Sérgio Rêgo. Para depois concluir: “Data máxima vênia!”

Coluna do Novo Jornal – 114 – 10.11.2012 – Foca, Ana e o Festival Dosol

julho 23, 2014

Esta é uma “crônica exaltação”, uma espécie de elogio em forma de texto que sempre faço a pessoas que realizam trabalhos edificantes e valiosos, ilhas de empreendedorismo cultural e humano em meio a todo um oceano de mediocridade que insiste em nos rodear e pilhar quaisquer indícios civilizatórios com um tsunami de chorume e burrice endêmica.

Ana e Foca não são assim.

ainda bem.

***

Foca, Ana e o Festival Dosol

Ana e Foca

Foca e Ana na frente do Centro Cultural Dosol – foto Tribuna do Norte.

Hoje é um dia muito importante no meu calendário pessoal, cultural e de lazer. Terá início em Natal mais uma edição do Festival Dosol, celebração musical que vai além do mero entretenimento vazio de outros eventos anuais que recebem vultosos investimentos públicos sem oferecer à cidade seque ruma mísera fração do que o Dosol nos devolve em contrapartida a sua realização. Em dois dias de apresentações, dezenas de bandas, muitas delas locais, passarão pelos 2 palcos da Rua Chile.

Vários dos rapazes e moças munidos de guitarras, baquetas ou simplesmente de suas vozes foram doutrinados e tiveram suas bandas “incubadas” a partir da estrutura e estratégia montada pelo casal à frente do Dosol, Ana Morena Tavares e Ânderson Foca. A combinação selo musical, estúdio para ensaio e gravação, Centro Cultural para apresentações e um longevo e respeitado festival anual, promovendo intercâmbio com bandas de outros lugares, além da oportunidade de tocarem para uma plateia ampla, faz com que surjam novos grupos, gente tocando e compondo música autoral, dando vazão a todo um potencial criativo represado e que encontra no Dosol uma maneira de extravasar seus dotes artísticos de uma forma mais construtiva do que simplesmente pegando uma latinha e batendo uma na outra: tchá, tchá!

 

ATENÇÃO: INTERROMPEMOS ESTA COLUNA PARA UMA BREVE REFLEXÃO!

Aqui cabe uma reflexão que não me canso de propor. O trabalho colaborativo do Dosol tem beneficiado a cultura local ao promover a formação de público para a música autoral, dar a oportunidade de artistas amadurecerem e desenvolverem suas habilidades. Tudo isso numa região da cidade que permite não infernizar a vida de nenhum dos seus habitantes. Em resumo: os benefícios gerados são divididos entre muitos. Em contraponto, o que foi que o Carnatal gerou além do enriquecimento de alguns empresários como Paulinho Freire e os donos da Destaque? Alguém conhece uma banda local surgida a partir do evento festivo puxado por trios elétricos? E nem me venham com a história de que ele gera trabalho e renda, pois as migalhas que acabam caindo nas mãos do povo são pouco menos que uma mísera esmola diante dos milhões em dinheiro público embolsados pelas empresas promotoras. Isso num evento que cobra centenas de reais por cada dia de folia, altamente rentável e, certamente, autossustentável. Na boa, o maior legado dos 4 dias de folia é o cheiro de mijo que impregna nossos narizes na segunda pós-evento.

AGORA VOLTAMOS A NOSSA COLUNA NORMAL.

 

O grande mérito do festival ribeirinho é não sucumbir à armadilha fácil que captura 9 entre 10 natalenses, o lugar-comum do “se dar bem sozinho”, do “farinha pouca meu pirão primeiro” e do egoísmo de ocasião (qualquer ocasião) que impera na cidade. O voluntarismo da trupe roqueira não é exclusiva deles. Podemos perceber também em iniciativas admiráveis como a Casa da Ribeira, o Clowns de Shakespeare e diversas outras. É esse perfil generoso e colaborativo que está por trás do crescimento do evento e da expansão para Mossoró, Caicó e São Paulo de Piratininga. Obviamente, tudo é fruto de muito trabalho e de uma persistência quase obsessiva que percorreu os anos. Posso afirmar com conhecimento de causa, uma vez que fui testemunha ocular da história de Foca desde que ele era apenas um esforçado pegador de ondas vindo do Pará.

Conheci Ânderson através de dois amigos em comum, Caio Vitoriano e Leonardo Medeiros, em um dezembro qualquer dos anos 1990. Naquela estranha e derradeira década do milênio passado, ele era um dos caras que proporcionaram com que se pudesse sair por aí para ouvir algo além do ritmo preferido dos natalenses, o forró-pagode-axé. Eram anos estranhos e algumas válvulas de escape pop respondiam por “Banda Officina” e “Inácio Toca Trumpete” (de Karol Polsadski), além dos ótimos “Mad Dogs” dos ídolos supremos de várias gerações: Paulo Sarkis e Fernando Suassuna.

Quem também fazia parte da “Officina” era Ana Morena. Em meio a uma cidade monocultora por convicção, o casal e seus colegas de banda conseguiam viver de Pop-Rock com bons vencimentos a cada mês. Isso mostrava um lado empreendedor bastante apurado e uma firmeza de propósitos de quem realmente queria atingir seus objetivos. Em que pese eu acompanhar os shows como amigo dos vocalistas, o que me converteu em fã de ambos foi o trabalho árduo à frente do Dosol, iniciado anos depois. Foi ali que eles me convenceram da importância do que faziam, ganhando pontos e estrelas no boletim hipotético no qual emitimos notas mentais e julgamos todas as pessoas que conhecemos em nosso inconsciente.

Com a abnegação, sacrifícios e conquistas obtidas, Ana e Foca evoluíram na classificação de amigos para essas pessoas que a gente tem orgulho em conhecer. Subiram o elevador no meu conceito em virtude de um trabalho notável, colocando Natal entre as cidades onde acontecem coisas boas, que recebem bons concertos de cultura alternativa, por onde passam bandas legais que gostaríamos de ver ao vivo.

Todo mundo deve ter alguém com história semelhante. Um cara que se conhece há tempos e que prospera, vence, se destaca, faz e acontece, nos deixando felizes, como se também fizéssemos parte, de alguma forma, das façanhas empreendidas. Em mim, gera uma sensação boa, pois gosto de verdade de acompanhar o êxito dos amigos. Como fiquei em 2007, quando o festival perdeu o patrocínio devido às jogadas do Governo do Estado e da Fundação José Augusto e mesmo assim ele realizou o festival com mais de 50 bandas, muitas tocando de graça, na brodagem, pra ajudar diante da situação difícil. Vários grupos hospedados em casas de amigos.

E agora chegamos a 2012. Mais uma edição do Festival Dosol tem início. É hora de celebrar o fato de um trabalho persistente, bem feito, prospere e faça tão bem à cidade e sua cena cultural. Todas as iniciativas do Dosol representam uma vitória contra o marasmo, a mesmice, a mediocridade e a estagnação. O sucesso da dupla organizadora e de suas invenções é também uma prova que boas coisas nascem, crescem e prosperam nesta acéfala e ensolarada capital potiguar.

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Coluna do Novo Jornal – 113 – 03.11.2012 – O chato

julho 21, 2014

No dia 03 de novembro, publiquei uma releitura de um texto antigo, no qual eu traçava um perfil de um chato fictício, mas bastante plausível, pois todos nós temos os nossos demônios em versões de amigos que cruzam nossos caminhos e são, convenhamos, chatos pra caralho. Alguns podem ter notado a omissão da coluna de número 112, publicada em 27 de outubro de 2012, mas como o tema era política, preferi não republicar para evitar que ratos e moscas sectários venham ao blog deixar seus fétidos e estúpidos comentários. Pois estes sim, são chatos de verdade!

Agora, divirtam-se com o chato.

***

 

O chato

pentelho

Você conhece o chato. Na verdade, você é íntimo dele. Ele lhe acompanhou em todos os momentos de sua vida, desde a mais tenra infância até a decrepitude que vem com a idade. Foi ele que deu aquela ideia idiota de se inscrever na quadrilha do jardim 2 mesmo sem que vocês soubessem dançar. Aí você foi, passou aquela vergonha na frente de todo o colégio, dos seus familiares, das meninas do jardim da infância (mesmo que naquela época você não ligasse pra elas) e depois ainda tentou minimizar o caso dizendo “Veja bem…” O chato sempre começa suas explicações com um “Veja bem”. E como demoram as explicações do chato.

Aliás, se você deixar o chato começar a falar, é melhor sair correndo imediatamente. Quando ele começa, não para. Nunca. Além de tratar de assuntos totalmente irrelevantes para qualquer ser humano com cérebro maior que o de um calango, eles costumam ser muito abertos ao monólogo. Se eles começam a falar da nova temporada da série mais bestalhona da TV ou do último vídeo game que acabou de sair, despeça-se do seu bom-humor por aquela noite. E mesmo que você tente dar sinais de que não é muito adepto daquele assunto ou está pouco à vontade com aquele papo, ele vai continuar exibindo todo o seu conhecimento sobre a musicografia da Madona. E nem adianta olhar no relógio a cada 5 segundos. O chato não entende indiretas.

Inconveniente ao extremo, ele chega sempre na hora errada. Sabe naqueles domingos em que você quer ficar em casa sem encontrar viv’alma? Aqueles feriados em que só pretende descansar e se preparar para o próximo encontro com os demais seres humanos? Pois é. Precisamente neste dia, ele aparece para fazer uma visita surpresa e, pior, cheio de novidades pra contar! Quando você está com sua namorada ou amigos ou mãe, e ele surge do nada, como um ninja em meio à fumaça, num restaurante, ou barzinho, ou supermercado, diz coisas constrangedoras a seu respeito, revela um apelido oculto, estraga o seu dia como só o chato sabe e é capaz de fazer.

A inconveniência do chato está ligada à ausência de desconfiômetro de que ele sofre. O chato não se liga, não se toca, não toma semancol. Ele fala de assuntos desagradáveis sobre os quais você não quer ouvir, como a eliminação do seu time, ou lembra o quanto você está gorda. Aliás, ele não só cita esses assuntos, como insiste no tema. Discorre longamente sobre sua calvície ou de como você precisa de uma plástica no nariz urgentemente.

O chato discorda de você em todos os assuntos. Ele tem opiniões fortes sobre tudo e, claro, são todas estúpidas, absurdas, inconcebíveis. Mas não adianta tentar discutir com ele. É inútil. O chato de verdade não lhe deixa completar seus raciocínios, exibir seus argumentos. Aliás, é impossível sequer conversar com ele. O chato adora interromper.

Ele sempre tenta se passar por sério, brinca de ser importante, insiste em ser adulto, mesmo que só tenha 11 anos de idade. É aquele que lhe encontra nos lugares e, sempre que há testemunhas, lhe diz: “Cara, precisamos conversar!” Se um dia você o pressionar e tentar saber dele o que tanto ele tem pra conversar com você, não vai descobrir nada. Ou então ele vai passar a destilar uma teoria tão difusa e tangente, desprovida tanto de sentido como de pertinência que você se arrependerá de ter perguntado por 8 gerações.

Quando um chato DDD (que vem de outro Estado ou cidade) se hospeda em sua casa, tenha a certeza de que vai viver os piores dias da sua vida. Dia desses recebi um destes e posso assegurar-lhes que vivi as 36 horas, 12 minutos e 23 segundos, mais longas de toda a história da humanidade. É que o meu amigo chato tinha o poder de transformar instantes em intermináveis sucessões de constrangimentos.

Pra começar, ele usava o banheiro 4 vezes por dia para fazer na privada aquela outra necessidade fisiológica que não é o xixi. E deixava o banheiro completamente empestado a cada nova utilização de uma forma que o Potengi ia parecer perfume francês. Outra peculiaridade dele era sua idolatria por Hilda Hist. Até aí, tudo bem, o problema era fazer questão de dividir sua devoção com o mundo, declamando de cor textos inteiros, por mais longos que fossem. Mas o pior era que essa não era uma exclusividade de Hilda Hist não. Esquetes da TV Pirata, aulas do programa Vestibulando sobre índices pluviométricos, músicas do Rolling Stones. Tudo, ele sabia de memória e citava sempre que podia. E não adiantava dizer um trecho só não. Tinha que ser tudo!

E mesmo com tanto conhecimento profundo a respeito de tudo isso, o chato é incapaz de executar as tarefas mais simples como ligar o computador da sua casa ou abrir a mala do carro. E é para ajudá-lo com tais ações que ele decide lhe acordar às 6 da manhã de um domingo, sem fazer a menor ideia de que está incomodando.

O chato não come verdura, mas só lhe avisa depois que você, cheio de boa vontade e ótimas intenções, serviu o seu prato. Ele olha contrariado para aqueles pedaços de tomate, cebola e pimentão, com um suplicante olhar de vítima e diz condescendente: “Não tem nada não. Pode deixar que eu tiro as verduras”, fazendo você se sentir culpado como se fosse mais terrível que Hitler, Paulo Queixada e Micarla juntos! Então ele retira as verduras e mastiga ruidosamente de boca aberta. Durante a refeição ele faz questão de conversar sobre os seus problemas de furúnculos, a cirurgia de redução de estômago de sua namorada e um conto do Rubem Fonseca chamado “compromancia”.

Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o chato não é um cara antipático. Ele é animado e alegre. Até demais. Ri alto e de qualquer besteira. E ri das próprias piadas também, muito, mesmo que elas não tenham a menor graça e nem façam nenhum sentido. E é exatamente assim que elas sempre são. A simpatia do chato é irritante. Faz você querer esganá-lo ou beber veneno, o que estiver mais ao alcance para o momento.

No entanto, você não pode matar o chato. Na verdade, você não consegue sequer ser grosseiro com ele. É que você é refém dele. O chato é, apesar de tudo, o cara mais prestativo do mundo e você deve, no mínimo, um grande favor a ele. Foi o chato que passou 2 dias na fila, tomando chuva, sereno e sol na moleira para comprar os 2 últimos ingressos do show da sua banda preferida. E é nesse episódio de um passado remoto que você pensa antes de partir a cabeça dele com um machado. É no ingresso, no sacrifício, no favor que você pensa sempre que vai empurrá-lo de uma sacada alta ou mandá-lo calar a boca. É aquele favor que ninguém mais no mundo quis fazer por você que lhe mantém irremediavelmente ligado ao chato e que o faz ter certeza de que ele vai lhe acompanhar até o ocaso da vida. É difícil admitir, mas essa é a verdade. Por mais chato que isso seja pra você.

Coluna do Novo Jornal – 111– 20.10.2012– É comigo?

julho 17, 2014

Vamos pular a coluna de número 110, pois ela tem um viés político que iria certamente atrair olhares contaminados pelo chorume partidário que já ronda nossas TLs neste ano eleitoral. Passemos então à coluna de número 111, publicada em 20 de outubro de 2012.  Na crônica “É comigo?”, brinco com a dificuldade que os homens têm em entender indiretas. Gosto dela. Ficou leve e divertida.

***

É comigo?

Nesta foto, podemos observar uma expressão típica da incapacidade masculina de compreender uma indireta.

Nesta foto, podemos observar a típica expressão de um homem incapaz de compreender uma indireta.

Com a popularização da Internet e o advento das redes sociais, diversos dos nossos hábitos migraram das relações face a face para o ambiente virtual disseminado em lares e escritórios por detrás de telas de cristal líquido e mediante teclados físicos ou projetados em superfícies sensíveis. Porém, apesar de os novos instrumentos funcionarem como catalisadores de relações, acelerando sobremaneira o ritmo com que espalhamos as informações, o comportamento não mudou tanto assim. Nossos jovens e adultos conectados ainda paqueram, conversam, trocam ideias, fazem piadas, ofendem-se, chateiam-se, pedem perdão, fazem as pazes e têm as mesmíssimas sensações dos últimos 10 mil anos, quando deixamos as cavernas e decidimos que não haveria mais fronteiras entre nós e o tão vasto mundo a nossa espera. Das pinturas rupestres para o iPad 3 foi um salto e a verdade é que, tirando o tamanho da tela, pouca coisa mudou.

Um bom exemplo disso é o ancestral costume de dizermos indiretas uns para os outros. Sempre que um grupo de seres humanos se reúne em um ritual, qualquer que seja, de animados churrascos a malogradas reuniões, ela surge do nada, provocando uma reviravolta no ambiente, mandando o clima de aparente normalidade para o espaço e sacudindo o ânimo dos presentes com a força de um furacão de nome exótico. É verdade que muitas são positivas, como elogios enviesados ou cantadas dissimuladas que se utilizam de discrição para conferir maior charme à abordagem amorosa.

Entretanto, as grandes indiretas que abalam estruturas, que roubam nosso chão, que derrubam queixos e reputações, não tem jeito, são agressivas, cáusticas, críticas, venenosas, ferinas e impactantes. São elas que mudam a história da humanidade, destroem relações, acirram disputas entre concorrentes, transformam simples adversários em inimigos mortais, criam frases de efeito capazes de entrar nos anais do imaginário popular ou habitar nosso inconsciente coletivo. Geralmente, elas são melhor proferidas por gente com talento para a atuação. Uma boa indireta que se preze, para alcançar o efeito desejado, deve ser dita ou escrita com os olhos semicerrados, um leve sorriso malicioso no canto dos lábios e uma das sobrancelhas levemente arqueada. Todo cuidado é pouco, pois há os que dosam mal o tom e, em vez de soltar uma boa indireta, acabam por acertar um direto no queixo retórico no receptor desprevenido.

O fenômeno que podemos perceber nos sítios de relacionamento internéticos é que, devido ao voluntarismo de tais endereços eletrônicos e a espontaneidade estimulada pelo espírito do compartilhar, curtir, expressar-se e revelar ao mundo uma persona autêntica e descolada, a prática geral e irrestrita das indiretas virtuais pululam na rede mundial de computadores, tablets, smartphones e afins. Hoje em dia, basta acessar um Facebook e Twitter da vida para ler coisas como: “há empresas que cumprem o que prometem, enquanto outras demoram a entregar a compra, não é mesmo, Ponto Frio?” Quando leio algo assim, posso até imaginar a pessoa do outro lado dando uma rabissaca (é assim que se escreve rabissaca?).

Alguns utilizam os sites para dar recados sinuosos para desafetos, colegas de trabalho, familiares e amigos com quem estejam brigados. São as clássicas frases que contém a expressão “certas pessoas…” Podem prestar atenção. É batata! Tão lugar-comum quanto entrevistas de Carnatal, aqueles cujas perguntas sempre começam com “E aí?”, enquanto as respostas principiam em “Com certeza!” É mais ou menos assim: “Tem certas pessoas que ficam enrolando o dia todo no trabalho enquanto poderiam render mais para a empresa.” Ou ainda: “Eu ajudo a organizar a festa de Natal da família, ao contrário de certas pessoas…”.

As indiretas amorosas também estão em alta nesses loucos tempos de autoafirmação. Reparem que basta um casal se separar para ambos os lados iniciarem a postagem indiscriminada de fotos felizes, tentando transmitir ao mundo como eles estão bem, quando, na verdade, tudo não passa de um expediente barato para mostrar ao ex que está melhor sem ele.

Outro dia vi um conhecido soltar os cachorros contra um inimigo oculto. Ele dizia, colérico, sem revelar o destinatário da missiva bombástica: “Parabéns, seu sabichão! Você que sabe de tudo mais que todo mundo! Desculpe não dominar tão profundamente todo o conhecimento do mundo como você que é dono da verdade e senhor da razão!” Imediatamente, pus-me a pensar que as indiretas em redes sociais atingem todas as pessoas do mundo menos o verdadeiro alvo do petardo. Se considerarmos que metade dos usuários da rede são do sexo masculino, a situação é ainda pior, uma vez que está provado cientificamente que os homens não dispõem de um gene que identifica indiretas. Homem, simplesmente não entende recados cifrados. Nunca! Não adianta! Sem chance!

Eu próprio sofro bastante ao tentar interpretar as mensagens indiretas que aparecem em minhas linhas do tempo, protagonizando verdadeiros contorcionismos faciais para ver se consigo interpretar o que leio. Minha vontade é perguntar para todos os emissores de alfinetadas: “É comigo?” Diante da impossibilidade de descobrir, relaxo e tento me convencer que o remetente está se referindo a outra pessoa. Tenho, inclusive, pensado seriamente em responder todas as indiretas com as quais me deparar daqui por diante de uma maneira mais explícita. Não vou nem perguntar se é comigo. Mando logo pra PQP e pergunto: “Que porra é essa?! Quer brigar?!”

Coluna do Novo Jornal – 109 – 06.10.2012– O assessor xeleléu

julho 17, 2014

Continuando a sequência de republicações de colunas do Novo Jornal, esta é a de número 109. Tratou de um personagem que atuava nos bastidores da gestão municipal, um sujeito oculto, em elipse na gestão, que teve sua importância, seu valor, deu sua contribuição e quase sai de cena sem ter seus méritos devidamente reconhecidos. Ainda bem que pude reparar este erro e no dia 6 de outubro de 2012, prestei-lhe esta singela e sincera homenagem.

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O assessor Xeleléu

Charge de Ivan Cabral só pra ilustrar a postagem.

Charge de Ivan Cabral só pra ilustrar a postagem.

Com o fim de mais um mandato para prefeito e a despedida precoce (ou abandono puro e simples) daqueles que nunca atenderam ao chamado do povo em gerir a cidade, é chegado o momento de renovar a esperança em mais um pleito, oportunidade que bate à nossa porta a cada 4 anos. Porém, percebo que um personagem em especial corria o risco de ver o seu trabalho interrompido sem receber uma homenagem sequer. Refiro-me a alguém que, desde o período eleitoral de 2008, já atuava decisivamente para o “sucesso” das ações verdes. A coluna de hoje serve para reparar essa injustiça cometida por uma omissão imperdoável da imprensa. Aliás, só posso atribuir tal indiferença à inveja que os jornalistas devem sentir deste profissional abnegado e bem sucedido, que alcançou a enorme projeção tão sonhada por tantos deles.

Há quem afirme, do alto de sua arrogância repleta de preconceitos, que muitos dos acontecimentos de Natal em tempos recentes vão entrar para os anais de nossa história como episódios de uma tragicomédia que não serviria nem para passar no folhetim das 6. Comporiam um enredo mais tosco que aquela novela que misturava androides e dinossauros no interior do Brasil. Tais declarações, certamente fazem alusão a alguns assuntos que tratei aqui como “A secretaria da gambiarra”, ou mesmo a personagens cotidianos como a “Incrível mulher que asfaltou vidas” e o “Assessor segura-bolsa”. Porém, faltava ainda falarmos de um protagonista desprezado, um ser oculto em toda essa algazarra, que vive de sussurros e cochichos em meio à histeria e barulheira dos assistentes mais histriônicos e ridículos vereadores da base de apoio, que tenta manter a discrição e simular alguma dignidade ante a balbúrdia geral que se tornou a administração pública municipal em Natal.

Este personagem de si mesmo, até porque opta por um expediente típico dos humildes: o anonimato (os maldosos dizem tratar-se de covardia), demonstra especial predileção pelo jogo de bastidores, os negócios que não vêm a público, mas que acabam caindo no conhecimento de um e de outro e, com algum esforço e curiosidade, vindo falar aos ouvidos deste colunista verborrágico que clama pela vossa companhia todos os sábados.

Sua trajetória de êxitos começou quando ele criou uma página política que se pautava pelo humor (na falta de uma definição melhor). Segundo um leitor do veículo, “o blogueiro fazia uso de piadas infames, de péssimo gosto e completamente desprovidas de graça, tentando ridicularizar figuras da política estadual”. O internauta, cuja identidade será preservada, avaliou que o titular do endereço eletrônico pecava pela falta de habilidade cômica e também pela redundância, uma vez que os políticos que ele tentava expor ao ridículo já cumpriam esse papel sozinhos. O curioso do sítio era que os aliados de Micarla de Sousa, além dela própria, costumavam ser poupados das pilhérias do aloprado blogueiro desconhecido. O endereço eletrônico que se perdeu no tempo era conhecido como Blogue do Xeleléu e, nas eleições de 2008, foi a principal fonte de informação de muitos eleitores da classe mediana e da elite natalense.

Descobri que o “Xeleléu News” foi retirado do ar depois de ter sido denunciado e investigado pela Polícia Federal. Vejam vocês, mesmo os personagens inanimados têm medo, uma vez que a punição cairia sobre os criadores e não sobre a criatura. Procurei saber algo sobre o blogueiro misterioso para, quem sabe, desvendar sua verdadeira identidade. Consegui diversos relatos de gente que jura de pés juntos saber quem se escondia por trás da URL do Xeleléu. Como não possuo provas de que elas estejam corretas, descrevo algumas atitudes do suspeito para, quem sabe, vocês poderem saber de quem se trata e prestarem homenagens vocês também.

Um jornalista me disse que Xeleléu é um dos assessores mais fieis da atual prefeita, havendo resistido à constante evasão de secretários e assessores, contrariando a tese de que os ratos fogem do navio diante das primeiras dificuldades. Alguns afundam com a embarcação desde que tenham assegurado uma boa reserva de queijo. Um ex-fornecedor da Prefeitura me disse que chegou a trocar correspondências eletrônicas com ele. “Escreve tudo em caixa alta e com muitos erros de português. Não sei onde ele comprou aquele diploma de jornalismo. Só não é pior que a fixação que a própria prefeita tem pelo gerundismo!”, disse-me o rapaz, bastante exaltado.

Outro que me fez relatos sobre o blogueiro, um publicitário conhecido meu, afirmou que, nas reuniões, ele gosta de botar os pés sobre a mesa e que proibia o uso da palavra “problema” no material publicitário da prefeitura. “Não existe problema pra gente, só solução!” Pedi para este comunicólogo dar uma definição sucinta do assessor. Respondeu que o sujeito parece um “cafajeste de novela”. Também ouvi de um profissional de rádio que trabalhou para o assessor que ele não gosta de ser cobrado. “Uma vez, pedi para me pagarem um serviço que eu havia executado havia mais de 2 anos e ele mandou não me pagar pelo atrevimento de eu ter ido cobrar.”

Uma fonte ilustre a que tive acesso, contou-me que uma das maiores frustrações do Xeleléu foi quando uma política famosa recusou-se a cumprimentá-lo por ter sido informado que ele era o autor da página polêmica. Esta mesma pessoa disse também que ele é um dos poucos natalenses que acredita no sucesso da Copa do Mundo por aqui. Até porque, ele tem ótimo$ motivo$ para acreditar. Também soube que, entre várias manias estranhas, estão a confiança cega em juízes de futebol baianos (Eu, hein? Cada louco com sua mania.) e a compra de bens como imóveis e automóveis com valores muito superiores ao seu ordenado.

Amanhã, no dia 7 de outubro, será selado o fim de uma era. O Assessor Xeleléu deixará de existir. Seguirá seu caminho, atuando no mercado privado ou prestando vantajosas “consultorias”. Talvez aceite, inclusive, começar tudo de novo, criando uma página anônima com o fim de esculhambar conterrâneos e, mais uma vez, ascender na carreira da forma como melhor sabe fazer: rastejando.

Aqui, fica meu registro de sua partida e minha sincera homenagem.

Lançamento da JOVENS ESCRIBAS no Rio de Janeiro – 25.03.2014

março 24, 2014

Lanç RJ - Fialho

Amanhã (terça – 25 de março de 2014), a Editora Jovens Escribas vai lançar os livros de 3 autores no Rio de Janeiro. São Eles, Leonardo Panço, Nei Leandro de Castro e Carlos Fialho. O evento faz parte da nossa turnê pelo sudeste em comemoração aos 10 anos de atividades empreendidas por nossa editora e pelo coletivo de autores que arregimentamos em torno dela.

Após um bem sucedido evento em BH no sábado, agora é a vez dos leitores cariocas receberem nossa visita.

Serão levados ao Rio, os livros “Esporro” e “Caras dessa idade já não leem manuais” de Leonardo Panço; “As Dunas Vermelhas”, “Pássaro sem sono”, “O Dia das Moscas” e “50 anos de poesia” de Nei Leandro de Castro; “As maiores mentiras do verão” e “Não basta ser Playboy. Tem que ser DJ!” de Carlos Fialho.

Quem estiver no Rio nesta terça, dá uma passada lá no bar e restaurante DESACATO, no Leblon. Vários escritores e amigos da editora residentes na cidade estarão lá pra prestigiar.

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E quem quiser aproveitar, poderá adquirir os vários livros lançados e vendidos na noite por preços promocionais.

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Lançamento da JOVENS ESCRIBAS em Belo Horizonte – 22.03.2014

março 21, 2014

Atenção, BH! Neste sábado, haverá lançamento duplo da EDITORA JOVENS ESCRIBAS na cidade. Sérgio Fantini e Carlos Fialho estarão juntos lançando, respectivamente, “A ponto de explodir” e “Não basta ser playboy. Tem que ser DJ!”. O público leitor poderá ainda, encontrar todos os livros já publicados pela editora de Fantini, Fialho e de Ana Elisa Ribeiro, autora convidada a conduzir um papo e que também já lançou pela JE.

Apareçam, se forem de BH, ou divulguem para amigos de lá caso conheçam pessoas que gostem de literatura e residam na capital mineira.

O lançamento faz parte da primeira etapa da #JovensEscribasWorldTour que levará autores da editora para lançamentos em diversos estados brasileiros. Ainda neste mês de março, além de BH, eles estarão  no Rio e em São Paulo.

Lanç BH - Fialho Lanç BH - Fantini

Cartaz Promocional - BH - Reduzido

Coluna do Novo Jornal – 108– 29.09.2012 – Jonas Camarão

março 20, 2014

Em 2012, li um romance muito legal: “Cidade dos Reis” (FJA-2012) de Carlão de Souza. Gostei tanto que escrevi a respeito e publiquei em minha coluna no Novo Jornal.

Boa leitura! E, se puderem, leiam também o livro que é bom à beça.

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Jonas Camarão

Carlão de Souza. Foto: Elisa Elsie

Carlão de Souza. Foto: Elisa Elsie

Por que somos do jeito que somos? Qual a razão de nos comportarmos desta ou daquela forma? Qual a explicação para reagirmos assim ou assado diante das mais variadas situações cotidianas que a vida nos prepara? Quando um de nós vai a um psicólogo em busca de respostas, as perguntas sobre nosso passado são pequenas pistas que o analista dispõe sobre a mesa do inconsciente para desvendar o grande mistério que vem a ser a nossa vida. O que ocorreu conosco durante o nosso crescimento, e mesmo em tempos recentes, pode explicar muito sobre nós. Os traumas, as escolhas, as experiências, influências mil que compõem a complexa personagem de cada um, protagonistas que somos de nossas infinitas narrativas em primeira pessoa.

Lendo o mais recente romance de Carlos de Souza, “Cidade dos Reis” (FJA-2012), concluí que este raciocínio poder ser aplicado também a uma cidade. Tudo porque Carlão resolveu nos contar a sua versão da história de Natal nos últimos 100 anos. Começando pelo 1º dia do século passado e concluindo a história na derradeira folha do calendário de 2000, a vida de Natal e mesmo do RN é revelada aos felizes leitores desta obra altamente recomendável a todos que tenham o mínimo de curiosidade a respeito do que aconteceu nesta metrópole com alma de província ou quer encontrar respostas de como viemos a ser como somos.

Jonas Camarão nasceu em 1º de janeiro de 1901. Era descendente direto do herói duvidoso Felipe Camarão, homem de caráter questionável a ilustrar os livros de história do nosso Estado. Jonas viveu exatamente um século e, como nunca saiu do RN, a não ser para umas tantas e rápidas idas a Recife a fim de fechar negócios, acompanhou de perto todos os acontecimentos políticos, sociais, econômicos e as transformações ocorridas em Natal e arredores. Viu as mudanças de governos, a evolução nos hábitos e costumes, a chegada do automóvel, as alterações urbanas da cidade (incluindo o plano Palumbo), a vinda (e depois partida) dos americanos entre tantos outros acontecimentos relevantes.

O protagonista, em que pese a origem humilde, devido ao grande esforço dos pais, estudou no Atheneu, acabando por se tornar um comerciante de sucesso. Ou, como ele próprio dizia: “Comerciante não. Negociante!” Tornou-se um típico cidadão da capital potiguar. Pacato, de índole dócil e conservador. Tanto que lhe causava profunda contrariedade a maneira como os empresários locais faziam questão de derrubar edificações clássicas para construir caixas horrendas em seus lugares, não importando a relevância do que se destruía. Sobre isso, o narrador declara: “Uma cidade se diminui quando elimina seu passado. Natal está sempre sujeita a sucumbir a qualquer ilusão de modernidade. Os poderosos, verdadeiros donos desta cidade, estão sempre dispostos a destruir qualquer bela construção para erguer algo novo no lugar. É uma cidade sem memória.”

Jonas também nunca se conformou com determinados traços flagrantes de miudeza da alma que faziam o povo potiguar se comportar de forma a voltar-se uns contra os outros. Indignava-se sobretudo com a maledicência do povo e a mania de maltratar os conterrâneos, principalmente os que ganham algum destaque, diminuindo seus méritos e desvalorizando seu trabalho, comportamento típico de gente invejosa, cujas janelas permanecem sempre abertas para a vida alheia. Em dado trecho, referindo-se a grandes artistas que não obtiveram o reconhecimento devido por essas plagas, o texto diz: “Aqui ninguém suporta o sucesso alheio. Esta é a cidade da inveja e do olho gordo. Se o vizinho comprar algum objeto de desejo, se alguém adquirir algo grandioso, se alguém se destacar, passa a ser motivo de ódio dos demais. O ditado diz que ninguém é profeta em sua terra. Isto, em Natal, ganha proporções desérticas… É uma cidade amordaçada. Seus filhos mais ilustres são como profetas que pregam no deserto para gafanhotos indiferentes.”

O próprio personagem principal se viu como vítima de fofocas: “Jonas percebia o olhar jocoso por trás das palavras falsamente respeitosas que lhe dirigiam. Fingia não dar atenção, mas por dentro estava nascendo um rancor tão refinado que poucos iriam perceber o quanto iria odiar as pessoas da sua cidade nos anos vindouros.”

Apesar de ter vividos os dissabores e decepções comuns à grande maioria de nós, Jonas prosperou como comerciante, desfrutando de uma vida plena e confortável. Tinha a sorte dos predestinados. Tudo lhe favorecia nos momentos em que mais precisava. Mesmo quando sofria um forte revés, logo o destino lhe presenteava com um golpe de sorte. Graças a isso, não passou grandes apertos com dinheiro. Os maiores sobressaltos vividos por ele se relacionavam ao contexto histórico vivido, fosse a 2ª Guerra Mundial ou a estúpida Ditadura Militar. Tanto que o narrador opta por eliminar a figura de um vilão central, antagonista do “herói”. Um dos personagens que apresentou potencial para ser esta encarnação do mal, que temperaria a trama e criaria conflito suficiente para dar uma maior complexidade à ficção, não se desenvolve para se converter neste malfeitor clássico. Esse expediente (de condicionar as ações do personagem a fatores externos) permitiu ao narrador dar maior enfoque à história de Natal sem maiores distrações.

Mesmo sendo um homem à moda antiga, como a grande maioria da população de Natal, o negociante, diferentemente de nossa elite empresarial e política, formada basicamente por ignorantes endinheirados, amava a literatura e devotava enorme admiração por Câmara Cascudo. Esta é outra tacada certeira do autor. Por meio dessa preferência do protagonista, o autor nos conduz pelas vidas e obras de Auta de Souza, Henrique Castriciano, Zila Mamede e Cascudo, entre outros, citando os livros lançados com o passar dos anos. Os lançamentos de Cascudo, por exemplo, são introduzidos na história com muita naturalidade, entremeando a narrativa marcada por sucessões de governos e a passagem do tempo para Jonas. Com isso, os leitores têm a oportunidade de compartilhar do conhecimento de Carlão acerca de nossos grandes autores.

Tal apreço de Jonas Camarão pela vida intelectual contrasta com muitos dos seus colegas empresários locais, tão indiferentes a todos os assuntos que não se relacionem a dinheiro. Sobre isso, o narrador se questiona: “Como seria a vida de alguém assim, cuja única diversão é ganhar dinheiro? Que tipo de vazio poderia ser preenchido apenas com o ato mecânico de faturar mais? Que almas abrigam espíritos tão embrutecidos?” Em certo momento, também relata um comportamento frequente entre a elite natalense: “Enquanto se é rico, todas as atenções lhe são prestadas. Quando se é pobre, todos viram as costas. Você vale o que possui.” A conclusão a que chega é que, em face à forma desumana com que os empregadores tratam seus funcionários, “Aqui, a revolução industrial chegou com atraso”.

O livro de Carlos de Souza é indispensável a todos aqueles que pretendem aprender sobre Natal, o Rio Grande do Norte e, por extensão, sobre si próprios. Recomendo. 

Marvel Comics: a história de quem fez história contando histórias

março 19, 2014

Marvel

Adquira já o seu nas melhores casas do ramo.

Li mês passado o livro “Marvel Comics – A História Secreta” do jornalista americano Sean Howe. Um livraço que conta em detalhes toda a trajetória da editora de quadrinhos mais popular do mundo desde a sua fundação até o estrondoso sucesso do Marvel Studios. Em muitos momentos, fã devoto que sou, senti-me como um religioso ao descobrir as (muitas) faltas daqueles que comandam os destinos de sua fé.

A Marvel foi desde sempre o lar de algumas das mentes mais brilhantes e produtivas de suas gerações, porém também viveu muitas controvérsias, foi palco de disputas agressivas e deu lugar a atitudes bastante questionáveis (para dizer o mínimo). Tantos foram os problemas enfrentados que é supreendente que tenha chegado tão longe e transformado suas histórias complexas e entrelaçadas (o chamado “Universo Marvel”) em um fenômeno de popularidade de escala mundial. Por outro lado, tantas (e acreditem: foram muitas) trapalhadas explicam o porquê de a empresa ter chegado tão tardiamente aos cinemas de maneira satisfatória.

O livro conta como empresários inescrupulosos que não davam a mínima para  quadrinhos, os personagens, a coerência criativa das histórias e, sobretudo, para os seus criadores contratados, comandaram a empresa durante décadas sucessivas, quase arruinando para sempre esta indústria cultural que ganhou dos fãs a carinhosa alcunha de “Casa das Ideias”. Também houve inúmeros editores egocêntricos, diretores arrogantes, artistas instáveis e brigas, muitas brigas. Nem o cânone Stan Lee escapa de graves acusações feitas por alguns dos seus principais parceiros (Jack Kirby e Steve Ditko), que criaram junto com ele heróis icônicos do imaginário pop atual.

Em meio a todos esses conflitos, nomes que fizeram (e fazem) a história das HQs pipocam na narrativa, contribuindo com toda a riqueza que fez da Marvel o que ela é hoje no inconsciente coletivo do mundo do entretenimento: John Byrne, Frank Miller, Chris Claremond, Jack (King) Kirby, Steve Ditko e, claro, Stan Lee.

Recomendo fortemente a leitura. Vale cada página, cada nota de rodapé. Destaque ainda para a tradução impecável do jornalista Érico Assis.